Projeto Cidade Transversal: A Torre Negra

Por mais que se tentasse o contrário, jamais conseguiria retroceder ao seu estado anterior. As perdas de tudo que tivera nunca mais seriam reavidas e quantas, e quantas, vezes tentou, em vão, voltar-se a um momento no qual nunca mais existiu?

Ele olhava absorto para o local onde estava por último e sentia uma certa repulsa, no começo quase insignificante, de si mesmo por não estar sentindo mais nada, ou, pelo menos, era isto que achava.

Outras pessoas se aproximavam do mesmo local e observavam cautelosamente o estado atual do lugar. Um cheiro putrefe saía de algum lugar do chão, mas ninguém conseguia achar o local preciso e, tão pouco, que cheiro era aquele, muito mais provável que as pessoas estivessem imaginando aquela sensação, como sempre ocorria num momento de aflição como aquele.

Alguém havia perguntado na multidão: "O que houve?"

Várias respostas foram dadas, mas somente Ele sabia a resposta correta, ou achava que sabia. Abaixou-se vagarosamente para em frente do local e revolveu a terra, uma mistura estranha que calcário, areia de praia e rocha magmática emergia dali, o que não era comum na região onde estava, o que causava ainda mais estranheza em toda aquela situação.

"Foi de súbito, sabe..." - Comentava um casal do lado dele. "Apenas aconteceu... e ninguém sabe realmente o porque... como um passe de mágica, entende...?" - Falou a mulher meio incrédula. O homem que estava do seu lado coçava a cabeça tentando entender a situação.

E cada vez mais pessoas se juntavam ao redor. Ele ainda tentava analisar a situação como um todo, mas pouco ainda conseguia entender. Enquanto fazia isto, ele não notava que o cenário ao redor começava a escurecer, uma espécie de sombra estava a tomar conta de todo o lugar.

Se levantou e atravessou os passantes que estavam ali. Ouviu, então, sirenes da policia e uma provável ambulância. Alguém havia morrido? Como? E ainda estaria o corpo? Na verdade, como alguém poderia ter morrido?

"Um clarão." - Disse um senhor de certa idade. "Estava indo na direção oposta, carregando o meu carrinho de mão, quando eu vi uma explosão, um raio..." - Coçou o queixo por um tempo e gritou como uma forma de afirmação para si mesmo. "Sim, foi um RAIO! um raio sem trovão, caiu aqui e... e... simplesmente aconteceu..." - E continuou a coçar o queixo.

A situação estava se tornando cada vez mais complicada, as pessoas, pelo visto, pareciam ter visões diferentes ao que havia acontecido ali, ou, quem sabe, estavam todos bebados e não sabiam exatamente o que estavam dizendo.

Ele queria ter uma visão mais clara do que estava acontecendo, afinal de contas, era o principal interessado naquele assunto. Suspirou e ficou zanzando por um tempo no local. As poucas árvores que ficavam ali por perto não deixavam nenhuma pista, na verdade, o evento havia acontecido num descampado aberto, sendo que, de um lado havia uma grande cerca onde, dali em diante, começava uma fazenda de plantação de milho. Alguns metros depois o descampado, algumas parcas árvores, depois disso o inicio de um vilarejo e uma estrada que parecia seguir no infinito. Aquilo tudo tinha sido muito estranho para ele.

E chegaram a policia e a ambulância. As mesmas perguntas que outras pessoas vinham a fazer quando ali chegavam foram feitas novamente pelos oficiais responsáveis e ninguém tinha certeza do que havia acontecido. Agora Ele não estava entendendo nada, pois ninguém se dirigia diretamente a Ele.

"Não se preocupe..." - Falou uma voz suave atrás dele, tocando-lhe o ombro. "Você não morreu..."

A escuridão ficou ainda maior e agora estava ficando completamente assustado. Se não transparencia antes, agora, se tivesse com a bexiga cheia teria mijado naquele exato instante.

- "Se não morri, o que está acontecendo?"

"Uma provação." - Disse a voz que se mostrou mesmo ao meio da escuridão. "Uma provação que você mesmo quis se provocar, porque precisava..."

"E como eu não me lembro disso?"

"Porque, ao chegar na Cidade Transversal nem todas as pessoas sabem o porque do seu caminho, de fato..."

"E qual é a minha provação?"

"Ver o extraordinário acontecer..." - E virou Ele em direção do local. E dali a sombra fulgurou num único lugar ainda mais forte. "Um milagre chamado evolução."

"Evolução?"

"Sim, você foi o primeiro de muitos do seu universo a se transformar naquilo que muitos temem... ser diferentes... neste caso, no seu universo, a sua raça terá o poder de controlar a massa escura e, consequentemente, a matéria ao seu redor. O que aconteceu com você é que como primeiro ser a chegar numa massa de efeito crítica, não suportou o peso das informações e acabou por se espalhar por completo pelo seu mundo..."

"E?"

"Agora fica a sua escolha. Você agora é apenas a projeção da sua essência aqui na Cidade Transversal. Iremos lhe devolver no mesmo lugar em que você 'sumiu' e terá de escolher entre sumir por completo ou ajudar a sua raça a evoluir..."

"O que acontecerá se eu escolher a primeira ou a segunda opção?"

"Simples... a primeira opção não ajudará a sua raça a seguir uma trilha segura de evolução, a segunda, o completo contrário, mas, no fim de tudo, vocês deixarão de existir..."

"Deixaremos de existir? Mas porque?"

"Um poder que vocês estão adquirindo não deixará quaisquer outras raças muito pacientes, provavelmente, como já aconteceu com muitas outras raças, vocês serão obrigados a se mudar... a virarem sombras... sombras de sois infinitos além do limiar..."

"Então, você, esta Cidade Transversal, está tentando me ajudar, nos ajudar, a seguir um caminho e o nosso irremedíavel fim? Não haveria nenhuma outra escolha..."

"Infelizmente não, o destino da sua raça já foi completamente traçado, alguns de vocês ainda poderão viver na Via Lactea, mas muitos outros ou morrerão ou desistirão da sua forma humanoide. Agora a maneira de como vão desistir dependerá da sua escolha..."

"Outras raças já tiveram tais escolhas?"

"Sim, e todas elas muito dificeis, menos ou mais que as suas... Agora está na hora... vá."

E uma Torre Negra pairou no meio do local. E a escolha havia sido feita.

Daniel Chrono
Enviado por Daniel Chrono em 23/02/2011
Código do texto: T2810146
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