A ESTRELA SALVADORA

Bruna sempre gostou muito de escrever, desde que era criança, morando numa pequena cidade do interior de Pernambuco. Na escolinha era a aluna mais aplicada da sala de aula, com excelentes notas. Passava boa parte do seu tempo lendo revistinhas em quadrinhos, que na adolescência foram substituídas pelos livros. Começou então a escrever o que vinha na sua mente, basicamente historinhas com doses de aventura, amor e suspense. Após concluir o ensino médio, estava decidida a fazer um curso superior de Letras, pois assim estaria habilitada a revisar os seus próprios livros que iria escrever. Pensava em ser uma escritora de sucesso, como os autores das obras da sua biblioteca particular, tanto os nacionais quanto os internacionais.

Achava fascinante o fato de alguns títulos campeões de vendas nas livrarias tornarem-se também campeões de bilheteria nos cinemas, ao serem adaptados para filmes. Suas viagens em intercâmbio cultural para outros países foram úteis para que ela aprimorasse o idioma inglês que estudou na universidade. Em uma dessas viagens, conheceu na Austrália uma jovem estudante chamada Jane, cuja mãe era dona de uma editora de livros em Melbourne, então Bruna viu ali sua chance de divulgar seu talento literário para o mundo.

Jane apresentou Bruna à sua mãe, Elizabeth, que se mostrou interessada em avaliar o talento literário da bela brasileira de cabelos ruivos, principalmente porque conhecia a fama de um outro brasileiro que conquistou o mercado internacional de livros, chamado Paulo Coelho. Bruna deixou cópias de alguns escritos seus com Elizabeth e algumas semanas depois, as duas estavam acertando os detalhes para a publicação da sua primeira obra, causando grande expectativa em Bruna, que acabava de receber um adiantamento em dólares pela exclusividade com a editora australiana.

O sucesso foi imediato. Em poucos anos Bruna já havia conquistado fãs em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Ela agora era uma mulher independente, reconhecida pelo seu talento literário, com suas histórias envolventes, cativando o leitor até a última página. Viajava o mundo dando palestras, lançando novos títulos, dando entrevistas em programas de televisão e jornais, conhecendo pessoalmente outras celebridades, tudo o que ela sempre sonhou. Tornou-se uma investidora do dinheiro que ganhava, fazendo aplicações no mercado financeiro e comprando imóveis.

Em uma de suas viagens de férias, foi conhecer os paraísos tropicais da Indonésia, onde comprou uma pedra de origem vulcânica como souvenir em uma feira de artesanato. Ao retornar ao seu apartamento no Rio de Janeiro, a pedra caiu pelo fundo da caixa de papelão que Bruna carregava, quebrando-se em vários pedaços, revelando um anel que se encontrava em seu interior. O anel possuía uma pedra rósea de formato retangular, com uma estrela de oito pontas esculpida na sua superfície. Ele serviu perfeitamente, e a cor da pedra era coincidentemente a cor favorita dela.

Viajava muito de carro para obter referências dos locais que serviriam de cenário para as suas tramas. Pelas estradas sinuosa do litoral grego, tinha conhecimento de lendas mitológicas sobre certo monte misterioso, palco de batalhas entre monstros e deuses. Bruna presenciou então um fenômeno raro, uma chuva de meteoritos em plena luz do dia, atingindo o mar próximo de onde estava, o que lhe causou apreensão. Inesperadamente, uma das pedras incandescentes fez uma curva em sua direção, atingindo o asfalto sob o carro, arremessando-o nas águas, para desespero de Bruna. O veículo afundou rapidamente, inundando seu interior, causando pânico em sua ocupante.

As portas não abriam, os vidros estavam emperrados, não havia mais ar dentro do carro, apenas água. Sem fôlego e sem saída, Bruna notou que seu anel emitia um brilho intenso, como uma lâmpada, e inexplicavelmente, uma onda de energia lhe atingiu como um relâmpago, tão intensa que fez o seu carro explodir. Ela estava agora solta nas águas, e os destroços do seu veículo afundando ao seu redor. Olhou para o anel que continuava brilhando, mas sem saber como, sentia-se revigorada, e desejava voltar à superfície. Então subiu como um míssil.

Seu corpo rompeu as águas em direção ao céu, como se estivesse voando ! Mas ela estava realmente voando, e parou no ar para ver o que aconteceu. Não havia explicação racional para aquilo. Bruna estava em pleno ar, suas roupas haviam sumido, dando lugar a um uniforme colante avermelhado, com uma estrela grande cor de rosa no tórax, usando luvas e botas da mesma cor. Só podia estar sonhando. Pensou que houvesse morrido afogada no carro e que estaria deixando o mundo, mas sabia que a realidade ainda era a mesma de antes. Como era possível ? A explicação só podia estar no anel, que continuava brilhando.

Sua atenção voltou-se aos meteoritos que continuavam a cair. Ela sentia que poderia fazer alguma coisa, e voou na direção deles, tão rápido quanto os mesmos, e ao se aproximar, destroçava-os com um soco. Era como se fosse uma heroína das histórias em quadrinhos que lia quando pequena, ou até mesmo uma personagem dos filmes de Hollywood. A chuva de meteoritos continuava a cair e poderia provocar vítimas fatais caso atingisse as áreas urbanas. Mas Bruna estava disposta a fazer o que estivesse ao seu alcance para impedir mais tragédias. Continuou a destruir as pedras cósmicas no ar, mas eram muitas.

Um dos meteoritos atingiu a linha férrea em uma ponte nas montanhas, e havia um trem parcialmente pendurado na parte quebrada, ameaçando cair a locomotiva e o vagão de passageiros a ela engatado. Os passageiros gritavam desesperados, e apesar da distância, Bruna escutou, deslocando-se até o local na velocidade de um caça supersônico. Mas o pior aconteceu. O engate do segundo vagão não suportou o peso do primeiro vagão e da locomotiva, que despencaram no abismo. A vida daquelas pessoas estava resumida aos poucos segundos restantes até o impacto nas rochas abaixo.

Porém Bruna alcança o vagão, segurando firme na ferragem traseira, forçando-o para cima, na tentativa de frear a queda. O chão se aproximava rapidamente, e nossa heroína usou toda a força que lhe restava, conseguindo suavizar a queda, pousando a locomotiva e o vagão em segurança no chão. Os passageiros e o maquinista saíram para ver o que aconteceu, e avistaram a figura de uma mulher em traje colante colorido sumindo nas nuvens. O perigo não havia terminado. Os meteoritos continuavam a cair e mais pessoas poderiam estar correndo risco de vida.

Chegando na metrópole, Bruna avistou prédios e ruas atingidos pelas rochas espaciais, os carros de bombeiros e ambulâncias socorrendo pessoas feridas. A polícia tentava manter a ordem no meio do caos. A imprensa já estava cobrindo os acontecimentos. Em um prédio que ardia em chamas, uma garotinha agarrada com seu ursinho de pelúcia chorava, isolada no seu quarto de criança por labaredas de fogo. A velha estrutura daquela edificação estava por desmoronar abalada pelas altas temperaturas. O socorro não iria chegar a tempo, mas Bruna chegou, entrando pela janela do quinto andar, pegou a menina e saiu abraçada com ela, que não largava o ursinho, enquanto o prédio ruiu no último segundo, levantando uma imensa nuvem de poeira ao redor.

Ao descer até a rua, Bruna entrega a menina ao para-médico da ambulância que se encontrava ali próximo, que fez uma expressão de espanto, ao ver uma mulher pousar na sua frente como um pássaro. De súbito, ouviu-se um estrondo, e pessoas gritando, apontando para o alto de um edifício onde uma enorme antena de estação de TV despencava, arrancada de sua base por um meteorito e que esmagaria pessoas e veículos na rua abaixo. Imediatamente Bruna sai em vôo rasante para segurar a antena de várias toneladas em pleno ar, a poucos metros de atingir os carros.

Ela própria não estava acreditando no que fazia, conseguindo subir com a antena até o terraço do edifício, onde a depositou deitada. Olhando ao redor, viu que os meteoritos não caiam mais, e que os estragos na cidade não foram muitos. O resto do serviço ela podia deixar por conta das autoridades. Sua missão havia terminado. Agora iria retornar a sua vida normal. O seu carro que havia perdido no mar estava com o seguro em dia, o que lhe garantiria um novo. Estava ansiosa por um banho. Adentrou no hotel pela janela do seu apartamento no penúltimo andar.

Uma dúvida lhe ocorreu ao se olhar no seu quarto. Como iria conseguir voltar ao que era, uma pessoa normal, sem superpoderes e com as mesmas roupas que vestia antes de se transformar totalmente ? Então olhou para o seu anel, o provável causador daquilo tudo, e novamente ocorreu o estranho brilho da pedra rosada, seguido de uma nova descarga de energia que a envolveu como eletricidade, fazendo com que voltasse a ser a pacata escritora Bruna Natália. Estava claro agora. O anel obedecia as ordens do seu cérebro. Ela desejou voltar a ser como antes e foi atendida. Mas de onde teria surgido este anel ? A quem pertenceria ? Tudo isto era um grande mistério que precisava ser esclarecido.

Após um banho revigorante, Bruna relaxa na sua poltrona ainda com o roupão, assistindo o noticiário da TV onde um repórter transmitia ao vivo os desastres causados pela chuva de meteoritos no centro da cidade, flagrando o momento da chegada de uma figura feminina cruzando os céus, despedaçando as pedras espaciais no trajeto do seu vôo. Aquilo serviu de alerta para Bruna. Ela não poderia se expor daquela forma, pois era uma pessoa de renome internacional. Poderia ser prejudicial à sua carreira de escritora. A solução seria usar uma identidade secreta, talvez com auxílio de uma máscara, para não ser reconhecida.

Por coincidência ela tinha uma máscara discreta, que havia usado no famoso Carnaval de Veneza ano passado. Era uma máscara adesiva, sutil, cobrindo apenas os olhos e da cor rosada igual à estrela do traje de heroína. Estava resolvido o problema. Mas como iria se chamar sua mais nova personagem ? Uma mulher poderosa, cujo anel possui uma jóia cor de rosa, guardiã do seu poder. E veio em sua mente algo como Poderosa PINK, que em inglês que dizer “cor de rosa”. Tinha tudo a ver com Bruna, que tem rosa como a sua cor favorita, até mesmo nos cabelos, de tom ruivo.

Sua vida agora tomava um novo rumo. Teria de dividir seu tempo entre escrever suas obras e ajudar as pessoas em apuros. Mas tudo o que acabara de passar foi muito gratificante. Sentiu-se feliz por salvar tantas vidas. Estava disposta a fazer muito mais assim que fosse necessário. Os seus novos poderes tinham um propósito de terem surgido e este propósito seria ajudar a humanidade. Poderia ser até tema de mais uma obra sua, e com certeza de ser mais um sucesso literário. Por enquanto ela iria pensar melhor na idéia. Uma boa noite de sono era o que mais precisava agora.

Vários quilômetros dali, numa região montanhosa, uma enorme cratera aberta por um dos meteoritos arrancou as árvores ao seu redor. No centro dela, a rocha espacial ainda expelia fumaça. Então algo bizarro aconteceu. A rocha vibra e se parte, revelando em seu interior uma criatura redonda, com tentáculos semelhante a um polvo, mas repleto de espinhos por toda a sua pele rachada como o chão do leito seco de um rio castigado pelo sol. Um olho imenso e negro se abriu no que parecia ser a cabeça da criatura. Este olho estava rodeado de outros pequenos olhos, também negros e brilhantes. A chuva de meteoritos foi uma forma de invasão alienígena, o que representava o início de uma furiosa batalha para a nossa heroína Poderosa Pink.

FIM

Pedro de Goiana
Enviado por Pedro de Goiana em 15/08/2011
Código do texto: T3160571
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