Entendam.

- Entenda como bem quiser entender. - Disse eu perante a uma junta de físicos quânticos - Eu fiz o que tinha de fazer para o bem maior, ou para algum bem que fosse. - Continuei sentado encarando aqueles rostos frios e sem nenhuma emoção aparente. - Eu tentei não interferir, como você me pediram, mas eu não iria imaginar que o que fiz viesse a causar tantos estragos, como bem me avisaram.

- Sr. Summers. - Uma cientista estava conduzindo todo o pelotão do interrogatório. - Nós presumimos que o senhor não iria causar nenhum problema para com a missão porque tínhamos em relatos que o senhor era o homem perfeito para o tipo de missão.

Eu assenti positivamente com a cabeça enquanto ela remexia alguns papeis que estavam a frente dela. Não tinha muito o que falar agora, pois, sabia que a paciência deles estavam se esgotando.

- E, assim, pensávamos que o senhor seguiria a risca o que lhe foi ordenado, como muitos outros, em outros tipo de missões, assim o fizeram. Sem pestanejar.

Ela, então, fechou com um pouco de força a minha ficha e ficou encarando a minha pessoa. Talvez quisesse analisar o que eu iria dizer a seguir, ou qualquer coisa do tipo. Sabia, de certa forma, o que eles gostariam de ouvir, mas não seria sincero de minha parte se assim o fizesse. Tinha de fazê-lo do meu jeito e a contra-gosto deles.

- Obedecer ordens é uma das coisas mais fáceis que podemos fazer senhora. Sem pestanejar, sim, também, mas eu não sabia... se eu soubesse para o que eu estava sendo levado, talvez não tivesse aceitado tal missão.

Um jovem, outro cientista, com os seus 22 anos - talvez um pouco avançado demais para sua idade para estar ali - suspirou brevemente e, em seguida, sussurrou algo no ouvido da pessoa central daquele conluio, depois assentiu a cabeça positivamente e a porta atrás de mim se abriu.

- Provavelmente você não conhece esta pessoa que está entrando. Na verdade, Sr. Summers, você jamais deveria conhecer ela, de uma forma ou de outra. - Então ele se levantou e saiu da mesa onde estava na minha frente, indo em direção a uma jovem com os seus cabelos negros, olhos também da mesma cor e uma horrível cicatriz em parte do seu rosto. - Ela não deveria estar aqui agora, neste momento, na verdade.

Ele então agarrou-lhe no braço e a trouxe para perto de mim.

- Estas são as marcas deixadas pela Sangria. Um vírus altamente letal que veio a ser gerado por um programa que analisava uma provável vacina contra o HIV a 70 anos atrás. Você conhece a Sangria, não conhece?

- Sim senhor, conheço-a muito bem.

- Exato, sabemos que a sua mãe, Marina, contraiu a doença quando você ainda era um jovem, mas não sabíamos quem a realmente criou, até algum tempo atrás.

A minha carne queimava em vida. Eu sabia onde eles estavam querendo chegar e onde aquilo iria acabar. Eu tinha a opção de mudar, de dar uma nova direção a humanidade contra um dos maiores cataclismos biológicos desde o Vírus Z e a Doença de Alcabeck. Tínhamos o poder de mudar, eu tinha o poder em minhas mãos, mas fiz uma outra decisão, uma decisão errada... para eles.

- Mas quando o senhor chegou a época que sabíamos que isto iria acontecer, você hesitou.

- Senhor. - Disse com toda a força que tinha em minha alma - Sabemos que o HIV foi o inicio do Virus Z, antes de mais nada. Talvez uma cerpa que mutou-se ou uma nova linhagem que se mesclou com a vacina do vírus original. Eu só não poderia deixar isto acontecer novamente, não dá forma que os senhores quisessem que eu fizesse.

- Era algo muito simples. - A Cientista se levantou e olhou para nós três que estavámos no centro da sala de reuniões. - Para que o Vírus Z não se alastrasse, você só precisava destruir a paciente original e não deixá-la morrer naturalmente, como se deu na história como um todo. Se a paciente original tivesse sido morta, a Sangria talvez não tivesse se desenvolvido.

- Eu tinha de salvá-la.

- Sr. Summers, você, mais que ninguém, sabe que não existe cura para o Vírus Z e só conseguimos contê-lo depois de deixar todos os doentes presos em Madagascar, até não sobrar um único infectado e que tinhamos em mãos era um protótipo de vacina que poderia não funcionar. - Disse a cientista.

- Mas eu tinha de tentar... tinha! - Repeti com enfase. Não poderia deixar de escapar a possibilidade.

- Sim, tinha... e o que fez foi mudar radicalmente a história da doença. Agora a Sangria não é apenas um filhote do Vírus Z, mas algo muito mais virulento daquilo que era antes. E a culpa é sua.

- EU NÃO PODERIA MATAR A MINHA AVÓ... - Exaltei a plenos pulmões.

- A sua linhagem estava assegurada, e matando a sua avó, que morreu com a cerpa original do vírus Z, impediria que o seu avô pesquisasse sobre uma possível cura e, assim, não teríamos a Sangria e, agora, sabemos a origem dela... a nossa própria vacina, foi a nossa perdição.

- EU... NÃO... PODERIA... MATÁ-LA... - Minha alma queimava e eu sentia que a minha pele começava a queimar também.

- Levem-no daqui. - Falou a cientista enquanto pensava sobre os danos que eles causaram naquela linha do tempo, onde um pouco mais de 10 bilhões de pessoas sobreviviam nas grandes megaplexes, fusões das grandes metropoles do sec. XXI em colônias humanas autossuficientes, deixando mais de 80% da parte terrestre do planeta aos infeccionados pela Sangria, que mutacionava as pessoas, deixando-as loucas, ou criando pustulas gigantes e, por fim, fazendo-as digerir uma as outras.

Daniel Chrono
Enviado por Daniel Chrono em 26/06/2011
Código do texto: T3058570
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