Projeto Cidade Transversal - Tempo e Memórias
Todo o conhecimento está ao seu alcance, somente um limite é imposto a você, a sua própria falta de vontade de querer conhecer o seu limite. Estas são as palavras que existem em muitas línguas na Grande Biblioteca, um local da Cidade Transversal onde o conhecimento do tempo e espaço são arquivados com um grande zelo.
O local, a primeira vez que alguém chega por lá, acha que o mesmo é tão grande, tão gigantesco, tão infinito que, simplesmente, acha que tudo não passa de ilusão. Como é que algo tão grande como aquela Biblioteca pode existir um bolsão tempo-espacial como a Cidade Transversal? E é por isso, e tantas outras maneiras, que não há explicações plausíveis na Cidade sobre o tamanho ou a extensão de pensamentos e locais.
E lá estava uma jovem humana bisbilhotando em locais alheios a si mesma, procurando algum conhecimento que a sua mente primitiva, à época da sua chegada a Cidade, não permitira entender além daquilo que não era necessário entender.
- A vida não tem sentido até que façamos que ela tenha um. – Lia para si mesma, pois se concentrava melhor quando fazia isso. – E para cada sentido, ele é único por si mesmo. Não há nenhuma possibilidade que a resposta na qual você possa chegar venha a se tornar verdadeira para uma outra pessoa. De todas as verdades a uma mentira e de todas as mentiras nenhuma verdade.
Os seus olhos cor mel percorria afoita por aquele livro que tinha uma capa feita em cobre e couro e, até onde podia-se notar, fora feita a mão a mais tempo do que ela já existiu em algumas dezenas de anos. Ela moveu delicadamente a página do livro, seguindo em sua leitura.
- Mesmo que as pessoas se esforcem em reconhecer o seu objetivo na vida, não a compreenderam até o seu momento final. Quiçá, ainda, se as memórias que as pessoas levam em toda a sua vida não ganhem outra conotação quanto as suas escolhas.
Ela não conseguia compreender bem aquelas palavras, mas, também, assim foi avisada daquilo. Ao chegar na Cidade Transversal foi compelida para ir aquele lugar e lá passar um tempo. Quando chegou a Biblioteca foi avisada que nem todo o conhecimento do universo poderá lhe ajudar em sua busca para um sentido, pois esta busca começa onde ela termina.
Furiosamente ela continuou.
- Por demais, muitos perdem tempo e sua vida tentando achar aquilo que lhes dê significado em vão e, provavelmente, ao ler estas linhas as pessoas acabaram por achar como eu estou apenas a enrolar, a escrever ladainhas, a dizer isto e aquilo como uma validez inválida. Não deixa de ser uma verdade, mas também é mentira. Não são os outros que lhe darão o mapa do caminho das pedras, pois este caminho é você mesmo que acaba por construir.
Então ela parou por um instante e ficou pensando sobre o que estava escrito no livro. Ao voltar a ele, o mesmo parecia estar escrito de forma diferente.
- Cada momento da vida é um momento diferente. A sua disposição de se abrir a uma nova verdade, ou uma nova mentira, é único e singular, aqui o que você não encontra é uma sabedoria e, sim, aquilo que você quer ler.
Ela ficou espantada com o livro, tudo o que nele estava escrito, era aquilo que pensava. Leu mais alguns trechos anteriores do livro que tinha passado e os mesmos estavam reescritos ou escritos de uma forma completamente diferente.
- Como?
Um ser meio esverdeado se aproximou de moça e parecia ser bem velho e um tanto cansado.
- A compreensão da Cidade Paraíso, dos prédios e seus objetivos repousam em si.
- Em si?
- Ela se dá somente quando você entende aquilo que tenciona a não entender. – E sorriu. – Mas, por agora, este não é o seu lugar. Com o que você leu neste livro, agora está livre para continuar com a sua vida.
- Eu não compreendo, ainda…
- Um dia irá… e o que aconteceu aqui não será apenas do que uma memória…