Made in China
Bo voltava da escola com seus amigos como fazia todos os dias, ao seu redor nada de novo, o mesmo caminho de terra rodeado de montanhas e alguns terraços onde se plantavam arroz, um pouco mais perto a sua aldeia, separada da escola por uns poucos metros. Em dado momento ela se despediu de seus amigos e seguiu para sua casa, mas ela viu alguma coisa beirando o caminho que atiçou sua curiosidade, não soube dizer bem o que era, mas parecia uma das bugigangas eletrônicas que seu tio Chan trazia do leste, era uma pequena caixa amarela com alguns desenhos estranhos. Bo decidiu pegar a caixa e estranhou pesar tanto apesar de ser tão pequena.
- Como pesa! – ela disse a si mesma.
Ela chegou em casa com o objeto e todos já a esperavam para comer o arroz e o peixe.
- Bo, hoje você demorou – falou seu pai Chen.
- Olha o que eu encontrei pai! – disse a filha toda orgulhosa mostrando a caixa.
- Oh! O que é isso? – quis saber o pai.
- Não sei não pai, estava na estrada.
A mãe de Bo, Lin, se aproximou e disse:
- O seu tio Chan deve ter perdido isso, pois parece coisa do leste. Yang – gritou ela para o filho mais novo – vai chamar seu tio.
Yang foi meio a contra gosto, pois também estava curioso com o objeto. Mas quando ele voltou com o tio Chan a casa já estava cheia, seus avós e todos os seus vizinhos e parentes (na verdade naquela aldeia quase todos eram parentes) vieram ver o objeto.
- O que é isso tio Chan? – perguntou Bo.
- Humm, deixe-me ver. Parece ser algum novo produto de Shenzhen. Ouvi dizer que os japoneses já fizeram um negocio desses, mas Cantão deve estar produzindo agora.
- Mas para que serve tio Chan?
- Bem, isso eu não sei.
- Por que a gente não abre de uma vez? – gritou o pequeno Yang.
Então eles procuraram e remexeram o objeto de um lado para o outro em busca de alguma abertura, mas nada.
- E esses desenhos? – quis saber Lin – o que será que significam?
- Isso parece ocidental – disse Chen – esse negócio deve ser americano ou europeu.
- Pois eu acho que isso é indiano – falou Chan.
- Deve ser russo – disse Wong, um dos vizinhos.
- Ah! – se irritou Bo – que interessa de onde vem se não abre e não serve para nada!
Assim o interesse pelo objeto estranho foi se dissipando e os aldeões foram voltando as suas atividades cotidianas. Até na casa de Bo as coisas voltaram ao normal, o objeto foi largado num canto, depois usado como peso de papel, escora de móveis, poleiro para as galinhas e tudo o mais até que um dia Chan o redescobriu e o levou consigo em uma de suas viagens para o Cantão onde o vendeu a uma empresa de eletrônicos de Shenzhen dizendo que era a última novidade do Japão, ou talvez da Europa, ou dos Estados Unidos, ou mesmo da Índia...
“Como você foi perder nosso aparelho mais poderoso?”, perguntou Brunindar a seu comandado Trancobar.
“Desculpe senhor”, disse ele tremendo seus tentáculos de medo. “Foi um erro de calculo, pousamos no continente errado”.
“Bom”, falou Brunindar, “A única coisa que nos resta é voltar ao nosso planeta e alertar todos contra o risco que corremos”
“Risco senhor?”
“Sim Trancobar. Porque de todos os lugares nesse planeta, de todos os lugares nesse Universo, você tinha que perder o Tronbudum logo em um local chamado China? Muito em breve cópias mal acabadas do Tronbudum vão se espalhar pela galáxia a preços que nós não poderemos competir, e em um futuro próximo eles terão superado nossa tecnogia e então será o fim de nossa economia Trancobar, e talvez o fim de nossa raça.”
Os dois alienígenas ficaram por um momento pensativos em suas conchas e logo em seguida acionaram os controles e voltaram com sua nave para seu planeta condenado.