Programado - Short Text
Sua carcaça brilhava sob o sol. O som de bombas e metralhadoras percorriam pelos seus canais auditivos enquanto se arrastava sem suas pernas, que foram destroçadas por um panzer.
A areia fofa e molhada dificultava seu movimento, as engrenagens rodavam a todo vapor, mas a energia de seu sistema estava no fim. Ao seu lado, um companheiro de lote repousava com seus olhos apagados.
Ele sabia que no fim do dia seriam levados de volta à fábrica para serem reconstruídos e, no dia seguinte, outra vez lançados no fronte de uma guerra que não era sua.
A unidade de combate pensou na dor que carrega todos os dias. Ele se move um pouco mais. Apesar de não ter terminações nervosas que lhe permitam sentir alguma dor, ele sente a brutalidade de ter seus fios expostos, enquanto um rastro de fluido escorre pela areia, deixando para o mar seu sangue artificial, preto e viscoso.
"Estar consciente é uma maldição", foi seu último pensamento antes que uma mina o explodisse em milhares de peças. Um outro dia o guardava.