Não é
O verde de várias tonalidades dava ao local um ar mais leve, o contraste com o azul do céu tornava aquele local único em todo o universo. Aguas cristalinas refletiam a riqueza local, delicadas pedras que continham em sua superfície uma camada espessa de musgo, livre de poluição, dava ao caminho uma atmosfera surreal. Ruínas imensas ornamentadas por trepadeiras floridas, elas forçaram passagem há muito tempo, não foram delicadas nesta invasão.
O equilíbrio é visível por toda a imensidão verde. Cada um ocupa seu espaço sem reclamar. Não existe desperdício, não existe estoque. Olhando com mais profundidade percebemos o que habita este local.
Mesmo que debaixo de tanto verde exista as relíquias da antiga civilização, é impossível crer que um dia ela foi dominante neste lugar.
Grossos cipós amarram as partes mais densas, não é possível vislumbrar o azul nestes pontos. Uma fina névoa encobre um traiçoeiro pântano, que permeia uma vasta extensão. É possível ouvir gritos medonhos através da lama fétida. Não é um local seguro.
Sem aviso a paisagem muda, troncos gigantes e grossos se juntam. O verde sumiu, o marrom prevalece. Devagar o marrom vai se tornando branco, pequenos cristais coloridos quebram a monotonia local. Não existe abrigo seguro ali, só o vasto branco. O equilíbrio não é quebrado. Uma revoada muito baixa chama à atenção, um grito é proferido e o improvável acontece. Negro, apenas o negro, silêncio pavoroso.
Fim da transmissão
—Quantas vezes você vai rever esta gravação? – Um rapaz de tez macilenta pergunta abruptamente para uma garota muito pequena.
—Não seja pessimista, afinal é nossa origem, nosso mundo. – Responde a garota com um sorriso esverdeado.
—Um dia foi. Pelas fotos nem fazemos mais parte da raça, mudamos tanto. Você viu os ossos que encontramos na última escavação, estamos muito distante deles.
—Sim você tem razão, mas ainda pensamos e criamos como eles, nossa mente ainda é superior.
—Lembre-se, foi exatamente está habilidade que nos levou para a última fileira da evolução. Li vários livros e cheguei à conclusão que o mal somos nós.
—Irmão você está equivocado, podemos viver com eles. Em harmonia.
—Não podemos, o ato de pensar é nocivo.
Um bip alto é ouvido e o coração de ambos bate descompassado, uma luz azulada invade as retinas assustadas e tudo é reduzido a pó.
Silêncio e poeira. Quem disparou é visto assim que o ar se limpa, são seres medonhos. Seus corpos não tem uma forma definida, os olhos são negros. Lembram uma massa uniforme de lama. As vozes são guturais e seu poder é dominante em tudo que é vivo.
—Eram os últimos, tenho certeza. –Fala o primeiro guardando a arma no corpo.
—Vou conferir. Você disse a mesma coisa da última vez. –O outro se molda ao pó reinante e arrasta vasculhando todo o perímetro.
Tudo no local parece obedecer ao comando da criatura. Pedras, musgos, visgos falam num murmúrio que ali não existe mais “homens”. A criatura volta ao seu formato uniforme e leva o outro consigo.
—Não existe mais destas coisas neste local. Nossa vitória está próxima. – Rastejam deixando um caminho marrom espesso.
Bem antes de serem exterminados, os moradores daquele local mandaram um alerta. Um fio translúcido percorreu quilômetros abaixo da terra. Escolheu os pontos com precisão, assim a mensagem foi recebida em seu destino. Não se sabe quando e nem como, mas eles não desistirão. Um dia aquilo que lhes pertenceu voltará a seu comando.