Operação Hochburg
[História relacionada: "A alavancagem"]
A confiança no sucesso da expedição lunar do Großes Deutsches Reich era tão grande, que sugerir um plano de contingência foi recebido com sobrolhos erguidos pelo comandante da Operação Morgenstern.
- Como assim... se não der certo? Mas claro que vai dar certo! - Vociferou o general Paulus Cossmann, chefe da missão, quando o engenheiro Albwin Hutto chegou de Berlim para expor sua ideia, meses antes do lançamento do RR "Eroberer". Felizmente, Hutto possuía muito prestígio junto ao OKH, o Alto Comando das Forças Armadas nazistas, como membro da Expedição Antártica Alemã de 1938, que recuperara e estudara em primeira mão os chamados "Diamantes da Antártida" - a própria razão da existência do programa lunar do Reich.
- Sei que temos a melhor equipe e os melhores equipamentos, - arguiu Hutto, tentando acalmar seu interlocutor, enquanto se deslocavam num carro oficial do aeroporto militar de Peenemünde para o Centro de Pesquisas do Exército - mas mesmo com o Reino Unido fora da competição, ainda temos a União Soviética como concorrente... e praticamente nada sabemos sobre o que estão desenvolvendo.
Cossmann ficou em silêncio por alguns instantes, cenho franzido.
- Sabemos que os soviéticos possuem um centro de lançamento no Cazaquistão... mas, de fato, evidência direta do seu grau de desenvolvimento é escasso - admitiu.
- A União Soviética começou o trabalho de pesquisa com os diamantes depois de nós e do Reino Unido, - prosseguiu Hutto, enquanto o Opel Rekord da Wehrmacht entrava no estacionamento do alojamento do pessoal civil do Centro de Pesquisas - mas ouvi dizer que queimaram etapas com informações técnicas dos valaquianos... algo que nem nós, nem os ingleses recebemos.
- Acredita então que os soviéticos possam estar no mesmo nível tecnológico que o nosso? - Inquiriu o general, enquanto o motorista descia e abria a porta do veículo para que ele descesse.
- Não, general - replicou Hutto, acompanhando seu interlocutor. - Meu temor é que já tenham nos ultrapassado.
* * *
Meses depois, quando a telemetria em Peenemünde revelou que a RR "Eroberer" havia explodido no espaço, após um malfadado encontro com a cosmonave soviética "Krasnoye Nebo", a primeira reação foi de consternação. Mas rapidamente, o OKH colocou em prontidão todo o seu efetivo: a ordem era impedir a todo custo que a "Krasnoye Nebo" pousasse com sua presumida carga lunar, mesmo que isso implicasse ter que romper o Armistício e invadir o território soviético. As melhores apostas, todavia, estavam por conta dos mísseis balísticos Himmelsmeister, que teoricamente poderiam derrubar a "Krasnoye Nebo" pouco antes de sua reentrada na atmosfera terrestre. Como nenhuma ideia podia ser descartada na iminência da pior catástrofe militar a ser experimentada pelo Großes Deutsches Reich, o OKH deu sinal verde inclusive para a iniciativa de Albwin Hutto, intitulada Operação Hochburg. Hutto já estava com sua equipe e uma companhia SS no acampamento do Oásis Schirmacher, Nova Suábia, Antártida, aguardando apenas pela autorização de Berlim para avançar; quando esta chegou, reuniu-se imediatamente com o comandante SS, capitão Hannes Justin Gaertner.
- Temos as coordenadas aproximadas, graças aos voos de reconhecimento do então tenente SS Ludwig Baumer... acredita que sua equipe poderá saltar em segurança e resguardar o perímetro?
Gaertner examinou os mapas, que mostravam em detalhe a cordilheira Shackleton e o mar de Weddell. Colocou um dedo enluvado sobre um ponto marcado com "X" vermelho no mapa.
- Foi aqui que o avião dele caiu?
- Precisamente - acedeu Hutto. - É nossa melhor aposta para a entrada dos domínios subterrâneos da entidade denominada Samaria. A partir do momento em que determinarem a localização, eu e minha equipe desceremos com o segundo Ju 52, na planície próxima, e montaremos acampamento.
- Dito assim, parece fácil - ponderou o capitão, mão no queixo. - Mas talvez seja como procurar uma agulha no palheiro...
- Temos que tentar... pelo Reich - admoestou-o Hutto.
- Sempre é pelo Reich - retrucou o capitão. E erguendo o braço direito na saudação nazista:
- Heil Hitler!
- Heil Hitler! - Replicou o engenheiro, emulando o gesto.
Um outro veterano da expedição de 1938, o cartógrafo Michael Waldmüller, aproximou-se de Hutto tão logo o oficial SS deixou o escritório do acampamento, rumo à pista de pouso improvisada no gelo.
- Ele não sabe, não é? - Indagou.
- Sobre a proibição? Não, não sabe - confirmou Hutto, expressão pensativa.
- O capitão Gaertner e seus homens podem estar indo para a morte certa, Albwin - comentou Waldmüller, mãos apoiadas na mesa sobre a qual mapas da Antártida haviam sido espalhados.
Hutto lançou-lhe um olhar cansado.
- Sinto que não vamos conseguir derrubar a nave soviética, Michael. Se pousarem em segurança, será fim de jogo, para nós e para o Reich. Nesse contexto, o que importam as vidas de duas dúzias de homens?
Waldmüller inclinou o corpo para a frente, encarando Hutto.
- Albwin, eles deveriam ao menos ser avisados de que estamos proibidos de voltar lá, sob qualquer hipótese. E de que em caso de transgressão, a punição seria a morte.
- Estamos ficando sem opções, Michael - insistiu o engenheiro. - Prefiro acreditar que teremos uma chance, por menor que seja, de encontrarmos respostas invadindo os domínios de Samaria... ou morrer tentando.
Michael relaxou a posição.
- Está bem, Albwin; vou reunir o nosso pessoal. Algo me diz que Samaria irá estender um tapete vermelho para que entremos... o problema será sair depois.
- Se ela nos receber - afirmou Hutto com convicção - poderá estar disposta a ouvir nossos argumentos.
- Assim espero - concluiu Waldmüller, saindo porta afora para a manhã gelada do Oásis Schirmacher.
[30-03-2019]