Troca de Papéis
 
- Realidade virtual? Como no Second Life? – perguntou Amanda.
- Não, muito mais que isso. Esse implante pode imergir uma pessoa completamente no mundo virtual, uma ligação continua com toda rede mundial de computadores – respondeu Flávio.
- Seria uma espécie de Matrix então? – ela perguntou de novo.
- Sim, mas com a diferença de que nós estaríamos no controle.
Amanda pensou nas consequências da descoberta. Flávio, seu namorado, trabalhava há anos no projeto multinacional de criar uma nova interface entre o ser humano e o computador. É claro que outras formas de fazer isso já existiam há muito tempo, mas o que ele prometia ali ainda não tinha equivalente, era o mesmo que abrir uma fronteira nova para a humanidade, um outro mundo onde ela pudesse viver e aparentemente seria tão real quando este.
- O Passageiro do Futuro – disse Amanda.
- O que você disse?
- Só me lembrei de um filme antigo, O Passageiro do Futuro. Nunca assistiu?
- Sim, eu já assisti, mas o que tem ele?
- Ora, o personagem principal prefere o mundo virtual ao real.
- É só um filme, além do mais não tem como ninguém deixar totalmente este mundo, precisamos nos alimentar e respirar, limitações fisiológicas minha cara. Mas de qualquer forma estão selecionando candidatos para os primeiros implantes, você não se interessa?
Sim, Amanda interessava-se sempre pelo novo, e se havia alguma chance dela conseguir, ela tentaria.


Era tudo tão novo, ela nunca imaginou que pudesse existir um mundo assim. As sensações eram todas diferentes, a densidade da matéria a sua volta, as vibrações produzidas pelas ondas sonoras, a luminosidade presente em cada cena que olhava. Conheceu percepções diferentes, como o cheiro daquele novo ambiente ou o sabor inusitado de coisas que serviam como alimento.
Conheceu também o medo, sentimento estranho e entendeu que ali a vida era breve e ameaçada, também poderia terminar um dia, também poderia ser deletada. Vida essa que era comprovada pelo som que insistia em sair do seu peito, num pulsar forte e ritmado. Ela agora tinha coração. E estava atenta as batidas desse coração quando ouviu alguém chama-la pelo novo nome ao qual vinha se acostumando a ser conhecida:
- Amanda? Tudo bem com você? – era Flávio quem perguntava – desde aquele implante você está estranha, nem parece mais você.
- Não se preocupe Flávio – tentou disfarçar ela já se apoderando das sutilezas humanas – é que agora tudo parece novo e diferente para mim. Sinto-me como se tivesse realmente uma alma.
E era isso mesmo, aquele programa de computador agora vivia no corpo de Amanda, trocado com ela de lugar após o implante e não desejava mais voltar para seu lugar de origem, agora ele estava livre e preferia morrer a ser deletado.
Enquanto isso, uma outra Amanda vagava por um outro mundo, um mundo virtual e diferente, era tudo tão novo, ela nunca imaginou que pudesse existir um mundo assim e, da mesma forma que sua congênere no mundo real, ela agora não desejava mais voltar para casa.
Luciano Silva Vieira
Enviado por Luciano Silva Vieira em 13/06/2012
Reeditado em 18/06/2012
Código do texto: T3721204
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