Síndrome da Bota Preta Adquirida
Waldir ganhou como presente de aniversário, uma confortável bota de couro preto, cano curto com um bico arredondado e um salto de borracha que marcava o chão feito pneu de trator. Partir deste dia algo mudou sensivelmente na sua vida ordinária. A felicidade conquistada com a bota fez o moço viajar lucubrado nas mais exóticas abstrações, passando então em certas horas, ficar nu diante do espelho imitando golpes de Capoeira. Se este mero contista fosse Herbert Viana e tivesse os Paralamas do Sucesso, diria que Valdir “passou a se sentir total”, não com seu sonho de metal e sim com sua bota preta que no interior estava escrito EPI (Equipamento de Proteção Individual). No futebol de domingo no campinho da amizade o velho freqüentador da pelada, não pôde mostrar seu melhor futebol, já que vestido de camisa, calção e meia, além da caneleira e tornozeleira, estava com a bota brilhando sob o solo opaco. Nem a chuteira colorida da marca que o fenômeno usou, oferecida com carinho foi capaz de impedir a decepção do atleta que não conseguia mais se livrar da Bota preta e se foi sem jogar. A esposa até que conseguiu tolerar por várias vezes na cama quente de amor, quando aquele calçado já imundo lhe causara inúmeros hematomas nas pernas, porém entrar na casa encerada deixando aquelas pegadas era além do que qualquer mulher pode suportar. Também vinha juntar-se aos desconfortos o choro das crianças agredidas com as botinadas no traseiro quando o pai desagradava de alguma coisa. No serviço Valdir recebeu advertências, reincidente foi demitido poucos dias depois. Mais alguns a frente à mulher arrumou as malas e foi embora. Valdir decididamente estava fora da compreensão normal, porém, nada se notava de diferente na voz ou na forma do raciocínio aparente. Era um caso difícil de se analisar, muitos Psicólogos e Psiquiatras deitaram sobre tratados por noites e dias e nada fora descoberto. Então um grupo de quase dez amigos, decidiram que a coisa teria que acontecer a força, para o bem daquele amado cidadão o jeito deveria ser o mais bruto possível, arrancar aquela bota a qualquer custo. Assim foi feito, todavia, usando um lugar-comum,”o tiro saiu pela culatra”. E como já dizia Zé Gamela, “o couro comeu na casa de Nóca”. E não foi pouco, tantos foram os chutes que levaram que um dos amigos achou que o mundo estava se acabando em botinadas. Mas, como sempre há uma luz que brilha no fim do túnel, nem que seja para arrastar o sujeito para o lado de lá, um dos Pesquisadores mais dedicados, descobriu nos textos Sumérios de escrita Cuneiforme que houvera casos semelhantes naquela antiguidade, e a seguir uma citação de Hipocrates datada de 375 antes de Cristo. Neste intervalo pouquíssimos casos foram sugeridos pela história, porém só em 1732 que o Psiquiatra Francês Phillipe Pinel batizou a patologia como Síndrome da Bota Preta. O mais famoso dos pacientes desta enfermidade foi sem duvida o mestre das artes marciais, Roteirista e Filosofo Bruce Lee. No Brasil tivemos o jogador de futebol Nelinho que atuou nos dois principais clubes mineiros e seleção brasileira. A Síndrome da Botina Preta fez com que o jogador se tornasse um dos maiores batedores de falta do mundo. Tem um caso curioso de um cara que trabalhou em alguns filmes de Kung Fu da sessão trash da televisão, sempre aparecia dando chutes em pés de coqueiros e até em barras de ferro, segundo relatos também era possuidor da Fobia Social, por isso pediu que jamais fosse revelada sua identidade.Foi respeitada sua vontade e ele morreu anônimo. Valdir infelizmente não tivera a mesma sorte dos outros portadores da doença, na quarta tentativa de arrancarem suas botas, chegaram a conclusão que aquilo só poderia ser coisa do capeta e por unanimidade de um pastor, um padre e mais um fanático que é contra o uso do preservativo nas relações sexuais, amputaram lhe as d