A Longa Jornada - Parte 1

1º Fase – 2165-2185

- Serão necessários cinco anos para que a obra desta grande estação espacial esteja terminada. – Disse Abelardo Pedroga em pronunciamento oficial para a Organização das Colônias Unidas. – Esperamos, assim, elevar a humanidade para além das estrelas. – Continuou. – Depois de anos e anos de guerras, destruição, mortes, a humanidade conseguiu chegar num momento de paz sem precedentes na história. – Concluiu.

A sua frente os membros dos 242 países do planeta Terra estavam ouvindo atentamente o que aquele homem tinha a dizer. O Projeto Fábrica de Sonhos era uma grande obra da humanidade, uma maneira de deixar um legado para o futuro, caso a raça venha se extinguir. Ali seria o ponto de encontro entre a raça humana e as outras raças que permeavam a Via Láctea.

A Estação estava sendo construída no Sistema Solar Triariani Tauhässen, conhecida antigamente como PSR B1257+12, que fica a um pouco mais de 980 anos-luz da Terra. Lá se encontrava uma gigantesca construção antiga chamada pelos cientistas terrestres de Portões de Tauhässen que tinha este nome porque fora descoberto por Albert Tauhässen, um dos pioneiros espaciais que exploraram os setores profundos da Via Láctea no limiar do espaço conhecido dos humanos naquela época. Ao chegar ao setor lá estavam os Portões. Era uma gigantesca estrutura com cerca de 29 quilômetros de altura e 12 quilômetros de comprimento.

Ao passar por ele, um gigantesco corredor conduz as naves estelares para um setor distante da Via Láctea. Lá se encontra um sistema estelar trinário com estrelas cada uma com uma cor diferente, vermelha, uma branca e uma amarela e, num dos planetas, resquícios de uma civilização antiqüíssima e, altamente avançada.

- Lá estará os nossos sonhos, as nossas esperanças e toda uma estrada para seguirmos em frente. – Disse Abelardo com um tom emocionado em sua voz. Ele era o Engenheiro Espacial encarregado no projeto da estação. – Foi por lá que encontramos com raças como os tevarianos, os klaxs e os merzianos, muito parecidos com a nossa gente, mas, também, raças tão exóticas como os ritrerianos, qiops e os klix. Uma demonstração da capacidade da Galáxia de comportar vida além da nossa. – E sorriu. – E com o Projeto Fábrica de Sonhos, poderemos ser mais uma raça a singrar pelo espaço a procura de novo saber e novo conhecimento. Espero poder dar a todos aqui a devida oportunidade de seguirmos a nossa verdadeira missão. De sermos exploradores.

E, assim, terminou o seu discurso, sendo ovacionado de pé por quase todos ali presentes. Ele sorriu grandemente e mais ainda, pois sabia que o Projeto havia sido aprovado e ele poderia realizar o seu sonho de deixar uma marca sua para além do futuro.

Abelardo saiu do púlpito satisfeito consigo mesmo, não poderia expressar com mais palavras o que estava acontecendo com a sua mente naquele exato momento, pois imaginava grandes feitos acontecendo naquela estação. Assinatura de tratados com raças desconhecidas, a exploração dos Portões e o lançamento de missões de espaço profundo por lá. Ele só esperava por ver isto acontecer antes de morrer. Ele tinha uma doença chamada Síndrome de Lastiter. Uma doença geneticamente criada na 4ª Guerra Mundial e que ainda assolava uma ínfima parte da população.

Esta doença causava aos portadores a morte das mitocôndrias, causando a morte das células e, conseqüentemente, a morte do doente. O tempo de vida que resta daqueles que contraem tal doença varia de acordo com a diferenciação genética das mitocôndrias.

A 4ª Guerra Mundial foi dita, até o presente momento, a pior de todas as Grandes Guerras que a humanidade incitou para si mesma. Ela começou em 2142 e se estendeu até 2162. Um terço da população humana morreu durante o evento, isto é, cerca de quatro bilhões de pessoas. A Guerra se iniciou quando a Europa, uma tecnocracia na época, invadira a África em busca de recursos naturais que lhe faltavam depois dos Conflitos de Moais, onde houvera uma disputa entre a Europa e as Américas sobre a guarda da África. A Europa esperou dez anos até ter um plano bem arquitetado para invadir o continente africano e, assim, deflagrando uma Guerra de proporções dantescas.

Depois do fim da Guerra, muitas das riquezas dos países que haviam sido adquiridas no século XXI e inicio do século de XXII estavam quase dizimadas, apenas os conhecimentos tecno-cientificos resguardados em países como Austrália, Brasil e Japão, assim como nas colônias lunares e marcianas, puderam salvar o mundo do colapso total.

Após a reconstrução da Terra, um novo governo se ergueu e, assim, surgiu a Aliança de Valendia, onde todos os países assinavam um tratado de paz para com todos e, seguidamente, se inicia a criação da Organização das Colônias Unidas, com sede em Camberra, Austrália.

- Um ótimo discurso. – Disse Alessandro Borges, chefe do departamento de construção espacial da Agência Espacial Mundial (AEM). – E, pelo visto, conseguiu fazer estes políticos compreenderem a importância do que está em jogo, principalmente a quase invasão dos markiads a quatro anos. – Estendendo a mão para Abelardo, que foi prontamente atendido.

- Sim, além de deixar a nossa marca no espaço profundo, acho que se conseguimos a maior quantidade de aliados possíveis, melhor para gente. – Sorriu para fotógrafos que ali estavam enquanto caminhava para a saída do prédio onde estava o seu carro a sua espera.

- Assim espero. – Assentiu Borges. – Nos vemos no canteiro de obras em duas semanas?

- Com certeza! Até breve colega. – Disse entrando na aero-limosine.

- Até. – Respondeu Borges.

(...)

A nave que trazia Abelardo acaba de sair do Corredor Quântico, uma tecnologia de navegação espacial criada um pouco antes da Quarta Grande Guerra e que, agora, era o mote principal para a OCU para a exploração espacial. O Corredor Quântico nada mais era um caminho criado pelas naves espaciais para entrarem no chamado espaço quântico, uma das muitas espécies de espaços existentes entre os subdomínios do subespaço. Aquele tipo de viagem espacial não era uma das mais usadas porque ainda era considerada por demais perigosas se você não souber navegar naquele domínio, mas grande parte das naves a utilizavam pelo baixo consumo de energia necessária para criar um Corredor Quântico.

Outra forma de navegação espacial era o Deslizamento, mas não era bastante usada por causa do consumo altíssimo de energia, mas o futuro desta tecnologia parecia bastante promissor de acordo com as pesquisas que estavam sendo realizadas.

Abelardo estava observando da Ponte de Comando da nave o grande canteiro de obras que ficava a um pouco mais de trinta quilômetros dos Portões.

Uma obra magnífica.. – Pensou consigo mesmo. Ali mostraremos o quão inventivos podemos ser. – Continuou enquanto a nave atracava num local onde a instalação já estava construída.

Depois de algum tempo de pressurização entre a nave e a instalação, Abelardo fora recebido por Aguinaldo Peres, segundo em comando na construção da estação do Projeto Fábrica de Sonhos.

- Senhor Domene, seja bem-vindo. – Disse ele. – A Governadora está a sua espera. Vamos? – Perguntou estendendo o braço para frente indicando o caminho.

Enquanto os dois caminhavam, Abelardo notara o quão rápido estava a construção da estação.

- Pelo visto vocês estão trabalhando bem rápido mesmo. Não esperava que as obras do Jardim Hidropônico começassem não antes daqui a quatro meses.

- Sim, sim.... é verdade. – Disse Aguinaldo. – Mas a Governadora Rodrigues achou que criar logo o Jardim Hidropônico para que os operários tivessem um lugar para descansar, assim como o setor de Holodecks já estão sendo construídos, mesmo porque depois da revolta dos Trabalhadores a três semanas, liderada por Rodrigo Marques deixou muitas cicatrizes que precisam ser tratadas com o seu devido respeito.

- Mesmo nos momentos mais gloriosos, ainda tem alguns seres humanos que só pensam sobre si mesmos. – Suspirou Abelardo enquanto acompanhava Peres e tomava o turbo-elevador.

(...)

A torre do turbo-elevador saíra do deck onde a sua nave havia atracado. Era uma grande torre nua, onde somente o escudo-refletor do elevador os separava do vácuo do espaço. A vista era maravilhosa. Lá, ao fundo, podia-se ver o conjunto trinário das estrelas do sistema. A central e as outras duas gravitando ao redor dela e, aos poucos, trocando energia entre si.

- É de se imaginar que as criaturas que criaram os Portões o fizeram justamente aqui, a vista é simplesmente estonteante. – Falou Abelardo.

- Nunca me canso de ver isto. – Disse sorrindo Peres.

Eles então chegaram a Sala da Governadora. Havia uma enorme placa lá que indicava isso feita de adamanta e aço carbonadium, tipos de metais encontrados somente em sistemas distantes do sistema solar e que estavam sendo usados na construção da estação.

Ao entrar foi então recebida pela Governadora.

- Seja bem-vindo. – Disse Ana Cristina Rodrigues, a Primeira Governadora. – Finalmente pude me encontrar com o nosso projetista. Por favor, sente-se. – continuou com um sorriso nos lábios. – Quer algo? Chá, suco, paçoca?

- Não, obrigado. Fico agradecido. Eu só quero dizer que você está fazendo um trabalho esplendido. Muitas coisas estão bem adiantadas.

- Bem, algumas coisas precisavam ser adiantadas. Principalmente na nossa segurança, estamos num espaço arisco, senhor Domene.

- Eu acredito. Mesmo assim este é lugar perfeito para criarmos a nossa assinatura na Galáxia.

- E eu concordo plenamente. – Disse Fátima Romani acompanhada por um homem. – Eu e o Dr. Vitor Ribeiro estamos impressionados com os Portões. Fizemos recentemente uma viagem para o outro lado e o planeta que encontramos no sistema é maravilhoso. A AEM está mandando ainda mais especialistas para começarem, desde já, novas missões de exploração ao planeta antes mesmo do término da construção da instalação. Talvez até criemos uma colônia permanente por lá.

- Talvez vocês estejam indo com muita sede ao pote. – alertou Ernesto Namakura, chefe de segurança da estação. – Talvez chamem atenção indevida.

- Como sempre a segurança paranóica. – Disse a governadora. – Estamos certos que vocês continuaram a segurar a todos mesmos nestas missões arriscadas.

- É o que temos de fazer não é? – Retorquiu Nakamura. – É o nosso trabalho. Só espero que tomem cuidado.

- Claro que todos tomarão, não é Doutora Romani? – Perguntou a Governadora.

- Com toda certeza. – Respondeu ela enquanto Abelardo Pedroga observava a construção e Borges se aproximou dele vendo o amigo absorto das discussões assim que entrou na sala da governadora.

- Seja bem-vindo, amigo.

- Obrigado.

(...)

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Daniel Chrono
Enviado por Daniel Chrono em 11/08/2010
Reeditado em 22/08/2010
Código do texto: T2431311
Classificação de conteúdo: seguro
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