Resgate impossível
Quando o cruzador "Yorixiriamori" entrou em órbita de Palka-IV, o tenente Shimada sacudiu negativamente a cabeça, ao voltar-se para o capitão Ferreira.
- Não vai dar para evacuar todo o planeta, capitão. Pelas últimas leituras, os palkanos são hoje mais de 100 milhões de habitantes...
- Em casos assim, a Frota Estelar costuma recomendar extrair um segmento representativo da sociedade local, para tentar reconstruí-la posteriormente - sugeriu a Chefe Méndez.
De pé em frente à grande tela de observação frontal da ponte de comando, Ferreira ouviu seus dois oficiais graduados em silêncio. Finalmente, manifestou-se.
- Em qualquer das duas hipóteses, estaríamos trabalhando com uma perda de vidas superior à 99%, correto?
- Sim, capitão - confirmou Shimada.
- Quanto tempo vai durar o impacto direto da explosão da supernova? - Indagou Ferreira, mãos atrás das costas, expressão absorta.
- Algumas horas... - avaliou a Chefe Méndez.
- Menos do que uma rotação de Palka-IV?
- Cerca de um terço de uma rotação do planeta, capitão - confirmou a Chefe Méndez. - Mas será suficiente para destruir a camada de ozônio planetária e submeter a vida na superfície, até alguns metros de profundidade sob as águas, à uma dose letal de radiação gama.
- Estamos falando do impacto direto? Este seria responsável pela maior parte das mortes? - Inquiriu Ferreira.
- Certamente - assegurou a Chefe Méndez. - Embora com os efeitos sobre a biosfera, os palkanos estejam sujeitos à fome e doenças nos anos seguintes.
- Mas quanto a isto, nós temos como ajudar - ponderou Ferreira. - A Frota Estelar pode enviar carregamentos de víveres e medicamentos e socorrer os sobreviventes... mas teremos que fazer com que estes sejam em um número aceitável.
Méndez e Shimada o encararam surpresos.
- Mas como fazer isso sem evacuar o planeta, capitão? Simplesmente não temos astronaves bastantes para remover 100 milhões de pessoas!
- Vamos mantê-las aqui mesmo - retrucou Ferreira - e usar o próprio planeta como escudo.
O plano divisado por Ferreira exigiu um intenso trabalho logístico por parte das autoridades locais, mas por fim, e graças ao tempo que sabiam que possuíam antes da explosão em supernova de uma estrela próxima, foi possível realocar toda a população do planeta em um único continente, do lado oposto ao que seria atingido pela rajada letal de raios gama.
Indagado posteriormente sobre como chegara à esta ideia, Ferreira redarguiu:
- Um planeta é um tipo de astronave, não é? Lembrei-me de que já tínhamos a maior delas, bem abaixo de nós... nenhuma outra seria necessária.
- [25-03-2019]