N-19 (Parte 8)
Depois que o dia amanheceu completamente, não custou muito tempo para avistarmos os muros da cidadela. Paramos a uma distancia segura. Precisávamos estabelecer contato com pessoas que nós nem tínhamos certeza que iriam querer nos recepcionar. A delicadeza da situação me fez tomar uma atitude. Resolvi avançar sozinho, com as mãos para o alto, a fim de mediar nossa entrada. Assim que me avistaram, alguns guardas se posicionaram e exigiram-me identificação. Expliquei o resumo da situação então os portões se abriram e saiu de lá um veiculo semelhante a um hovercraft, mas que não utilizava hélices para flutuar. Parecia ser movido a eletricidade ou magnetismo, pois embaixo da máquina circulavam pequenos raios e fagulhas elétricas. Homens fortemente armados mandaram que eu entrasse no veiculo para conduzi-los ate o ponto onde meus companheiros estavam aguardando. Chegando lá, eles foram direto ao assunto, solicitando que colocássemos o passageiro inusitado a bordo daquela máquina também inusitada e solicitando de forma ríspida que nós os acompanhássemos. Fomos até o interior dos muros. Naquele lugar existia uma pequena comunidade aparentemente auto-sustentável. Módulos habitacionais todos com painéis solares no teto, estufas com vegetais comestíveis, uma pequena estação de tratamento de água, etc. Parecia o Éden, o recomeço da civilização humana. Enquanto entrávamos, pessoas nos olhavam com ar de espanto, colocando suas crianças para dentro. Eram todos muito limpos e saudáveis, não pareciam pessoas que tiveram alguma dificuldade para sobreviver ao desastre. Seguíamos em direção a um complexo enorme e fortemente vigiado. Aquele ser que trouxemos foi levado às pressas a uma espécie de UTI e foram conectados a ele vários aparelhos. Depois disso os guardas nos conduziram a presença de um senhor careca, alto, que usava óculos e guarda-pó branco. Ele se identificou como o cientista responsável do núcleo de pesquisas, nos deu as boas vindas e começou a explicar do que se tratava aquela comunidade, já que manter alguns segredos já não era mais tão importante. Desde antes da catástrofe, as autoridades mundiais já tinham conhecimento da participação política e econômica de espécies extraterrestres na terra. Empresas de exploração mineral forneciam a matéria-prima para esses seres e eles retribuíam com conhecimento e suporte tecnológicos. Semicondutores, metamateriais, tudo o que era necessário para a construção de máquinas, eletrônicos, etc. Com o inicio da segunda guerra fria, a destruição do planeta era iminente e isso feria os interesses diplomáticos da coalizão interplanetária. Forças extraterrestres foram enviadas com o intuito de ajudar na resistência humana, criando pólos tecnológicos e preservando a vida humana dentro desses pólos para possibilitar a continuação da exploração mineral e o desenvolvimento de uma cura que restaurasse o equilíbrio natural do planeta. A cidadela era nada mais que um desses pólos. O ser que achamos na mata era tão extraterreno quanto qualquer equipamento que podíamos ver ali. Há algumas gerações eles vinham se adaptando as condições da terra, por isso ele sobreviveu tempo suficiente para o trazermos. As informações que ouvimos naquele lugar soavam como loucura. Mas, naqueles tempos a loucura regia a realidade como um maestro desafinado. Só nos perguntávamos como tudo aquilo poderia mudar nossas vidas. O poder da tecnologia que destrói, também poderia reconstruir? A nossa aposta parecia ser mais certa agora.