Momentos - Parte 3

Passou-se um bom tempo até que eles se reencontraram novamente. Nunca havia esquecido o seu primeiro nome, porque assim não podia e era tudo que precisava para se lembrar sempre dela. Lia. Um nome simples, nunca soube do seu sobrenome. Talvez tivesse medo de perguntar. De se aprofundar na relação e, por todo esse tempo, nunca soube o que estava perdendo.

Nunca esquecera de tudo dela, assim, do nada. De tempos em tempos pensava nela e, sabia, como a perdera, de alguma forma. E como não poderia reatar do nada até que o Destino faz a sua brincadeira novamente e eles dois se encontraram novamente.

Já estavam na faculdade. Conversavam via MSN e, também, Orkut. Era tão bom ter alguém para conversar novamente. E ele esperava que aquilo nunca acabasse.

No primeiro dia de aula dela fora acompanhar ela e sua irmã na biblioteca para ajudar a achar os livros necessários para os estudos. E assim o fez. E continuaram assim durante meses, os dois se conhecendo cada vez mais e melhor. O que era uma coisa boa.

Mas, um dia, com a presença dela, sentira alguma coisa estranha. Não se sentia bem ao lado dela. Algo de ruim emergia em seu estomago. Algo, realmente estranho.

- Tudo bem? – Perguntou ela.

- Sim... acho que foi só uma dor de barriga. Isso passa.

- Isso não é bom...

- Deixa... está passando já.

E, realmente, a dor havia passado. O estranho que não era só aquela vez que aquilo havia acontecido. Muitas outras vezes, mas ele não sentira nada tão forte, já haviam acontecido. Ele não queria alarmar ela.

- É bom ver um médico...

- Vou fazer... não se preocupe. – Disse ele sorrindo. – Deve ter sido alguma coisa que eu deva ter comido. Só isso...

(...)

Depois da bagunça que havia feito no banheiro, ele, finalmente, tomara um banho e fizera a barba. Tinha que ir trabalhar. Depois das férias que ele pensara poder ajudar a si próprio só fizera piorar a sua situação. O seu estado psicológico atual. Tudo ruía ao seu redor.

Chegou ao seu local de trabalho. Uma pilha enorme de fichas estava na sua mesa. Casos de loucura, obsessivos-compulsivos, esquizofrenia e muitos outros tipos era o que tinha a sua frente. Fazia seis anos que havia se formado em psicologia, desde muito tempo atrás esquecera informática, esquecera tudo e esquecera o que tinha deixado para trás, ou, pelo menos, assim pensava.

Tinha três consultas só naquela manhã. Casos crônicos de depressão profunda. Algo que passará após uma terrível separação. Nunca sentira uma dor tão imensa como aquela, ou, no caso, a dor que viera depois.

Quando algo de muito ruim ocorre, é de praxe o ser humano tentar esquecer aquela dor momentaneamente e, somente depois, com o tempo a dor volta e com uma intensidade nunca dantes imaginava. Calado do jeito que era, sofrera da pior forma possível. Quase se matara, quase, mas o valor que tinha da sua vida não o fizera.

Os seus amigos não entendiam aquilo, nem seus familiares, nem ninguém. Normal. Depois disso, desistiria das suas fantasias que foram destruídas uma a uma e saíra daquela cidade para nunca mais lembrar de tudo que perdera ali.

- Caso 2233-a. O paciente sobre de Toc, Transtorno obsessivo compulsivo. Isto é, se faz obrigar a fazer uma certa tarefa repetidamente até que fique “perfeita” para os padrões dele, algo impossível, então, de ser alcançado. Todos os medicamentos que o sujeito está tomando consta anexo numa folha. Será mandado para um Novo Instituto para que, assim, seja melhor tratado. – Jogou a pasta sobre a mesa. Muitos eram os casos assim. Uma pena que a humanidade chegue a esse tipo de loucura.

Sempre sem respostas. Ele mesmo não era um normal, mas, como a ciência avalia, está apto para viver como cidadão normal na sociedade sem maiores problemas para a mesma. Se eles soubessem a verdade.

Pegou quatro fichas que ele havia analisado e saíra de sua sala. No corredor do Instituto Psiquiátrico São Paulo. As mais variáveis espécies de doenças mentais podiam ser vistas ali nos quartos onde os “pacientes” eram trancados. Uma verdadeira tristeza. Ficar preso por sua própria consciência sem uma chance real de cura.

Por um pouco de tempo não seria ele que estaria ali? Se não fossem as jogadas do destino, seria ele sim. Por muito pouco.

- O que temos? – Perguntou ele aos guardas a frente.

- Dois tentaram escapar. – Disse um deles. – Mas demos tranqüilizantes a ele.

- O que deram?

- Tertizol.

- O que? Vocês derão Tertizol?

- Sim..

- Vocês não podem dar Tertizol assim do nada...

- Senhor, mas era que o paciente estava muito agitado.

- Vocês poderiam ter aplicado Corazdire. Daria o mesmo efeito. Tertizol só é dado em casos urgentes de surtos psicóticos. E este... – Olhando a ficha do paciente. – Não sofria disso. Tertizol pode causar alucinações e problemas do coração, caso vocês não saibam.

- Senhor... mas estávamos sem Corazdire no momento. Tínhamos que aplicar algo.

- Não seria melhor terem pego um cabo de vassoura e ter tacado no paciente? Era muito menos danoso. – Disse ele.

- Desculpe senhor mas...

- Não estou dizendo que era para vocês terem usado a violência, mas tem que tomarem cuidado ao dar os medicamentos aos pacientes. – Disse ele. – Algo mais? – Perguntou seguindo naquele corredor.

(...)

Daniel Chrono
Enviado por Daniel Chrono em 20/03/2011
Código do texto: T2860550
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