ABDUÇÃO
Júlia era uma jovem de 25 anos, pele clara, cabelos longos e pretos e de baixa estatura (o que era adorável nela). Neste dia mais que antes, tinha sido cansativo na empresa onde trabalhava como recepcionista. Era uma empresa pequena que prestava serviços de informática em belo horizonte e, apesar de situar em uma das principais avenidas de sua cidade - avenida essa movimentada com, grande fluxo de carros e, pessoas sempre apressadas com semblantes monótonos – era quase que imperceptível sua localização física aos despercebidos. O acesso a recepção era por meio de uma porta simples de metal de cor branca, já escurecida pelo tempo e, uma escada que dava acesso ao segundo andar onde funcionava a empresa. Acima da porta havia o letreiro “AI-Acesso Informática – soluções em informática, montagem, configuração e manutenção”.
À hora já era aproximadamente seis e meia da noite, Júlia terminava sua lida, estava na hora de ponta, a movimentação da frota de carros e ônibus estava alta e o trânsito bem lento. Era isso todo dia, mas Júlia já não reclamava mais como antes, acostumara com aquilo, era isso ou voltar a trabalhar como babá para amiga de sua mãe o que é digno, mas não lhe rendava muito dinheiro, o que para ela é imprescindível para começar os estudos. Ela caminhava a passos rápidos como todos os outros, aficionada em apenas chegar a sua casa. Mas ultimamente ela não estava sentindo-se bem, sua cabeça doía com maior freqüência, os analgésicos nem sempre faziam efeitos. Há dois dias ela chegou até a consultar o clínico geral. O médico era o Dr. Marcos Mendes formado há 35 anos pela UFMG. Sempre com um semblante calmo e uma voz branda, tratava seus pacientes sempre com a atenção digna de um amigo ou família.
- Doutor, eu venho nos últimos dias sofrendo de fortes dores de cabeça e elas estão constantes durante o dia, o que me incomoda muito. Estou ficando com medo, nunca se sabe quando algo grave pode acontecer com a gente. Você me entende né?
- Claro que entendo Júlia! Mas não é necessário e nem é bom criarmos más expectativas em cima de tais sintomas. Mas de qualquer forma gostaria de questionar-lhe sobre alguns sintomas e fazer uns exames clínicos básicos, de acordo?
- Ah sim, tranqüilo.
- Preciso que você deite aqui, por favor. Pediu o médico.
Neste momento Júlia se deita sobre o divã do consultório, Dr. Marcos a examina, mas não encontra nenhuma anomalia em primeira vista. De qualquer forma e por insistência de Júlia, Dr. Mendes faz um pedido ao laboratório para que faça um exame de raio X, hemograma e mais alguns outros para tentar detectar algo de errado. Passado o dia Julia já havia marcado os exames. Conseguiu fazer os exames na mesma semana, os resultados seriam para próxima semana.
Voltando ao dia em que começamos tal conto...
Júlia já se acomodava em um dos bancos da condução, dava preferência a lugares próximos a janela com cadeiras altas, talvez a baixa estatura influenciasse em tal escolha. Ao descer da condução, a caminho de casa, novamente a dor de cabeça vem incomodá-la, mas desta vez foi diferente, e ela começa a escutar vozes. Pensou ela que estaria ligada ao stress, já que sua rotina atualmente não era das mais fáceis. Com um dia cheio e um trânsito infernal diariamente, as pessoas tem todo o direito de ouvir e ver coisas. Pensou ela.
Sem dar muita importância entrou em casa e pôs-se a ir para o quarto, pegou uma toalha e despiu-se, seguiu para o banheiro.
Após o banho ela quis comer alguma coisa, não teve tempo antes de fazer alguma refeição a não ser o almoço. Olhou a geladeira, mas não encontrou muita coisa que lhe interessasse apenas alguns iorgutes, bolo e um resto da janta do dia anterior. Tomou em mãos o bolo e um iorgute. Partiu o bolo em um prato e tomou um gole do iorgute. Júlia não tinha o hábito de comer comida de sal a noite.
Feito sua refeição Júlia preparava-se para dormir, já era tarde e ainda era quarta-feira, havia toda uma semana de trabalho pela frente.
Todos já dormiam exceto a Júlia, com isso as luzes da casa já estavam apagadas e apenas a da sala onde Julia fazia sua última refeição que se mantinha acesa e a televisão ligada em um filme sobre aliens (isso lhe causava medo, mas assistia mesmo assim). Antes de deitar-se insisti em terminar o filme, em meio a cochilos. Entre um de seus cochilos decidi ir ao banheiro e ela escuta no caminho um som alto como um estrondo, e muitas luzes, pensou ela ser algo que havia caído, alguma aeronave, mas não era comum passar aviões pela região e nem havia algum aeroporto pelas redondezas, nas mais simples das hipóteses pensou ser um transformador que havia estourado. O que de mais estranho que ela observou é a paz com que seus pais dormiam, era como que só ela tivesse escutado tal barulho. Toda vizinhança também se encontrava em repouso.
Sem saber o que poderia ser e com muito medo, vai para o portão de casa, mas talvez pela angústia e mãos tremule pelo temor do que poderia acontecer, não consegue abrir o portão. O jogo de luzes fazia sombras na garagem de sua casa, o que lhe assustava mais ainda. No desespero ela deixa a chave cair, ao abaixar para pegar ela percebe uma movimentação, como passos de um lado para o outro perto de seu portão, ela pôs-se a observar aqueles vultos (era muito rápido e a movimentação com as luzes ficava mais difícil de identificar algo). Neste exato momento algo aproxima de seu portão e ela volta a sentir uma forte dor de cabeça. Ela fecha os olhos e ainda abaixada para observar sob o portão coloca as duas mãos na cabeça na tentativa de amenizar a dor. Neste momento novamente ela tem alucinações com vozes, e desta vez mais forte que as anteriores. Ela fecha os olhos, e vê cores numa imensidão escura, feixes de luzes vermelhas, azuis, amarelas, eram como raios. Ao abrir os olhos e voltar seu olhar para rua leva um susto, havia algo que ela não identificou nem como animal nem como humano que a olhava, eram dois enormes olhos negros, como películas, pois não se via parte branca nos olhos, não conseguiu identificar muitos detalhes, quando viu que “aquilo” olhava pra ela, imediatamente ela se afasta. Em sua cabeça escuta seu nome, como que se alguém a chamasse em um pedido de socorro, a voz estava longe e frágil.
- O que esta acontecendo comigo? Por que essas vozes na minha cabeça me atormentam se não consigo decifrar o que elas querem?
- O que é aquilo que eu vi lá fora?!
- Meu Deus se é tu e queres algo de mim me diga, por favor! Eu temo o que me acontece agora. Esse terror!
O portão começa a tremer com os socos da criatura, ela gritava desesperadamente por socorro, ninguém a ouvia era inútil todo seu esforço.
- Socorro! Socorro! Será que ninguém nessa maldita rua me escuta! O que está acontecendo...
A voz fica mais entendível desta vez.
- Júlia, não temas. Venha comigo! É você minha última esperança para humanidade. Desde tempos primórdios vínhamos tentando ajudar a humanidade com toda nossa tecnologia e conhecimento. Mas com tudo que lhes foi ensinado fizeram guerras, criaram deuses cruéis, sacrifícios aos mesmos. Dê-me sua mão!
- O que é você?! Não tenho nada a oferecer, me dixe em paz, volte do inferno de onde veio!
- Não sou demônio! Júlia tu viras comigo! Não há escolha!
O portão começar a balançar mais forte, o barulho era extremamente alto, e a rua continuava negligente ao que acontecia,era como que se tudo estivesse acontecendo somente a Júlia, só ela via, só ela escutava, gritava e ninguém a atendia.
Ela sobe as escadas da garagem em direção a porta principal de acesso a casa, estava muito escura, e ela pisa em falso em um dos degraus. Sofre alguns arranhões no braço esquerdo e uma torção no pé direito.
O portão vem abaixo, ela assustada da um grito aterrorizada com a cena. Olha para o portão destruído no chão da garagem, e havia uma sombra que parecia humana. Ela sobe vagarosamente o olhar para a criatura. Parecia humano, era bípede pele escura meio esverdeada, olhos grandes e esticados, lembrava uma folha. Seus olhos não possuíam a parte branca comum em humanos, eram todos pretos, assim como ela pensou ter visto sob o portão.
Ela entra em choque e não consegue se mover, a voz não saia, nunca tinha sentido tanto medo em toda sua vida, ela já ouviu muitas estórias sobre mitos fantasmagóricos e astronautas. Nunca acreditara em nada e que muito menos aconteceria com ela.
O astronauta anda em sentido a ela, Júlia tira forças da sua vontade de sobreviver, e consegue ao menos rastejar-se para subir as escadas, estava muito lenta. Seu esforço não valeria muito. Sente a mão do astronauta sob sua perna, possuía garras, as quais a seguraram com força, sua perna sangra na luta, e ela se volta para a criatura. Sente medo, muito medo. Mas não havia espaço para todo seu medo, porque sua vida estava em jogo. Júlia consegue observar que ele usava duas mangueiras que penetravam em dois orifícios em sua fronte (Pareceu-lhe ser sua via respiratória, suas narinas). Com um único movimento consegue puxar as mangueiras, e imediatamente ele se afasta isto parecia ter o detido por um instante. O ar da terra era tóxico para a criatura. Ela tenta novamente levantar e subir as escadas para entrar e pedir ajuda a alguém de sua casa. Porém a criatura a pega novamente e a puxa para baixo esfolando-a pelo concreto da escada, sua cabeça é segura pelas mãos da criatura, e em fração de segundos ela adormece.
Meio tonta ela acorda em uma mesa cirúrgica, parecia estar em uma sala repleta de tecnologia, não conseguia ver nitidamente o que acontecia, parecia ter sido fortemente sedada. Ela percebe estar nua e sente uma forte dor no abdômen, ao olhar vê sua barriga aberta. Ela grita. Rapidamente várias criaturas foram em sua direção e a anestesia novamente. Voltam a fazer seus experimentos cirúrgicos.
Depois disso Júlia adormece e não se lembra de mais nada. Ela acorda em seu sofá, ofegante e molhada de suor com o canal da televisão fora do ar. Assustada ela corre em direção ao quarto dos pais, eles dormiam tranquilamente, todos em sua casa dormiam. Eram cinco horas da manhã, mais que de pressa ela deita em sua cama, não ia conseguir dormir muito, pois ela saia a trabalho as sete da manhã. Sentiu um alívio em saber que era tudo um sonho. Ela volta a dormir.
Pela manhã ela acorda cansada, tomou seu banho e café e saiu a trabalho. Já na empresa, em horário de almoço, ela comenta com os amigos e da risada sobre o episódio da noite passada. Júlia decide ir ao banheiro e escovar os dentes. Ao terminar de enxaguar o rosto e com ele ainda abaixado, ela pega a toalha para secar seu rosto. Quando olha no espelho ela vê a criatura atrás dela observando-a, ela se assusta e da um grito.
- Júlia o que aconteceu?! (pergunta Pedro seu amigo de trabalho)
- Eu vi, estavam aqui...como...era sonho...
- O que você viu Júlia?
- A criatura!
- Você esta trabalhando demais, estava vendo até extraterrestre. Não há nada aqui.
Após o susto todos voltaram a suas rotinas habituais. Depois disso Júlia nunca mais teve tais alucinações e dores de cabeça, os resultados dos exames não encontraram problema algum. E ela apesar de tudo, acredita que não foi só um sonho. Seria simples demais.