TRANSFIGURAÇÃO

E eu inventei de abrir o portão e entrar.

Sentia-me cansada, deprimida e várias vezes encurtei o passo para descansar. Estranho, mas neste momento eu me sentia como ele: curto, mas com vontade de avançar, embora cansada.

O primeiro túmulo chegou.

Eu sei que havia flores, muitas flores.

Foi aí que eu percebi a variedade dessas flores que eu sempre enxergava, mas não via.

Havia cerquinhas que ladeavam o primeiro túmulo e depois todos os outros também.

Tinha também uma grande cruz no centro do pátio, cheio de ceras desmanchadas e pavios mortos também e já cremados. Eu já havia feito este caminho, sabia o existir dessas coisas, mas nunca havia sentido o existir dessas coisas.

Entrei e dei a forma da cruz que estava no centro do pátio ao meu rosto sem ligar para o sentido daquilo. Andei mais um pouco e comecei a contar, mentalmente, todos os túmulos e cantar uma música criada no instante. E logo cansei daquilo e do meu cansaço. E comecei a pensar que eu não podia estar ali só por estar, ou para descansar o meu cansaço, que pelo menos eu devia dizer alguma coisa para justificar a minha presença ali. Mas pior do que querer dizer alguma coisa é tentar dizer, sem sair qualquer coisa. Havia uma coisa que me roubava a fala e me desesperava porque eu queria sair e deixar uma palavra de presença e de fé.

Ah, Deus! Só eu sei a nulidade daquela situação.

E foi aí que aconteceu. Do fundo de um túmulo brotou uma espécie de mulher, esquartejada, sangrando e começou a se arrastar em minha direção. Arfava fundo, respiração cansada. Tinha olhos, mas não tinha olhar. Eu fiquei horrorizada e me petrifiquei. Nos encaramos, eu senti um frio, talvez do ar daquele instante, e ela se virou e começou a se arrastar e foi embora.

E eu fui atrás e me sepultei!!!

Ivonete Frasson
Enviado por Ivonete Frasson em 31/07/2018
Código do texto: T6405714
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