Os Senhores da Guerra

“Estou aqui enfrentando todos os meus temores perante a vida e muito mais além. Será que eu estou realmente preparado para tudo que me foi disposto?”.

Será que conseguirei me levantar e seguir em frente para com a minha vida depois de tudo o que eu passei?

Se a resposta for não, seguirei. Se a resposta for sim, seguirei ainda mais forte.

Mas o momento, tal qual como está sendo configurado, não me deixa outra escolha além da nulidade de toda a matéria que me foi exposto até então.

Tenho medo do que possa ocorrer a seguir e, muito mais ainda, do que poderá deixar de ocorrer. Não tenho tanta escolha como tinha há muito tempo. A cada segundo apenas penso no que fiz no meu passado, mas o presente me atormenta para tomar maiores decisões e as farei agora.

Uma confissão tenho a fazer, minha amiga, não sou e nunca fui um idiota, não por completo, canso-me de sempre ter que começar nalgum lugar novo, mas, como tudo na vida, sou obrigado a tanto. Será que somente assim aprenderei com os meus erros? Será que somente assim saberei que tem alguém tirando o melhor de mim?

Tantas perguntas e pouco tempo para pensar nas respostas que eu posso obter. Mas, quem sabe, um dia alguém poderá me responder. Fico ponderando o que os outros escrevem e dizem para as suas famílias, para os seus entes queridos ou para os que morreram nas batalhas árduas que se seguiram anos a fio. Todos têm algo a se lamentar, assim como eu.

Pois bem, não sei quando uma outra poderei lhe enviar, mas espero, sinceramente, que esta não seja a última, não mesmo.

Thomas”

Rapidamente o Capitão selara a sua microcarta e criptografou-a dando para o correspondente que ali estava. Era a última remessa que os soldados da União Terrana poderia enviar para a Terra naquela árdua Guerra contra os Sephiroth, uma raça que invadiu o Sistema Solar a mais de 10 ciclos terrestres.

Plutão, as luas de Netuno e Urano foram retomadas a menos de 10 meses e, agora, a União Terrana estava no Planeta Obscuro, num ponto distante do Sistema Solar. Os soldados haviam chegado lá por meio de um aparelho alienígena que foi encontrado em Plutão, uma espécie de portão hiperdimensional.

Decididamente não fui uma das melhores idéias da U.T. Aquele lugar era totalmente inóspito e muitas das armas terrestres deixaram de funcionar. Somente algumas bases, nalguns bolsões protegidos pela radiação desconhecida emitida pela atmosfera, funcionavam a contento e davam o apoio necessário para a batalha continuar no planeta.

Todas as bases terrenas desperdiçavam muita energia por causa da necessidade de tentar retirar o máximo possível de oxigênio da atmosfera, o que era um trabalho muito laborioso e, ainda mais, pelo fato da necessidade de escudos de força superficiais nas construções por causa dos elementos corrosivos que pairavam no ar pesado do planeta.

Thomas estava dando a sua segunda salva de tiros de plasma em direção a uma espécie de tanque inimigo. Os seus disparos pouco adiantavam para aquela forma blindada que avançava a cada metro e parecia que não podia ser detido de forma alguma. Além de Thomas vários outros soldados faziam o mesmo. Mas nada adiantava.

- E os reforços aéreos? – Perguntou Manoel soldado raso comandado por Thomas.

- Vão chegar em 20 minutos. – Disse Isabelle. – Parece que eles estão com problemas no Setor Capa-Omega-22, dois flutuadores-bomba estão atacando com tudo a Base Alpha. Temos que nos virar como podemos. – Continuou enquanto verificava as suas cargas de plasma, tinha um pouco mais de 5 pentes cada qual com 100 tiros.

- Vinte minutos?? – Gritou Thomas. – Não temos esse tempo todo. Em cinco mais desses bichos podem chegar. E não temos armas suficientes. O que será que deu neste pessoal da U.T afinal? Qual foi a vantagem de termos vindo para cá?

- A mesma vantagem que alguém questionou quando atacamos o Fi Site em Plutão quando conseguimos retomar aquele planeta. – Disse o Sargento Eleator, oficial superior do 2º Pelotão que era composto pela unidade de Thomas, Jefferson e Williams. – temos que tomar este planeta e para já.

- Se fosse possível... – Questionou Williams. – Mas do jeito que estamos indo não iremos para frente de forma alguma.

- Se os senhores querem questionar as ordens da U.T estão bem-vindos, mas que tal fazer isto depois que conseguimos derrubar aquele biotanque? – Falou sarcasticamente Jefferson – Creio que vocês não se esqueceram que iremos ser mortos quase não o paremos.

E mais um tiro de Plasma Biocarregada é atirado pelo tanque. A onda de energia passara pelas árvores até atingir o solo fazendo um som ensurdecedor. Uma onda de choque veio em seguida fazendo vários soldados caíram ao chão.

Quando estes se levantaram e observaram ao horizonte uma outra surpresa lhes aguardavam, vários outros biotanques estavam se aproximando.

- Agora ferrou. – Falou Thomas. – As chances que eram poucas foram para baixo de zero.

- Chega de pessimismo – Gritou o Sargento – Artilharia pesada.

- Senhorrrrrrrr. – Chegaram dois soldados munidos de um canhão de quarks.

- Atirar nos flancos da direita e da esquerda. Vamos isolar cada tanque com os isótopos de quark. Teremos tempo de formar algum plano para que eles não avancem em direção de Q´otogh-mor. – Falou Eleator – Eles não podem tomar as minas de Biometal de forma alguma.

- Senhor, temos apenas cinco cargas de quark, acho que não serão suficientes. – Vira a frente doze tanques.

- Atire... apenas atire. – Disse o Sargento – Quando eles atirarem vamos para o Setor 223. Todo o pelotão tem que descer urgentemente.

Os dois soldados, então, preparam os seus tiros. Quando foi disparado o primeiro uma gigantesca bolha de energia saíra do canhão e esta soltava raios para todas as direções possíveis. Vagarosamente tocou o chão e lá chegando pulsava uma energia que atrapalhava os biosistemas dos Sephiroth e, assim, retardando um pouco o avanço dos biotanques. Assim foi feito com as outras quatro cargas.

Não demoraria muito tempo para que os tanques encontrassem uma nova rota para prosseguir em direção a Q´otogh-mor.

Todo o pelotão, então, recuara em direção ao setor 223.

- 15 minutos para a chegada o reforço aéreo chegar. – Informou Isabelle.

Enquanto o pelotão percorria todo o caminho de volta ao setor 223 – que ficava a um pouco mais de nove quilômetros das minas – eles foram pegos numa emboscada. Franco-atiradores pegaram, em cheio, dois soldados dos 10 de cada equipe do pelotão.

- Protejam-se – Ordenou Jefferson. – Franco-atiradores.

Cada qual ao seu modo se escondeu da melhor maneira possível. Os corpos dos dois soldados ficaram ali estendidos, juntamente com o correspondente que estava entre eles e fora atingido antes que pudesse se esconder. A carta de Thomas ainda estava com ele e antes que o mesmo pensasse em recuperar os corpos dos três recém-mortos humanos foram transportados.

- Nãaooooooooooooooooooo. – Gritou Thomas.

- Calado... – falou baixo Williams. – Quer chamar a atenção deles?

Um silêncio sepulcral tomou conta de todo o lugar. Nenhum dos soldados agora se moviam em hipótese alguma, mas tinham que fazer algo, pois em pouco tempo os tanques estariam voltando a ativa e os que não foram desativados já poderiam estar contornando os campos contaminados de quark.

Com um movimento rápido das mãos Jefferson pedira para dois de sua unidade vasculharem o lugar com os sensores de movimento, mas nada, nem mesmo o movimento de algum animal silvestre era captado pelo sensor. Era totalmente inútil procurar algo ali.

- Vamos morrer... – Disse um soldado raso, primeiro ano ainda por causa das suas insígnias.

- Não vamos morrer. – Disse Isabelle.

- Como você sabe disso?

- Já passei por coisas muito piores e eu posso dizer que não vamos morrer. Se fossemos morrer, realmente, você não acha que eles já estariam jogando granadas de neutrinos ou algo do tipo? Eles não querem nos querem mortos, talvez capturados, mas não mortos. – Concluiu Isabelle – estratégia militar, o único elemento universal em toda a Via Láctea. – Continuou.

Um som distinguível vinha ao fundo da trilha, era um dos tanques que conseguira contornar o campo contaminado de quark.

- Se não íamos morrer antes... agora vamos. – Disse o desesperado soldado.

- Ali... – falou um dos soldados que fora ordenado por Jefferson a procurar pelos franco-atiradores. – Rapidamente dera dois tiros certeiros nos mesmos, fazendo-os cair de cima das árvores onde estavam escondidos.

- Vammoooosss... temos que correr – Disse o amedrontado soldado que saíra afoito do seu lugar antes do ordenado.

- Não seja... – Ia falar Isabelle até que outro tiro passara direto no tórax do soldado explodindo-o e jorrando sangue para o lado onde estavam outros soldados. Devido o ar corrosivo do planeta o interior da armadura no qual o soldado estava dentro rapidamente se dissolveu. A sua carne virou uma pasta avermelhada e mais nada sobrara.

Quando o tiro foi efetuado pelo franco-atirador os soldados do 2º pelotão prontamente atiraram na direção donde este veio e acabaram por pegar o mesmo.

- Tudo limpo? – Perguntou Jefferson.

- Talvez não... quando os tiros pegaram os primeiros eu ouvi 4 sons diferentes. Eram quatro franco-atiradores. – Disse Thomas que, assim como alguns outros, fora melhorado geneticamente no seu nascimento e tinha vários dos seus sentidos mais apurados que o Homo sapiens normal, estes geneticamente modificados eram chamados de Homo sapiens geneticus.

- Não podemos ficar aqui para sempre – Disse Eleator. – Os tanques estão cada vez mais próximos. De acordo com os sensores.

- Então... – Thomas se embreou mata adentro e o que pudera ser ouvido em seguida foi um grito abafado de dor e, segundos depois, um Thomas manchado com um sangue azul.

- Como??? – Perguntou uma assustada Isabelle.

- Eu sabia onde ele estava, mais ou menos... apenas sabia... – Disse Thomas.

- Pouco me importa como e porque você sabia... temos que sair deste buraco e é agora. – Gritou Eleator. – Pelotão a frente.

(...)

Depois de mais vários minutos andando até o Setor 223, o pelotão enfim chegara ao local, mas, para a sua surpresa, tudo estava destruído.

- Droga... não devíamos ter saído daqui. – Disse Isabelle – Foi perda de tempo tentar destruir a fábrica dos biotanques... de nada adiantou...

E vira toda a destruição ao seu redor. O hospital que tinha vários soldados feridos estava ardendo em chamas. O deposito de armas não existia mais e corpos e mais corpos pairavam no chão, alguns derretidos por terem as armaduras expostas ao ar corrosivo.

- Tudo perdido... estamos perdidos. – Falou mais um soldado desesperado.

- É desta maneira que não iremos, jamais ganhar. Estaremos sempre perdendo para estes Senhores da Guerra. O desespero, o medo, a falta de esperança. São estes que fomentam esta guerra e, ainda mais, é o medo, o maior dos Senhores, que nos faz recuar a cada ponto enquanto os Sephiroth avançam. – Disse Eleator – Aqueles que perderam a guerra para estes senhores, se retiram agora, mas eu, não... continuarei aqui. – Continuou – Os senhores da guerra não irão ganhar esta batalha e mais nenhuma outra. – E pegou o resto de suas armas e foi em direção aos tanques que vinham a toda velocidade.

Alguns poucos soldados olhavam desconfiados com a atitude de Eleator e não resistiram ao desespero soltando as suas armas e correndo em direção as minas, onde achavam que estariam mais seguros. Muitos outros foram se juntar a Eleator.

- Não aos Senhores da Guerra... – Gritou Eleator sendo seguido pelos outros soldados e comandantes do pelotão.

E correram em direção aos tanques.

- A Terra há de triunfar. – Gritou a todos os pulmões Eleator.

Então um barulho ensurdecedor veio e um brilho fora criado no meio dos tanques e, depois, silêncio.

FIM