Arizona
Eu corro com minha Harley-Davidson 883 pensando no que vira na última cidade. Gosto do vento que atravessa o Vale da Caveira, é um vento selvagem, impossível de ser domesticado assim como eu. A velha rodovia que corta o vale está cheia de bandidos, buracos e animais selvagens, atravessá-la é um perigo para qualquer um. Soube que uma caravana foi atacada há umas semanas. Homens e mulheres foram empalados, ainda é possível sentir o cheiro de podre que seus corpos mortos exalam.
A noite chega tranquilamente, primeiro pintando o céu com suas cores de crepúsculo, tons de laranja misturados ao roxo. Algumas estrelas já brilham sobre o domo celeste e o frio da noite sobrepuja o vento quente do dia. Meu destino é diferente dos muitos que vão em direção aos refúgios nas montanhas do Norte ou das cidades habitadas, estou à procura de um homem que pode reverter o que aconteceu com o mundo, essa é a minha missão.
Há um ano eu recebi a missão da Organização. Meu alvo é um engenheiro florestal, ele é o único capaz de consertar as coisas. Apesar de ser a melhor rastreadora, procurar esse cara se tornou um desafio pessoal. Paro a moto nas ruínas de um posto de gasolina, carrego minha mochila de suprimentos e depois estendo meu saco de dormir desbotado no chão, que levanta um pouco de poeira. Sento e tiro da mochila o resto de gasolina, arrumo algum material que se possa queimar e acendo uma fogueira. O crepitar das chamas me dá uma sensação tranquila, sei que os animais da noite não atacarão, o verdadeiro problema são os homens do vale.
A noite corre tranquila, os coiotes uivam em um morro próximo, como minha carne de caça assada, um gigantesco rato do mato que peguei quando atravessei o Pântano da Velha Baba. O bicho resistiu quando enfiei minha faca no seu pescoço, esguichava muito sangue, e na natureza a lei é clara, os fortes comem os mais fracos. A gordura da minha carne escorre pela minha boca, consegui temperar com um pouco de sal comprado de um velho mercador.
Depois de comer, eu tomo um pouco de água e deito. Com um braço sobre meu rosto, tento relaxar, esvaziar a mente. Perto de pegar no sono, ouço passos, um cara careca de aparência abatida aparece repentinamente. – Arizona, é você? Ele diz – Eu pulo para o lado e apanho minha Glock 9 mm, que aponto para a fuça do sujeito. – Quem é você?