N-19 (Parte 6)
Todos os preparativos haviam sido checados. A equipe estava definida. Partimos um pouco antes do amanhecer, pois não tínhamos certeza da distancia em que se encontrava a cidadela para onde rumamos. Nos despedimos dos demais e com suprimentos e munições limitados, seguimos para a direção leste. Um mapa velho e rasgado era nosso único guia. Sabíamos apenas que teríamos que transpor um vale que ficava localizado no ultimo trecho antes do destino final. Não sabíamos como seria a recepção dos habitantes daquele lugar, nem se chegaríamos lá vivos. Nossa equipe, composta por quatro dos nossos, tinha a missão de levar o ser até um local que nem tínhamos certeza que existia. Era uma aposta alta, daquelas que só jogadores veteranos tinham coragem de fazer.
As primeiras duas horas de viagem foram tranqüilas, alguns buracos na pista tornaram o percurso lento por um tempo, mas nada que impedisse o avanço do automóvel. De repente avistamos dois homens correndo para dentro da mata e logo após, escutamos o som de pneus cantando e quando menos esperávamos tínhamos um carro na nossa cola. Iniciamos uma manobra evasiva, carregávamos algumas latas cheias de pregos cravados em pequenos pedaços de madeira que jogávamos na pista para dificultar a perseguição dos inimigos. Encaixamos a blindagem na parte traseira do Jeep, para evitar sermos alvejados por tiros. Não podíamos gastar muita munição, então o plano era atirar só quando o alvo fosse claro. No nosso arsenal também tínhamos alguns coquetéis molotov. Resolvi arremessar o primeiro, obtendo sucesso. Ao incendiar o carro, o motorista se assustou capotando e falhando assim, em nos capturar. Depois desse episódio, redobramos a atenção e seguimos com as armas empunhadas. A estrada nunca foi para os fracos, ainda mais nesses tempos caóticos. Nas nossas veias a presença de adrenalina já era algo cotidiano, mas cada vez que ela jorrava, parecia que arrancava um pedaço de nós.
Depois de rodarmos por mais algumas horas, chegamos a um trecho da rodovia que estava congestionado por veículos abandonados. Para o Jeep poder passar teríamos que quebrar um pedaço do guard rail antes e outro depois da parte interditada. O problema é que além do tempo que levaria para ser feito, o serviço iria provocar barulho indesejado por nós. Então decidimos voltar uns três quilômetros atrás, onde tínhamos avistado uma entrada, para pegar um acesso alternativo. Essa estrada vicinal era cercada por mata fechada, teríamos que ser cautelosos, pois apesar de ficarmos mais invisíveis, não teríamos uma visão vantajosa. Esse atalho tomou tempo precioso do trajeto, e incomodou um pouco a nossa ‘encomenda’, mas serviu para chegarmos a um posto mais avançado. O local onde estávamos agora era relativamente alto, então fizemos uma parada para observar o trecho a distancia. De um pico próximo a margem da estrada, pudemos observar o vale que teríamos que cruzar. Não era muito grande, mas talvez a estrada não estivesse em boas condições ou seria muito inclinada. Resolvemos seguir para aproveitar a luz da tarde, pois depois que escurecia tínhamos que parar, nos calar e torcer para que não escutassem nem nossa respiração. Um acampamento aberto era a pior situação para estarmos e se tivéssemos sorte, acharíamos ao menos uma barraca ou um celeiro pra nos abrigar. Quando chegamos ao vale, a tarde já era moribunda e a noite anunciava seu nascimento. Invadimos uma chácara abandonada e lá nos instalamos. Os grasnos das bestas já eram intensos e ecoavam até na nossa alma. Aquela noite seria mesmo longa.