ReEvolução Capítulo 1 : Poder Oculto
ReEvolução é uma história baseada na evolução natural do homem, mas numa pacata cidadezinha é descoberto uma caverna que possui uma bolha temporal onde a evolução cerebral é acelerada, mas o que aconteçe quando um ser humano consegue usar 100% de sua mente?
Começe a ler e descubra!!!
Talvez muitos não enxerguem lógica nesta história que irei tentar descrever na medida do possível com todos os fatos e no maior teor de veracidade possível, mas realmente aconteceu por que eu presenciei, eu estava lá, não aconteceu comigo, mas eu afirmo cada palavra que irei narrar a vocês.
Bem era verão e meus pais me deram de presente por ter passado na prova de admissão de Hogwarts uma passagem para a pequena cidade de Sherwood, para que eu passasse o verão junto com meus conhecidos que por lá moram, aquilo me deixou muito feliz, afinal seria revitalizante me encontrar com antigos conhecidos antes de começar a longa jornada de estudos na faculdade.
Não perdi muito tempo e tratei de arrumar minhas malas para partir na manhã seguinte, naquela noite tratei de avisar a todos os meus amigos de Sherwood, tamanha era minha felicidade que pouco dormi naquela noite em que a lua era cheia e todas as constelações eram facilmente notadas, muitos dizem que por muitas vezes temos sensações tão boas que por um meio de defesa natural ficamos desconfiados, e isso que aconteceu comigo, estava tudo dando muito certo, algo estava bom demais para ser verdade, mas era real, era tão real que perdi a conta de quantas vezes naquela noite me levantei, liguei a luz do pequeno abajur e abri a mala para conferir novamente a passagem, as roupas, e meus inseparáveis livros, aqueles que não canso de ler.
Após uma noite mal dormida as 5:00 todos já estavam de pé, aquela cena cotidiana, que sempre eu presenciava, naquela manhã tomava um outro ponto de vista, eu já estava com saudade de tudo aquilo, sem mesmo ter partido, já estava com saudade da doce voz de minha mãe me dando bom dia com aquele sorriso contagiante, capaz de quebrar qualquer mau humor, saudade também de meu incansável pai, sempre com seu jornal lendo atentamente cada matéria relacionada a negócios agrícolas, na qual foi o ramo que ele tomou... não, não era fazendeiro, mas sua empresa de exportação tinha como principal fonte de renda as exportações de produtos agrícolas, como o café e a soja, que ultimamente estavam em baixa, o que deixava meu pai cada vez mais com cabelos brancos.
Tudo aquilo, até hoje não sei explicar bem, mas me parecia muito distante, eu olhava tudo acontecendo de uma forma que eu não teria a oportunidade de presenciar novamente, minha mãe ela tem um dom... pelo menos considero aquilo um dom, ela percebe o seu verdadeiro sentimento, mesmo um estranho, ela consegue distinguir o humor da pessoa, se está triste, alegre, angustiado, e na estação de trem, foi o que aconteceu, meu pai havia me levado na estação de carro, minha mãe foi junto, despedi-me do meu pai que já estava atrasado ao trabalho, pouco falei com ele, na verdade toda nossa vida foi assim, eu amo muito meu pai, mas não sei explicar o que acontece entre nós, existe um certo afastamento que impede que nos falássemos abertamente... hum... quantas vezes na minha infância deixei de contar a ele o que acontecia na escola, o que acontecia comigo, creio que no dia em que ele partir vou ficar profundamente magoado por não ter dito uma única vez “eu ti amo pai”, não estou sendo nem um pouco exagerado, muitas coisas eu preferia contar a minha mãe do que a ele, e até hoje não sei ao certo o porque disso, então nossa despedida foi um abraço muito seco seguido de um aperto de mão e aqueles tradicionais conselhos de pai do tipo: “Comporte-se garoto...” e esta foi a última frase que ouvi dele, foi a ultima vez que escutei daquela voz trovejante e calejada pelo trabalho.
Minha mãe claro, ficou comigo e esperou pacientemente o trem chegar, enquanto isso, ficou conversando comigo, mas naquele dia eu pouco falava, era pra ser o dia mais feliz da minha vida, afinal no início do mês seguinte eu iria começar na escola ao qual eu tanto batalhei pra entrar, e em consideração a esse esforço fui presenteado com a oportunidade de passar uns dias com meus antigos amigos da cidade onde nasci... então por que eu estava daquele jeito? O que estava acontecendo? Mas o pior foi entender que minha querida mãe estava percebendo minha indecisão, minha dúvida, e quando o trem que iria com destino final para Sherwood, apontou ao longe, minha mãe caiu em prantos sobre meu peito, aquilo me deixou mais incógnito ainda, mas naquele momento, não pensei em mais nada, só me veio a grande vontade da qual não hesitei... a abracei muito forte, e ficamos ali daquele jeito, por mais de 5 minutos, sem nenhuma palavra, a única coisa que eu podia escutar era seus soluços, aquele silêncio foi quebrado quando escutei a ultima chamada para o trem com destino a Sherwood, estava com os pensamentos tão longe ali com minha mãe que não havia nem percebido o trem se aproximar, a porta já estava aberta, de certa forma me esperando, peguei minha mala, afastei com a outra mão a minha mãe, pois queria que ela olhasse nos meus olhos, fiquei admirando-a, aqueles cabelos lisos que corriam soltos até os ombros, castanhos muito brilhosos, assim como seus expressivos olhos, que estavam encharcados de lágrimas, levei a mão até o seu rosto respirei bem fundo e com um ar de despedida falei: “Até mais mãe...”
Entrei no trem e me conti pra não mais olhar para trás, pois se eu fizesse isso eu a viria chorando, e não me contentaria e choraria também, agora eu tinha que seguir em frente, afinal, era apenas 3 semanas, porém aquele “Até mais mãe...” eu ainda não estava conseguindo digerir, não sei dizer ao certo, mas alguma coisa iria acontecer e que eu não veria mas os meus pais, algo muito forte estava para acontecer, mas seja o que for eu estava preparado, a educação que recebi dos meus pais me fizeram ser o homem que hoje sou, mesmo com aquele jeitão, meu pai me ensinou muito, talvez foi com ele que aprendi a encarar friamente os fatos, mas graças a minha mãe não me tornei um ser insensível, realmente meus pais foram excelentes, não querendo me gabar, pois nunca fui disso, eu sou um filho exemplar, nunca dei problemas graves a eles, sempre os obedeci, pois sabia que eles só queriam meu bem... a viagem até Sherwood é longa, terei bastante tempo para pensar comigo mesmo, mas isso não foi possível... durante toda minha adolescência, sempre fui muito solitário, bem, na verdade ainda sou um jovem de apenas 20 anos, e estou falando agora como um velho, mas devido aos estudos nunca tive muito tempo para o amor, e não sou daqueles de acreditar em amor a primeira vista, mas naquela viagem aconteceu algo inesperado em mim, que posso até ousar dizer que foi admiração a primeira vista, nunca fui expert no assunto, mas ela me chamou a atenção, não pela aparência, era de estatura normal, lá pelos 1,75m, seus cabelos estavam presos, mas notava-se que eram lisos, seus traços eram muito orientais, seu rosto era fino, como um traço estilizado de um artista que busca algo simples, mas que chame a atenção, e foi o que aconteceu, a cena que presenciei me chamou muito a atenção, vê-la sentando na poltrona com tanta delicadeza, e subitamente cruzando os antebraços em cima de um papel, começou a chorar, seu choro só podia ser ouvido por quem realmente estivesse prestando muita atenção, e este alguém era eu, o trem já estava chegando na estação de WhiteLand, seria a próxima parada, o vagão estava um pouco vazio, então lá estava ela, sozinha naquela mesa, aos prantos, e eu ali admirado com a cena, agora eu não entendia mais nada, afinal eu não estava com pena dela, nunca fui de cultivar este sentimento, mas eu me sentia no dever de ajuda-la, seja lá o que fosse, então eu fui, meio que indeciso mas fui, me aproximei, e ela não tinha me notado, estava muito ocupada derramando suas lágrimas sabe se lá o motivo, então eu coloquei minha mão sobre a mão dela que estava apertando a carta, quando ela levantou a cabeça com os olhos embebidos em lágrimas, e com toda a fisionomia voltada para tristeza, eu a encarei, foi um momento daqueles que você faz o que acha que é certo, então olhei definitivamente pra ela e falei: “Por favor senhorita, não chore, creio que o motivo de suas lágrimas sejam deveras importante, no entanto permita que eu possa ajudar na medida do possível”... Realmente a partir dali não sei o que aconteceu, mas cada ação que eu fazia, parecia marcada, tudo estava dando certo, mas estava dando certo com que objetivo? Eu não estava dando em cima dela, mas estava criando um laço de amizade que estava se tornando muito intenso, desculpem, estou descrevendo os fatos muito rápido, vamos na ordem correta... Ela enxugou as lágrimas, mas eu impedi que continuasse a manchar a manga da camisa, segurei seu braço, e peguei no bolso um lenço, ela agradeceu, e pediu que eu sentasse, a partir dali eu entrei na vida dela, da mesma forma com que ela entrou na minha...
O trem iria fazer uma parada de 20 minutos da estação de WhiteLand, então a convidei pra continuarmos a conversa lá fora, sentamos numa lanchonete e pedi dois sorvetes, a conversa rendeu muito, o motivo daquela choro repentino dela era algo realmente triste, seus pais haviam se separado, ela estava indo de encontro a sua mãe, que mora na cidade de Firben, próxima a grande metrópole de Sealter, que era uma estação antes da minha, ela me contou que na carta não estava dizendo o motivo da separação, e por isso que estava indo de encontro a sua mãe, segundo ela, a carta chegou no dia anterior a sua viagem, inicialmente aquela garota ia para um lugar chamado Ourobor, para terminar seus estudos, mas seus planos mudaram com aquela carta, eu percebi que não foi a 1ª vez que ela chorou quando estava no trem, a carta já estava bastante amassada, claro sinal de que já havia sido lida várias vezes, peguei a carta de sua mão, e a li, já devo ter mencionado que eu estava tendo umas ações muito estranhas, coisas que em meu estado natural eu não faria, esta foi uma delas, creio que foi um grande abuso de minha parte, tomar-lhe a carta, mas ao ler o que nela dizia, descobri que de alguma forma podia ajuda-la, eis o conteúdo da carta:
“Querida Júlia, espero que você esteja bem, mas sinto estragar sua felicidade, mesmo sabendo que você está para terminar seus estudos e finalmente se formar em arqueologia, que é o que você tanto sonhou, mas eu e seu pai, tivemos mais uma briga e desta vez aconteceu o que era inevitável, nos separamos, tudo já foi ajeitado, os papéis, assinaturas, advogados, tudo nos rigores da lei, sei que pra você isso é um golpe muito forte, mas entenda minha filha, foi melhor assim, estou na casa de minha mãe aqui na cidadezinha de Firben, e seu pai, provavelmente voltou para Sherwood, cuide-se minha filha, não quero que termine como eu e seu pai”.
Um abraço de sua mãe, Adele”
Ora a cidade de Sherwood tem menos de 500 habitantes, torna-se uma tarefa simples achar uma determinada pessoa, então eu poderia achar o pai dela e... afinal o que está acontecendo comigo, por que estou me preocupando com os problemas dela, a vida é dela, ela pode se virar sozinha... eu não sei o que passa pela minha mente, mas instintivamente eu me ofereci a procurar o pai dela, já que eu estava indo para a cidade de Sherwood, aquele sorriso que apareceu no rosto dela quando eu disse isso me trouxe uma felicidade muito grande, pela 1ª vez eu a via sorrindo, era maravilhoso, um sorriso, tão inocente, tão encantador, tão... ai, ai, ai... será que estou apaixonado? Mas eu mal a conheço? Será que eu... foi aí que ela me perguntou: “Mas por que está fazendo isso tudo por mim?” aquela pergunta que ela fez simplesmente quebrou qualquer linha de raciocínio que passava pela minha mente, e agora eu estava diante daquela questão, o que responder a ela, se nem eu sabia explicar, ai novamente aconteceu, eu falei de uma forma que em condições normais não ousaria: “Não me pergunte por qual motivo a ajudo, apenas aceite a minha sincera ajuda, pois nem eu sei por que estou lhe ajudando, a certas coisas que fazemos por simplesmente ter que fazer...” e ela: “Olha...” ela disse pegando a carta de minha mão e se levantando “Se está fazendo isso tudo por que ficou com pena de mim, fique saben...” e novamente eu agi de forma “esquisita” ao meu modo de ver: “Pena? Eu não considero o que estou fazendo de “pena”, estou ajudando uma pessoa que se tornou muito especial pra mim, só isso...”
Que coisa absurda, eu já estava começando a me acostumar com aquele novo “eu” mas depois daquela fala, eu simplesmente voltei a ser o que era antes, e reparei que ela ficou com as maçãs do rosto avermelhadas, e virou o rosto como se me evitasse, eu engoli a seco, então tive que agir rápido, pois se não eu ia pular dentro da lata de lixo que estava atrás de mim, pra me esconder de tamanha vergonha que fiquei, chamei o garçom, paguei a conta, e meio que sem jeito estendi o braço convidando-a a voltar ao trem que em pouco tempo iria retomar o seu caminho.
A partir de então permanecemos juntos, mas um tanto calados, ela por ter percebido que eu estava a tratando de um jeito muito especial, percebia-se nitidamente, que ela estava feliz da minha companhia, mas o seu jeito era muito parecido com o meu, ou seja, ela também estava com vergonha de assumir os sentimentos, e eu, agora estava mais sem jeito do que antes, estava com vergonha de fazer um mínimo movimento, nosso silêncio foi quebrado quando passou uma senhora provavelmente procurando alguém, pois olhava pra cada passageiro, ela estava do meu lado, bem perto de mim, e eu, lógico do lado dela, aquela senhora olhou a cena e fez uma pergunta que veio seguida de um constrangimento enorme de minha parte “Com licença casalsinho, mas vocês viram minha netinha correndo por aqui?” aquilo me fez ficar mais calado ainda... me encolhi todo e só pude responder balançando a cabeça em sinal de negativo, aquela senhora agradeceu e continuou a procurar, eu estava em estado de total perturbação, estava acontecendo muito rápido pra eu poder acreditar que estava gostando dela, e se realmente estivesse, o que seria? O que eu faria... agora ela estava ali do meu lado com a cabeça apoiada sobre meu ombro e... ???... !!!!... a cabeça apoiada sobre meu ombro???!!! Eu nem tinha percebido, ela havia caído no sono e apoiou sua cabeça sobre meu ombro, ela estava ali tão tranqüila, como se nada estivesse acontecendo... seu braço passou por baixo de meu antebraço, e o segurou firme, como se buscasse um conforto maior, e foi o que fez, se ajeitou mais, se encostando mais ainda, aquilo me deixou confuso, o que estava acontecendo, será que ela estava com tanto sono assim que literalmente “desabou” em cima de mim, ou adormeceu tranqüilamente por confiar em mim... muitas coisas passavam na minha cabeça, porém todas não tinham indícios de serem averiguadas e resolvidas tão cedo, eu estava me sentindo um crápula, pois na situação em que a encontrei, ela estava muito sozinha, então me aproximei dela, e talvez na solidão em que ela se encontrava estava buscando conforto em mim, contudo, será que em condições normais, sem essa repentina separação de seus pais, será que ela se aproximaria de mim? Talvez fosse realmente isso que estivesse acontecendo, posso dizer que ela estava numa situação de embriaguez, uma embriaguez de solidão, tristeza e tantas outras denominações desferidas a esses sentimentos que nos deixam fracos a ponto de parecer crianças abandonadas que precisam de alguém, então esse alguém fui eu, eu me aproximei e entrei em sua vida de tal maneira que agora não posso simplesmente dar as costas e ir embora como se nada estivesse acontecendo, mesmo sabendo que se continuar ali do lado dela, vou terminar sucumbido por aquele sentimento que por muitas vezes ignorei pelo fato de minha adolescência ter sido dedicada aos estudos, era difícil aceitar a situação, saber que cada vez mais eu estava criando um sentimento por ela, algo que era inexplicável, e que toda hora em que eu parava para pensar sobre isso, algo acontecia... e foi o que aconteceu... uma menina passou correndo pelo vagão, e se escondeu próximo ao banco onde eu estava sentado com a Júlia, que dormia profundamente, aquela garotinha estava um tanto alterada, como se estivesse se escondendo, mas não de brincadeira, parecia fugir de alguém, não pude me conter então perguntei sem compromisso: “O que você está fazendo aí, se escondendo dessa forma?” ela olhou pra mim, com seus grandes olhos expressivos, tomou fôlego e ainda ofegante respondeu: “Tou fugindo da minha avó moço...” dada aquela resposta, logo conclui que esta pequena era a mesma que aquela senhora, que a pouco esteve passando por aqui, estava procurando, então me fiz de curioso para saber o porque que a garotinha estava se escondendo e sua avó, que me parecia ser uma pessoa extremamente gentil, então a perguntei: “Mas por que você está se escondendo dela?” a garotinha pouco olhava para mim, enquanto eu falava, estava mais preocupada era se sua avó apontasse no fim do corredor, pois foi para aquela direção que a senhora havia partido em busca de sua neta, a pequena demorou um pouco e me responder, ela se sentou no chão, pois notava-se seu cansaço, respirou fundo e me respondeu, agora com um pouco mais de calma: “Sabe o que é moço...” começou a enrolar seus cabelos entre os dedos, e continuou a falar “Minha avó tá querendo que eu coma um monte de coisas que eu não gosto...” ela ia continuar a falar, mas eu a interrompi subitamente com uma pequena questão, que seria capaz de entender melhor o problema: “O que viria a ser esse “monte de coisas” que você não gosta?” ela olhou pra mim, pela 1ª vez sem se preocupar com quem vinha do fundo do corredor, fez uma cara feia, e se aproximou um pouco, para falar só pra mim: “Ela queria que eu comesse um montão de legumes...” dito isso, ela voltou a enrolar seus cabelos cacheados entre os dedos, aquilo me fez ter uma rápida lembrança de meus tempos de criança, daquelas preocupações tão infantis, mas que nesta idade, tomam um importância extrema, dando até uma saudade dessa época em que minhas preocupações eram coisas tão simples de serem resolvidas se comparadas aos problemas que hoje passo, mas eu não podia ficar muito tempo sem resposta, aquela garota estava ali na minha frente e confiou a mim esse “segredo”, então usei uma tática infalível para fazer com que ela voltasse para sua avó, pois a essa altura aquela pobre senhora já deveria estar desesperada procurando aquela menina, e eu não podia simplesmente mandar aquela garota voltar pra sua avó e obedece-la em relação o que tem que comer ou não, por isso falei com aquela garota da mesma forma com que se fala para um amigo, tomei cuidado nas palavras pra que não parecesse um “adulto chato”, coisa que eu não era, então falei a ela: “Garotinha...” ela olhou pra mim “Está vendo essa moça que está dormindo aqui do meu lado...” me referia a Júlia, a garotinha ficou um tempo a olhando, e enquanto a olhava eu completei “Reparou como ela é linda, parece muito com aquelas princesas de histórias que provavelmente você já viu e ouviu, não é?” ela por um momento ficou admirando a Júlia, deu um pequeno sorriso, e olhou pra mim, então eu também sorri e continuei “Ela só ficou linda desse jeito por que se alimentava bem, ela também não gostava de legumes, mas comia pois sabia que aquilo ia fazer bem pra ela crescer forte, e bonita, por isso que ela está assim hoje... você quer ficar bonita que nem ela?” a garotinha respondeu balançando a cabeça e dando um lindo sorriso, eu estendi meu braço para que ela se levantasse, e pra terminar lhe falei: “Então, vai atrás da sua avó, vai se alimentar, para que você fique bonita que nem ela quando crescer” a garotinha em agradecimento me deu um beijo no rosto, foi se afastando, agora ao encontro de sua avó, se virou novamente pra mim e falou: “Obrigado moço... tchau moça...” e lá se foi ela, só estranhei que ela se despediu da Júlia, ela estava dormindo, a não ser que... !!!... me curvei um pouco para vê-la e me deparo com ela me olhando e sorrindo docemente, não sei desde quando, mas ela estava acordada... ela ouviu tudo o que falei... agora quem queria fugir era eu... então ela quebrou o silêncio: “Você sabe mesmo lidar com as crianças...”
Eu estava sem respostas, ela desencostou de mim, e esticou os braços se espreguiçando, eu só conseguia ficar olhando pra ela, com meus olhos completamente inertes, creio que nem pisquei naquela hora, ela continuou me encarando, como se soubesse que eu estava totalmente sem jeito, então ela falou: “Mas não precisava me usar como exemplo... eu não sou tão bonita assim...” deu uma pequena risada, aquele seu sorriso me encorajou a falar: “Não diga isso, você é realmente linda, dotada de uma maravilhosa beleza...” se fosse comparar a um jogo estava agora 1 x 1, ao fato que depois de eu ter dito isto, ela que ficou sem jeito, mas ela não demorou muito a responder: “Hum... você está sendo apenas galanteador...” e como reflexo, respondi “Não... estou apenas sendo sincero...” creio que depois disso nenhum de nós ficou mais com vergonha um do outro, apenas ficamos nos olhando, nada me passava na cabeça naquele momento, eu apenas a admirava, ela fazia o mesmo, acho que a partir dali estávamos aceitando os sentimentos que nos possuíam, não tinha mais como negar, eu estava apaixonado por ela.
O trem já se aproximava da estação de Sealter, ali ela iria visitar sua mãe, e eu continuaria o meu caminho, trocamos telefones, endereços, MSN, Orkut, E-mail e tudo mais, mesmo assim, saber que não iria mais vê-la me causava um grande aperto no peito, o trem chegou na estação, então eu a acompanhei levando sua bagagem até o ponto de ônibus, pouco falamos, de alguma forma tanto quanto ela ainda evitávamos os reais sentimentos um pelo outro, e não me pergunte por que... ela me pediu que a telefonasse se tivesse notícias de seu pai, ela havia me passado uma foto dele, era um sujeito realmente fácil de encontrar, tinha uma barba inconfundível, cabelos grisalhos, mas nem um sinal de calvície, um porte atlético de causar inveja a muitos naquela idade ao qual ele nem aparentava ter, tinha quase 60 anos, mas estava em forma...
O ônibus estava se aproximando ela se virou pra mim, e com um olhar triste me abraçou, me abraçou muito forte, meus braços estavam caídos, mas não me contive e encobri seu corpo com meus braços, ela era um tanto esbelta, então meus braços a envolviam completamente, abaixei minha cabeça encostando na cabeça dela, e com a voz um tanto sussurrante disse a ela: “Me prometa que não vai mais chorar de tristeza...” ela me abraçou mais forte ainda, escondeu seu rosto no meu pescoço e sussurrou: “Não posso prometer, pois nesse momento estou chorando... por ter que me despedir de você... na verdade eu não quero ver minha mãe, pois eu sei que vou chorar mais ainda... eu queria fugir... fugir pra bem longe deles...” cada vez mais o ônibus se aproximava, do jeito que ela estava, facilmente eu poderia convence-la de ir comigo, mas seria imaturo de minha parte, por mais difícil que fosse, ela tinha que se encontrar com a mãe para saber o que houve, pra que ocorresse a separação dos pais, eu não poderia priva-la desta situação, ela tinha que encarar de frente o problema, mas se ela fosse comigo, eu poderia fazer com que ela esquecesse todos os problemas, pois eu ficaria na grande casa de meu amigo Bruno em Sherwood, a casa dele é um verdadeiro repouso, lá tem espaço sempre pra mais um, e ele certamente a abrigaria também... mas e depois... o que aconteceria depois, quando acabasse o período de férias e eu tivesse que voltar pra minha casa, pra escola de Hogwarts... o que seria dela, ela tem os problemas dela e eu tenho os meus, então eu estava naquela indecisão, mas eu tinha que fazer mesmo que me causasse um certo aperto, então eu dei sinal para o ônibus parar, segurei firme o seu ombro, olhei nos seus olhos que estavam ainda em lágrimas e falei: “Júlia, sei que é difícil, mas encare de frente, não fuja dos problemas por que não adianta, vai e converse com sua mãe, é melhor você saber por que aconteceu essa separação, não se preocupe, eu te ligo, nós ainda nos veremos, e da próxima vez eu quero ti ver sorrindo...” dito isso ela engoliu o choro, e fez uma cara do tipo que não gostou muito do que falei, mas aceitou, afinal era o mais sensato a se fazer, pegou sua bagagem e subiu no ônibus, enquanto o ônibus partia continuou olhando pra mim, era um olhar muito triste, mas eu fiz o que era certo, não podia alimentar o seu desejo de fugir daquela situação, isso seria muito errado, mas errado ainda seria se eu fugisse com ela...
Voltei a estação, a próxima parada seria Sherwood, finalmente estaria de volta ao lugar onde nasci e passei grande parte da minha infância, fazia um bom tempo que não visitava minha terra natal, provavelmente o único que ainda me reconheceria seria o meu inseparável amigo Bruno, isso por que ele vez ou outra aparecia lá em casa pra visitar, pois os meus outros colegas de infância, acho que desde de os 14 anos não os via...
Até que seria interessante saber como anda cada um, o Bruno por ser o mais velho do grupo agora já estava formado, era engenheiro mecânico, morava sozinho em uma grande casa que ganhou dos pais, nessa casa ele abrigava todos seus conhecidos, por isso que eu estava tranqüilo, pois quando ele ficou sabendo que eu estava a caminho de Sherwood, logo tratou de preparar um dos vários quartos daquela imensa casa, só espero que o Bruno tenha parado com aquela velha crise de inferioridade, apesar de ter uma vida excelente, ele sempre se achava inferior, talvez pelo fato de seus pais nunca concordarem em suas decisões, pois talvez por um fato do destino, todas suas grandes tentativas de “se virar sozinho” nunca davam certo... certa vez ele foi passar uns tempos lá em casa, meus pais e os pais do Bruno sempre se deram bem, então eles concordaram em deixar ele ficar uns meses por lá, a intenção do Bruno era de comprar uma casa pela cidade, só que não tinha dinheiro o suficiente, e naquela época, período de férias, ele estava ainda se formando em engenharia, e lá foi ele, como um louco, procurando qualquer emprego, o pior de tudo é que eu fui atrás, ele me convenceu de fazer a mesma coisa, como minha mente era fraca... claro o resultado final foi que acabou o período de férias e a única coisa que conseguimos foi arrumar um emprego temporário em um Fast-Food... ele teve que voltar pra Sherwood e eu voltei a minha pacata vidinha...
Mesmo com suas crises de inferioridade o Bruno sempre se deu bem, diferente de meu irreverente amigo Douglas, mais conhecido como Doug, este nunca esteve aí pra vida, sempre bancando o esperto sempre fugia das obrigações, seus pais o bancavam pra tudo, academia, faculdade, até emprego, como seu pai era dono de uma empresa de restaurantes colocou Doug como gerente de um desses restaurantes... não deu muito certo, já que a única coisa que Doug sabia fazer dar em cima das garçonetes o dia inteiro, então o pai de Doug desistiu de arrumar alguma coisa pro filho fazer, acho que o pai dele espera até hoje a vida dar um golpe em Doug, pra que assim ela possa aprender, só que será difícil, pois com aquela mesada que ele ganha, confesso que até eu ficaria largado...
Tinha também o David, sempre temperamental, estava sempre contra tudo e contra todos, não sei por que mas ele nunca foi com minha cara, eu não entendia muito bem, afinal pouco falava com ele, ele estava sempre conversando com Juan, o “maluco” do grupo, aquele que achava graça em tudo, constantemente fazendo coisas impensáveis, como a vez que decidiu levar sua criação de baratas, isso mesmo, baratas... levou pra dentro da sala de aula sem que a professora Catarine soubesse, estava muito tranqüilo pra ser verdade, Juan só tinha levado aqueles insetos para mostrar a uma garota que ele estava afim, bem sinceramente, não sou muito bom na arte de “dar em cima” de uma garota, mas tenho plena certeza que mostrar a “coleção” de baratas não é a melhor cantada... ele iria mostrar as baratas na hora do recreio, mas em nosso grupo de amizade existia a excêntrica Carol, uma garota que a primeira vista parecia uma menina tranqüila do campo... tolice de quem pensasse isso, eu pensei, mas quem convivia com ela sabia que era pior que uma legião de vândalos, e não estou sendo nenhum pouco exagerado no meu modo de descreve-la, afinal, quantas garotas você conhece que são capazes de ter a mentalidade de fazer o seguinte: colocar meia centena de baratas dentro da mochila, pedir pra ir ao banheiro, quando na verdade a real intenção era chegar na cantina e sem que a cozinheira percebesse jogar todos aqueles insetos como se fosse um tempero a mais, pra dar um sabor especial... bem foi isso que aconteceu, pobre Juan, quando percebeu que suas baratas não estavam mais ao seu lado, caiu em desespero, ele havia prometido a garota de seus sonhos que ia lhe mostrar algo muito legal, ele veio desesperado ao meu encontro, e perguntou pra mim o que ele faria, não tinha o que mostrar pra ela, eu sempre levava na mochila uns livros bem antigos que já devia ter lido uma dezena de vezes, peguei um deles, era um bem conhecido, “As aventuras de Robison Cruzoé” e entreguei pra ele, e disse: “Toma, dá isso de presente a ela...” ele olhou o livro, estava um pouco surrado e com algumas orelhas, afinal eu o levava pra tudo que é lugar, ele continuou olhando o livro como se nunca tivesse posto um em mãos, olhou espantado pra mim e perguntou: “Mas o livro é seu cara...” eu sorri pra ele e falei: “Não esquenta... eu tenho um outro igual a esse lá em casa” grande mentira minha, falei isso apenas pra que ele não ficasse encucado, pois se existia alguém teimoso esse alguém era Juan, dito isso, ele respirou aliviado, mas logo em seguida algo bateu em sua mente que o fez me perguntar outra coisa: “Putz... mas eu nem li esse livro, e se ela me perguntar alguma coisa?” levei algum tempo para pensar e tive uma idéia, veja só, desde os tempos de criança eu já me preocupava com os problemas das outras pessoas... então eu falei pra ele o seguinte: “Olha só, dá o livro pra ela, diz que é um presente, pede pra ela ler o livro e depois lhe contar o que achou, até ela terminar de ler o livro eu ti conto a história toda, hoje na hora do almoço, ai quando ela vier pra falar do livro você já vai estar por dentro da história certo?” ele ficou olhando pra mim, com uma cara que nem se mexia, começou a rir, meio que loucamente, subitamente me abraçou, o problema é que sempre fui fraco, meu corpo não era daqueles de porte atlético, e ele naquela época era o maior da turma, ele não me abraçou, ele simplesmente pegou o meu corpo e começou a sacudir pra lá e pra cá, como se eu fosse um boneco, finalmente ele parou e me largou, e saiu correndo em direção ao pátio central, provavelmente pra se encontrar com ela, eu estava meio tonto quando ouvi aqueles gritos vindos da cozinha.
Naquele dia ficamos sem almoço, e todos foram liberados mais cedo, segundo o diretor se o culpado por ter colocado quase que 60 baratas dentro do caldeirão de comida não aparecesse até o fim do dia seguinte, todos receberiam suspensão de pelo menos 2 semanas, estávamos em semana de prova, aquilo seria muito ruim pois me deixaria em recuperação em pelo menos 4 matérias...
Estava eu voltando pra casa já pensando que teria que estudar muito no fim do ano pra passar nessas matérias, já que o culpado não iria aparecer tão fácil, e do meu lado surge aquela garota, saltitante de alegria, era a Carol, eu sempre manti uma certa distância dela, pois seu comportamento sempre me assustava, mas ela invariavelmente estava do meu lado, talvez por que soubesse que eu era muito quieto e evitava problemas, então novamente ela veio ao meu encontro dizendo o seguinte: “E aí o que achou do que eu fiz?” logo conclui que foi ela que armou aquela confusão toda, realmente, só podia ser ela... bem infelizmente o desfecho dessa história não poderei concluir, pois o trem finalmente chegou na estação de Sherwood, estava novamente na minha terra natal, sai da estação e fui direto ao ponto de ônibus, tudo parecia a mesma coisa de quando parti, mas logo percebi algumas mudanças,como o grande shopping que estava no meio da cidade, na antiga praça, onde eu costumava ficar estudando, pude perceber também que muitas casas agora davam lugar a prédios de 5, 6 ou mais andares, a cidade cresceu, mas não como uma grande cidade, pois Sherwood ainda continuava pequena, só que o progresso havia chegado e não podia passar em branco, escutei uma buzina, e virei minha atenção, era um carro esportivo com cores chamativas, a porta do carona se abriu, como se estivesse me convidando a entrar, me aproximei pra ver quem era, só que era uma tarefa difícil, pois os vidros eram extremamente escuros, quem estava dentro do carro ficou impaciente, abriu a porta, e se revelou ser meu grande amigo Bruno, estava com uma camisa pólo toda verde, de óculos escuros, parecendo um autêntico playboy, colocou os braços sobre o teto do carro, deu aquela inconfundível risada e falou: “E aí cara, como é... vai ficar aí parado, vamos logo, o almoço já tá pronto e a galera tá toda lá ti esperando!!!”
Já passava do meio dia, iria levar uns 15 minutos até chegar na casa dele, no caminho ele foi me contando o que aconteceu no tempo que estive “fora”, enquanto ele falava comigo fui reparando a paisagem, agora havia menos verde das árvores e mais cinza dos prédios, as grandes propriedades deram espaço a comércios, estacionamentos e tudo mais, a cidade cresceu e eu não acompanhei, estava admirado, afinal quando sai de lá existia apenas uma loja de jogos eletrônicos, agora até onde passei com o Bruno de carro, já tinha perdido a conta de quantas Lan Houses encontrei pelo caminho, porém algumas coisas continuavam as mesmas, como a velha igreja que ficava no alto da colina, que era quase um calvário pra chegar nela, agora o acesso a ela estava melhor, pois tinha uma grande rampa de acesso, facilitando até quem tivesse de ir de cadeira de rodas, coisa que na época em que minha mãe me levava se tornava impossível... “Mas e aí cara o que você conta de novo?” aquela pergunta do Bruno me fez lembrar de uma coisa, a minha vida desde de que eu sai de lá se tornou algo muito monótono, todos os dias eram iguais, nada de mais acontecia, era só estudar e estudar, não tinha tempo nem pra novas amizades, então foi que lembrei o que aconteceu no trem, lembrei da Júlia... e comecei a contar pra ele toda história, ele se admirou com tudo aquilo, afinal ele sempre me viu como uma pessoa desligada ao que acontece a minha volta, até pra mim era um espanto.
E chegamos em sua “mansão”, na verdade era uma casa muito simples, porém sua construção era uma verdadeira obra de arte, cada pedaço do terreno foi bem aproveitado, a grandiosa varanda que dava acesso a um enorme quintal com uma piscina, os quartos do segundo andar, cada um com grande diversificação de mobílias luxuosas, a cozinha com um espaço muito bem distribuído, podendo suportar um batalhão de chefs goumert, a sala de visitas era um espetáculo, quadros de grandes artistas espalhados pela parede, um grande tapete no chão, as poltronas confortáveis, enfim são muitas coisas para descrever, mas nenhuma chamava tanto a atenção como a enorme sensação de bem estar que eu sentia quando ali entrava, não sei explicar mas aquela casa tinha uma energia tão boa que fazia você esquecer qualquer problema, e quando Bruno me levou até salão principal, lá estavam eles, meus companheiros de infância, aqueles aquém eu tanto devo, sentado no sofá com uma calça bem larga e camisa desabotoada com um grande cordão prateado, estava Doug, com sua eterna pinta de galã, próximo a janela estava David, com roupas escuras, o tempo estava quente, mas estava com um sobretudo que ia até o chão... Olhou-me friamente, mas sorriu sinceramente, feliz em me ver, já éramos adultos, qualquer coisa que ele tinha contra mim, deve ter acabado com o tempo, agora não havia mais motivos pra me evitar, claro que sua personalidade era imutável, dele eu não podia esperar um saudoso abraço, ou um alegre aperto de mão, mas ele tinha seu jeito de demonstrar afeto, e eu percebi isso, me aproximei mas um pouco e no sofá adjacente ao de Doug estava Juan, ele se levantou e confesso que me assustei, ele tinha crescido mais ainda, e agora estava com bastante massa muscular, porém sua cara continuava a mesma, aquele mesmo rosto sempre indeciso, os cabelos penteados de qualquer maneira, as roupas largadas, aquele mesmo jeitão bobão que cativava qualquer um, e aquela mesma mania de me abraçar me sacudindo como se eu fosse um mero brinquedo em suas mãos...
Após aquela sessão de carinho um tanto extravagante de Juan, fui simplesmente arremessado para o lado, quase caindo por cima de Bruno que se afastou, era ela, a louca Carol, com seu jeito estabanado de ser, pulou sobre meu pescoço e me encheu de beijos e cascudos...
Com meus amigos eu estava, uma nova vida começa, uma nova aventura se inicia, mistérios circundam nossas mentes, poderes ocultos permanecem ocultos... Mas até quando?
---> Continua <----