USS Bishop - Dead Line

Esta mensagem faz parte de um final de história. É um excerto, na verdade, mas dá para entender o contexto dele.

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(Resp. Todos)

(USS Bishop, Ponte, Cap. Summers, 2410.1912.0600)

O silêncio tomou conta da Ponte de Comando, todos que estavam ali olhavam diretamente para a Tela Principal e viam um pequeno ponto negro tomar uma forma disforme a cada segundo. De repente um pulso de energia tão gigantesco perpassou por todas as naves ali presentes e a cor, antes sem, era de um azul ferroso, de uma boca que tinha fome de devorar a tudo e a todos. Parecia que todos sabiam o que viria a seguir e de que nada tinham o que fazer. Nenhuma nave ousou atacar a Bishop, pudera, os Forasteiros sabiam da existência da PDM, mas nunca a tinham visto ao vivo a ação da mesma e de como conseguiu arrasar com várias naves ao longo do seu caminho de ação sem maior esforço. Sem levar em conta que várias naves da Frota Branca começavam a brotar ainda mais e as outras naves Antigas ainda não haviam sido destruídas.

Um momento de calma e tranquilidade tomou conta daquele lugar. Era como se toda a realidade houvesse simplesmente parado para aquele novo elemento. O que uma arma de buraco de minhoca poderia fazer? Ou o que não poderia deixar de fazer. Summers sabia que era aquilo que o Scorpius estava atrás, mas será que era aquilo que ele realmente queria ver? Será que ele gostaria de estar no quintal de um monstrengo como aquele que iria devorar a tudo e a todos no seu caminho? Poderia ter sido algo diferente, poderia ter sido algo absolutamente diferente.

E sua filha? Será que ela poderia presenciar que aquele era o momento-chave, onde tudo mudaria? Onde nada mais seria igual do jeito que era antes? De que tudo que ela sabia e sentia sobre a vida no seu cantinho do universo seria mudado depois de todas as batalhas por causa daquele monstro? Summers estava com sua respiração normal, mas o seu coração parecia um touro que estava a ponto de sair do seu peito. O que será que viria a seguir? Quais as decisões que deveriam ser feitas a partir de agora? Tudo o que fizesse iria mudar de maneira ímpar a cara daquele quadrante de uma forma nunca vista antes.

Ele alisou suavemente a sua cabeça e, por breves segundos, pudera ver toda a sua vida, todo o seu passado, tudo aquilo que passou com os seus amigos, colegas e subordinados, com os seus inimigos, pesadelos e suas aventuras. Lembrou-se, logo de cara, da morte da filha da Almirante Kincaid, a Alferes Gurgel, um dos seus maiores pesares como oficial Comandante de uma nave estelar. Viu a despedida de grandes amigos como o oficial Heidi Jansen, Powell, Adams, da Conselheira Forty, da oficial de ciências Clariss, Ankita Assudani, Rivendell, Rogan, Tompsom e tantos outros que serviram em seu comando. Foram-se os bons tempos, os bons costumes, tudo o que lhe foi caro e construído aos poucos. Nada daquela vida poderia voltar, mesmo que viajasse no tempo, nada daquilo seria como antes. Sentia um peso brutal em suas costas e de como tudo que havia ao seu redor mudara de uma maneira drástica e inconsequente.

Mas do que adianta remoer o passado? O que já fora, já fora, e assim o é. Nada o que poderia fazer no pasado poderia retomar no presente. Apenas criaria uma realidade alternativa onde ele nunca iria sentir o prazer de desfrutar daquele momento novamente. Uma dor percorreu todo o seu ser. Gostaria de ter mudado alguma coisa, sim, como gostaria. Não gostaria de se arrepender, mas, do mesmo modo que nunca se arrependeu, ele se arrepende, de fato, de tudo o que fez. De como se doou. De como deu a face a baterem. De como batalhou por aqueles que nunca levantaram um dedo para si mesmos. Nunca vira, em nenhum momento da sua vida, pessoas tão egoístas, tão mesquinhas, como naquele momento. Claro, sim, existiam umas que faziam jus ao seu uniforme da Frota Estelar e, mais ainda, faziam jus de serem seres especiais. Apesar de todas as desavenças entre um e outro, todos lutaram por um ideal. Um ideal que unia, amor, compaixão, luta pela liberdade, justiça e uma paixão indélevel pela vida e era isto, basicamente, que Summers lutava, desde sempre que se lembra.

Sempre teve os seus momentos sozinhos, mas quem nunca os teve? Summers mais do que qualquer outro foi um ente sozinho, separado dos demais, pois tinha um grande peso nas costas a carregar. Tinha um destino a completar e não queria que mais ninguém carregasse este fardo, porque ninguém precisaria. Lhe foi ensinado, desde muito cedo, que deveria lutar suas próprias batalhas e, se necessário, seguir o pior caminho a ser trilhado. Da solidão, do distanciamento, da falta de expectiva e perspectiva de algo poderia mudar, mas, que, no final das contas, seria recompensado. E como o foi... sempre tivera amigos leais, a quem poderia contar toda a hora e a cada momento de sua vida. Sempre fora ranzinza, um brigão, aquele que sempre queria ter razão, mas, no final das contas, o que queria mesmo, era se sentar e descansar. O seu corpo lhe pesava, mas, mais ainda, a sua alma estava carregada de cicatrizes e, pelo menos uma vez, gostaria de apenas gritar e chorar. E foi isto que fez naquele exato momento, espantando a todos que estavam ali na Ponte de Comando. Ninguém nunca havia visto Summers se exasperar da maneira que estava fazendo naquele exato momento.

Os seus gritos pareciam surreais, alguma coisa que vinha do fundo de sua alma humana. Ele não estava mais se controlando, estava soltando toda a sua raiva, sua solidão, o seu amor, sua paixão, a sua própria destruição, o seu pesar, a sua tristeza, a sua paciência, todos os pontos de sua natureza humana num único e real movimento. Socou a cadeira onde estava, jogou o seu commbadge ao longe e gritou para o espaço do vão da Ponte de Comando. Um oficial tentou chegar próximo a ele, mas foi prontamente impedido por uma oficial e que parecia dizer em voz baixa: "O homem não enlouqueceu, ele está apenas extravazando tudo aquilo que ele tem na sua alma... vê?" - Apontou para a face de Summers. "São lágrimas de uma mistura incomensurável de todas as emoções natas em qualquer ser humano, mas somos tão presos por nossos pesos e medidas que, por fim, acabamos nos tornando robos de nossas próprias consciências. A humanidade vem fazendo isto a milhares de anos e ficamos deixando de se acostumar a apresentar os nossos sentimentos de maneira sincera... e é isto que ele está fazendo... sem qualquer pudor ou regra."

O ímpeto de Summers, naquele exato momento, era de acabar com tudo. Acabar com toda a dor que lhe corrompia o corpo e foi aí que ele vira, por um segundo, o que lhe havia acontecido. Seu lado negro nunca o havia abandonado por completo, apenas uma pequena parte da sua alma ficara fraturada e o seu lado vazio continuava lá, apenas uma pequena porção fora-se embora. Ele não estava incompleto, mas, nem de longe, era tão completo como nunca havia sido antes. E, vislumbrou o seu futuro. Sabia o seu destino. Sabia que teria de tomar a devida coragem e seguir em frente na sua vida. De todas as incertezas da vida, nada havia mais certo que isto. E falou em alto e bom som para todos ouvirem, uma passagem que lera a tempos atrás.

Summers: "Medo é algo que traz um momento desanimador. Que faz com que as coisas não sejam aquilo que deveriam ser. Assim, para não temer mais o medo, fico estancado. Sinto o medo passar por mim, e deixo-o seguir adiante. E lá longe, vejo o medo, e todo o seu rastro se tornar um verdadeiro nada. E aqui estou, sem o medo, somente a minha essência existindo." - E suspirou por fim, agachando-se e respirando cada vez mais pausadamente. Aproximou-se do commbadge que estava ali próximo e disse uma outra citação: "De todas as possibilidades que temos na vida, a vida por si só é a única possibilidade." - E todos na Frota Negra, na branca e nos Pacificadores, ouviram o que ele havia dito. Os seus olhos estavam vermelhos. A sua cara inchada, não parecia o bravo e sério Capitão Daniel Anderson Summers, e sim uma criatura frágil como uma outra qualquer. Citou baixinho algo que havia ouvido quando ainda estava com a sua mãe na USS ShadowRunner.

Nas horas finais que nós temos consigo mesmo

Ficamos a imaginar todas as decisões que fazemos

E porque as escolhemos

Não há nada mais maravilhoso que a vida

E aventura que está nela

Mesmo que isto nos arranque cada pedaço de nossa alma

Na hora final, tudo o que nos resta

São as escolhas, felizes ou não

De toda uma vida que passou

No meio deste caminho

Sofrendo ou amando

Viva a vida até sua hora final

E ficou calado por um tempo sem fim. Parecia que ninguém sabia o que falar ou para calar aquele homem que estava enlouquecendo.

Summers: "Passei os meus últimos 60 anos da minha vida tentando ajudar a todos que aqui se apresentam e o que eu recebo? Ódio. Desprezo. Ignorância. Parece até mesmo que nos últimos 300 anos a humanidade, e todas as raças que se uniram a gente para criar a Federação, melhoraram num único ponto desconfortável. O amor. Já vi naves combatendo ferozmente umas com as outras. Vi raios C atravessando os portões de Tauhassen a 10.000 anos-luz daqui. Vi a vida ser criada de uma maneira ímpar quando do nascimento de uma criança, mas, até hoje, não vi uma compaixão verdadeira de nenhum por ninguém. Só vi e ouvi e revi todos os erros aparentes e não-aparentes que todas as raças vem fazendo insistentemente. Mesmo aquelas raças que creem em algo superior, Deus, Aljezim, os Profetas, até mesmo aqueles malditos Qs, não tem uma real noção do que a vida o é. Do real significado que a vida deveria representar a elas e de como aquilo passa batido para todos. Já vi, e tentei compartilhar da melhor maneira possível, o meu ponto de vista daquilo que eu acredito, que não seja o mais correto, mas que dê uma pequena noção de como a vida deveria ser vivida. Doei-me por completo, sem egoísmo, sem a necessidade de pedir algo em troca além da própria vontade em si de viver, mas o que se tem foi o oposto, o completo contrário daquilo tudo que eu defendia. Mas o que eu posso fazer? Nós todos somos apenas seres vivos, carregados de erros e acertos em toda a nosa vida. Lutamos, consciente e inconscientemente por um espaço na vida que existe ao nosso redor e, muitas vezes, não medimos consequencias daquilo tudo uqe fazemos... e acabamos nisto..." - E apontou para si mesmo. "Somos apenas sombras daquilo que poderíamos ser, se fossemos mais livres de nossas próprias amarras que nos enclausaram cada vez mais." - Disse Summers completando-se. "Somos uma imagem invertida daquilo que fomos criados a sentir. Urge a necessidade de provamos mais a si mesmo do que para os outros e também para os outros do que para nós mesmos que somos independentes, de que não precisamos de mais ninguem, mas, quando na verdade, somos frágeis e necessitamos uns dos outros, mas quando mostramos esta dependência, as pessoas se afastam porque não querem fracos ao redor delas."

Ele se levantou e sorriu e suspirou compadecido daquilo que estava dizendo.

Summers: "Poderíamos ser muito mais do que somos... poderíamos estar num outro patamar de existência, mas enquanto fomos superficiais em nossos desejos, anseios e sonhos, nunca conseguiremos passar deste estágio da vida. Sempre seremos fisicamente terrenos. Seres que nunca sairam do seu estágio primitivo de agir e pensar. Continuaremos estagnados nesta forma decadente e, por mais que evoluamos tecnologicamente seremos estes seres... com a capacidade de pensar limitada por nossa pouca visão de vida." - E foi, pouco a pouco, arrumando a sua farda e o seu commbadge. "Mas eu lutarei para que as coisas sejam como deveriam ser." - E gritou. "Nem que eu tenha que explodir esta porra toda." - "Leme, ao meu sinal, vamos em direção aquele buraco de minhoca. Todas as outras naves, fiquem de prontidão."

(Enviado por Daniel Gomes)