A Cidade Transveral - Parte VI - Quando a Chuva cai.

(...)

E lá estavam eles no Bar do Fox, um lugar peculiar, diga-se de passagem, pois, a tempos atrás, um Bar do Fox havia sido aberto na USS Bishop e num piscar de olhos foi destruído. Na verdade todos os Bares do Fox haviam sumido da Federação e ninguém sabia dizer para onde o dono foi parar, talvez aquilo fosse a resposta.

Illix: "Fox, uma rodada de Cerveja Romulana para todos aqui, coloque na minha conta."

Então se sentaram a mesa Illix, Assudani, Raphael, Diana, Sarah, Michael e Dírana. Todos eles ansiosos por quererem algumas respostas e, também, dar algumas

para aquele novo cidadão da Cidade Transversal. Antes disso, um silêncio havia se instalado no Bar, pois as pessoas estavam admirando aquele novo viajante, a muito tempo, algumas daquelas pessoas esperavam por ele.

O Bar do Fox tinha uma arquitetura bem interessante. Diferente do resto da cidade, ali dentro tudo parecia remeter a uma nave da Frota Estelar, ou algo bem semelhante a uma. Como Fox Mcdonald conseguiu o material para construir aquele lugar, muitos poucos poderiam dizer, na verdade, como aquele lugar existia num

domínio subespacial, ninguém saberia dizer com precisão.

Chegaram as bebidas. Sete copos com a mais azul das cervejas romulanas. Summers cheirou o copo para averiguar a autenticidade daquela bebida e o cheiro inebriante e corrosivo passou por suas narinas, instalando-se por alguns segundos na sua glote, fazendo-o tossir duas ou três vezes. Era este o efeito que uma autêntica bebida romulana fazia ao ser cheirada. Depois veio o cheiro de magnólia quando o olfato se acostuma com o aroma da bebida, sim, realmente

parecia ser a verdadeira bebida romulana.

Assudani: "É, capitão, eu mesmo fiquei com algumas dúvidas sobre algumas coisas criadas neste lugar, mas até onde eu sei elas são tão verdadeiras quanto eu, você e todo o resto. Pedi permissão ao Sr. Fox para analisar a comida dele e me fez apostar duzentos créditos federativos na minha conta para demonstrar que tudo que ele servia era de verdade, posso dizer que estou um pouco mais pobre desde o dia que cheguei aqui." – Disse com um sorriso meio amarelado.

Michael Snaker observou aquela bebida por um tempo maior que Summers, enquanto que o Capitão já estava sorvendo um pouco daquela bebida. Não lhe era estranho bebidas virem naquela cor, mas era estranho que aquela bebida, antes de mais nada, fascinada a muitos que viam ali. Nunca havia bebido ela antes porque ninguém, desde que chegou ali, havia lhe dito o nome da mesma, ou melhor, esquecera de perguntar porque ainda estava fascinado com a Cidade como um todo.

Havia feito várias pesquisas a respeito da cidade, perguntou a várias pessoas e, excetuando Arcópole que lhe dera respostas bastante evasivas, poucos ali estavam prontos para cooperar ou sabiam o que dizer. Uma verdadeira frustração para um Cientista como ele.

Depois que Summers já estava na metade do copo, Snaker resolveu bebericar um pouco do que estava no seu. Depois de um longo gole, achando que não teria mal algum, ele sentiu a sua língua arder como se estivesse sendo colocada em brasa viva, em seguida a bebida fez queimar-lhe o seu esôfago de tal forma que começou a tossir aos borbotões, mas a pior parte vinha quando a bebida chegava ao estomago, pois parecia haver uma briga entre o ácido gástrico dentro dele e a bebida altamente alcoólica, em menos de trinta segundos ele sentia que o seu cérebro parecia ter sido esmagado por uma marreta e retirado do esgoto por um anzol, algumas poucas lágrimas saíram de seus olhos, enquanto tossia mais um pouco.

Dírana: "Michael." – Bateu nas costas dele. "Querido, você está bem?"

Sarah: "Bom..." – Riu-se vendo aquela cena com o coitado do Michael. "Parece que temos um virgem de cerveja romulana. Abençoados sejam os romulanos, uns filhos da puta, mas que sabem fazer a melhor cerveja do quadrante Alpha e beta." – Levantou o copo e deu dois goles.

Michael: "Eu... cof cof... estou bem... nossa, essa bebida é bem mais forte que qualquer uma outra que havia bebido no meu universo."

Sarah: "Pelo menos você pode dizer que sobreviveu a cerveja romulana, são poucos, de poucas espécies, que não caem em um mini-coma alcoólico depois do primeiro copo. Meus parabéns. Parabéns ao Dr. Michael Snaker."

E todos levantaram o seu copo e fizeram o mesmo brinde. Snaker, ainda sob o efeito "grogueador" da cerveja deu um sorriso meio amarelo e quase cai para trás, mas sendo segurado por sua mulher.

Iria passar alguns minutos até que o efeito saísse do cérebro da Michael, enquanto isto Dírana falou: "Sabem, nós sempre gostamos muito disso. De ficar numa roda de amigos, conversar, passar o tempo e relembrar as coisas de antigamente, sem contar." – E olhou lascivamente para Summers. "Conhecer novas pessoas." – E sorriu. "Pena que não temos outros de nossos amigos aqui, ou, pelo menos, ainda não encontramos mais nenhum deles por aqui."

Illix: "Sentimos muito por isso, mas, talvez, a sua condição, diferente de muitos outros de nós que talvez fique aqui para sempre, pois não temos mais lugar em nosso universo." – Ela tinha um olhar triste, relembrando dos seus momentos finais. Assudani tocou-lhe o ombro para dar-lhe um pouco de consolo para a sua amiga.

Summers: "Aqui é uma espécie de limbo ou purgatório?" – Perguntou quando já havia terminado o seu copo e agora estava atentando ao que estava por vir. "Ou algo mais?"

Helena: "Eu não acredito nisso." – Disse de pronto, mais para si mesma do que para a pergunta de Summers propriamente dita. "Eu sei que eu, e a minha tripulação, estou viva. Você viu a minha nave lá fora, assim como você veio na sua. E nem eu e nem você estamos mortos, estamos?"

Assudani: "Não..." – Ainda estava um pouco junta a Illix que tinha o seu rosto lacrimejado. "De forma alguma. Aqui é um lugar de segundas chances. Um local onde você, seus pecados e suas decisões, são refeitas. Cada um de nós está aqui por algum motivo, talvez..."

Dírana: "Talvez?" – Os seus olhos perscrutavam aquela jovem que parecia ter mais sabedoria que aparentava. "Não existe talvez em respostas, não se foram lógicas." – Dizia a cientista dentro dela.

Assudani: "Lógica? Você e seu marido, desde que chegaram aqui, apesar de terem um fogo de paixão incontrolável, onde os seus corações mandam mais que suas mentes, ainda estão presos a logicidade de suas mentes. Um cientista não deve se prender tão unicamente aos ensinamentos que lhe são dados ao longo do tempo.

Vocês bem deveriam saber disso, tiveram até as suas almas teletransportadas a longas distâncias..."

Michael: "Nós o que?" – O efeito da bebida havia diminuído grandemente e ele já estava mais atento a conversa ao seu redor. "Nossas almas teletransportadas?"

Illix: "Ankita, não se esqueça, alguns de nós não estamos aqui no mesmo tempo que sabemos da existência das Longas Jornadas de muitos outros. Se eles souberem a existência de suas escolhas antes do tempo, o mal pode vir em suas escolhas indevidas." – Havia recuperado da sua tristeza repentina e enxugara algumas de suas lágrimas de seu rosto. "Claro que não temos como saber realmente sobre o caminho de alguns."

Michael: "Vocês estão falando sobre o nosso futuro? Que alguns de nós tem o futuro relevado para alguns de vocês, sem a nossa anuência? Como pode isto acontecer?"

Illix: "Como Assudani havia dito aqui é um local de segundas chances e alguns de nós está por aqui para ajudar os outros a seguir o caminho e, para tanto, sabemos um pouco mais a respeito do futuro de vocês, mas não sabemos quando vocês são retirados de sua própria linha do tempo para chegarem aqui." – Explicou. "Estas motivações, talvez, o mestre yanovan possa responder melhor."

Michael: "Você quis dizer Arcópole?"

Illix: "Sim. Até onde sabemos ele é o ser mais velho que se encontra aqui. E sabe de muitas coisas."

Michael: "Se ele sabe de tantas coisas, porque ele não responde as minhas perguntas? Por que ele apenas fala como folhas que se deslocam ao vento sem nenhum motivo aparente? Por que..."

Illix: "Porque, Dr. Snaker, ele só responde aqueles que necessitam das respostas. Você é um homem de grande sabedoria e conhecimento." – Disse Illix. "E não precisa de respostas para certas perguntas suas. O motivo para que você está aqui pode ser algo completamente diferente. Talvez não seja para tentar entender o lugar, ou de como as coisas funcionam. Talvez seja para perguntar o porque, o que, para que e onde e, simplesmente, deixar-se levar pela correnteza." – Parecia que estava fazendo um discurso diretamente para Snaker, mas, na verdade, estava falando com todos ao seu redor, mesmo que eles não tivessem percebido. "Essa pode ser a quintessência de se estar aqui. Compreender sem entender. Viver, sem controlar. Saber sem perguntar." – Em seguida calou-se.

Todos estavam bastante pensativos com o que Illix havia dito. E, dentre eles, Summers estava bem perturbado, pois, quanto mais diziam, de uma forma bem metafísica, menos conseguia compreender o que se passava ali. Se, pelo menos, houvesse um manual de instruções, as coisas seriam bem mais fáceis.

E Michael foi o primeiro a falar: "Bom, depois deste sermão que, às vezes, todo cientista precisa ouvir de alguém que não esperava ouvir, pergunto, sem querer ser chato, será que poderiamos comer algo?" – Perguntou com um meio sorriso, não estava bravo com o sermão que havia ouvido, mas sim contente por alguém lhe mostrar o caminho das coisas que estariam por vir.

Helena: "Bem lembrado, eu mesma estou com fome e sequer havia notado isso." – Sorriu a Capitão da Atlantis. "Nossa nave tem um bom sortido de alimentos, mas não sei se..."

Assudani: "Não se preocupe, a Cidade Transversal tem alimento para todos. Os seus oficiais, pelo menos, não vão morrer de tédio ou de fome."

Sarah: "Eu só espero que este Fox seja um bom cozinheiro, eu até preferiria que o Rinaldi estivesse aqui, ele faz refeições exemplares, com os parcos recursos que a Frota nos dá."

Rinaldi: "A senhora chamou, minha querida primeira oficial."

Tanto Sarah quanto Helena ficaram admiradas pelo seu chefe de cozinha estar ali no bar do Fox.

Rinaldi: "Pelo visto as senhoras ficaram um tanto surpresas por me verem aqui. Explico, quando chegamos aqui e as senhoras desceram e falaram que estava tudo bem, muitos dos oficiais também desceram para conhecer a Cidade Transversal e a cozinha ficou um tanto vazia, sem enormes desafios a serem feitos ou comidas para serem preparadas, então desci também para verificar as cozinhas dos restaurantes que tem neste lugar. As senhoras não sabem como eu fiquei extasiado com as dezenas, para não dizer as centenas, de formas que os alimentos, a comida é feita aqui. Meu coração disparou, quase que verto lágrimas de emoção e quase tive um piripaque." – E suspirou. "E fiquei algum tempo triste porque não tinha para quem cozinhar. E vim para cá, beber algo. Daí o Sr. Mcdonald me chamou. Disse que estando aqui, ao tempo da estadia da USS Atlantis, realizaria o meu sonho, talvez o que eu fosse destinado a fazer e estou aqui desde então e, agora, é uma honra lhe preparar a melhor refeição de quaisquer universos tenham experimentado antes. Qualquer coisa que vocês pedirem eu farei com um ardor sem igual no coração, com aquilo que eu sou capaz de fazer." – E sacou um caderninho de anotações, uma caneta esferográfica com o nome bic no plástico e sorriu. "Posso anotar o pedido de vocês?"

(...)

Summers nunca havia experimentado algo tão bom quanto aquela refeição que tinha feito no Bar do Fox, François Rinaldi havia lhe feito um stroggnoff de carne e verduras de tal monta que repetiu o prato três vezes. Depois disso, estava por demais satisfeito e nada tinha falado desde então.

Os outros, no entanto, conversavam alegremente, até onde poderiam fazê-lo, e se lembravam dos feitos de seus próprios universos, como a vez que Assudani, em menos de 30 segundos, conseguiu conter uma ruptura de um núcleo de dobra usando apenas um chiclete. Ela havia explicado que havia um curto no conjunto principal do painel de controle e juntou com o chiclete e dois pedaços de plástico. Conseguiu separar as placas que estavam dando curto e vitória.

Assudani: "Nunca mais duvidaram da minha capacidade de ser engenheira e me nomearam Oficial Chefe da Engenharia."

E os outros riram com isso, riram até puderem dizer chega, como nunca haviam feito antes, mas não Summers, pois estava numa das janelas do Bar do Fox, observando a chuva que caía calidamente na cidade. Nada mais ali o impressionava, nem mesmo que começasse a chover salsichas em toda a cidade.

Michael se aproximou e tocou-lhe o ombro.

Snaker: "Posso?" – Apontando o lado esquerdo da janela. Summers apenas assentiu com a cabeça. "Ainda tentando entender alguma coisa deste lugar?"

Summers: "Se eu fosse tentar entender algo, acho que a minha cabeça explodiria." – Suspirou e tomou alguns goles da taça de vinho tinto que segurava com a mão esquerda. "Não, apenas estou admirando a magia deste lugar." – Respondeu.

Snaker: "Sim, é algo realmente mágico mesmo. Um lugar que existe onde seria impossível existir, mas existe. Onde pessoas que nunca iriam se encontrar, se encontram, um local que existe no entre, nem acima, nem abaixo, mas entre."

Daniel parecia um pouco confuso com a explicação do doutor. Passou alguns segundos olhando para ele, até que desistiu e tomou o resto do vinho que estava no seu copo num só gole.

Summers: "Se eu estou tentando entender, você já está com uma teoria completamente nova na sua cabeça." – Disse ele. "Como eu disse anteriormente, estou apenas admirando tudo o que se passa aqui." – E ficou em silêncio. "A chuva sempre me acalmou. Podemos fazer chover nos holodecks da Bishop, mas não é a mesma coisa de uma chuva natural, aquela que vem em ondas suaves e ventos brutos, as vezes, forma vários pequenos riachos nas ruas onde caem e borbulha com um barulho calmante de tempos em tempos. E é isto que estou ouvindo aqui."

Michael Snaker ficou também ouvindo o cair da chuva. A quanto tempo ele não fazia aquilo? Na verdade, sequer se lembrava a última vez que ficou admirando o estado natural das coisas sem ter quaisquer explicações sobre elas na sua mente, prontas para serem desfiadas por qualquer um que perguntasse a ele.

A beleza das coisas são quando elas são, não quando existe alguém explicando sobre como elas funcionam, ou do porquê elas existem. Pare, respire, olhe, viva. Sem explicações, sem complicações.

Dírana se aproximou dos dois e abraçou Michael pela cintura. Riu-se baixinho e, em seguida, falou: "O que você fez para deixar o Michael tão calado? Por que ele não está dando uma de esperto agora?"

Summers: "Estamos admirando a beleza daquilo que existe..." – E sorriu para moça de forma, por mais lascivo parecesse o seu olhar e o seu corpo escultural mexesse com qualquer um, verdadeira sem pensar em agarrá-la. "Apenas admirando o que está ao nosso redor."

E a chuva caia por toda a cidade. Parecia que, ali, havia uma mistura entre limpidez e tristeza, como tudo na cidade, algo estava por detrás deste evento. Foram poucas as vezes que havia chovido naquela cidade, até onde os passageiros e os moradores poderiam lembrar.

Os três ficaram ali, apenas observando.

(...)

Illix se aproximou de Summers e tocou-lhe o ombro.

Illix: "Amanhã o mestre yanovan irá lhe falar. Por favor, vá para um dos nossos quartos e durma um pouco."

Summers apenas assentiu e foi-se para um quarto, se despedindo dos outros que ali estavam.

(Continua)

Para as outras partes acessem o meu perfil. Atualmente estamos na sexta parte.

Daniel Chrono
Enviado por Daniel Chrono em 11/09/2010
Reeditado em 11/09/2010
Código do texto: T2491244
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