Na Verdade Não Há Beleza
O mar. Com a sua cor esverdeada se mescla, ao horizonte, com o céu azulado. As nuvens brancas que nem algodões enchiam o mesmo. Uma paz, desde sempre, eterna preenche aquele lugar que, no momento, parece intocado por tudo e por todos. As ondas, com a natureza comandando, vem e vão. Vem e vão. Uma equação em sua plenitude que parecia nunca falhar. O som do quebrar das mesmas junto a superfície da praia trazia um efeito calmante a todos que ali passavam. Aves, animais terrestres, pequenos caranguejos.
Observando ao largo, no lado esquerdo, havia uma pequena cidade - mais uma vila – com um porto. Sempre convidativo sempre acolhedor. Onde os navegantes, depois de uma longa jornada, voltariam aos braços e abraços de seus entes queridos. Familiares, amigos, amantes. Como a vida era, ou é, bela. Somente apreciar a mesma já era um presente divino.
No fundo, ao horizonte, um pequeno ponto poderia ser visto pelos habitantes daquela cidade. Era um pequeno barco voltando de sua longa viagem de mais de seis meses ao continente de Bregalis-Atlantis trazendo noticias e mercadorias novas.
A embarcação era simples. Quatro velas e com o tamanho um pouco maior que 20 metros. Uma típica embarcação comercial. O seu capitão, Adelante, estava no ponto mais alto do barco. Estava vestindo as roupas típicas, com alguns adornos em prata e ouro – demonstrando uma patente superior aos outros -, de um navegante da cidade de Jajanami, a mesma vista há pouco. Estava admirando a beleza do mar em sua tranqüilidade. Poucas vezes o mar ficava bravio e, para eles, os deuses, mais uma vez, estavam generosos com a sua embarcação.
Aos poucos a dita ia chegando ao porto de Jajanami que, assim como no alto-mar, as ondas ‘batiam’ suavemente a costa. O farol, no momento, estava desativado. Enfim a Devaneio aportara. A tripulação, assim como o pessoal do porto, descia as cargas que foram trazidas pela Devaneio de Bregalis-Atlantis. As noticias, trazidas em pergaminhos, estavam as mãos do Adelante.
Um membro do Conselho de Lemur, a capital da ilha-estado de Lemuria, estava no meio da multidão esperando as notícias.
- A vida e a paz estão contigo? – Perguntou o membro.
- Elas sempre estarão. – Respondeu o capitão, após, em seguida, fazendo uma mesura com a sua cabeça.
- Como está a vida de navegador?
- Ótima. Nada melhor que navegar acima e além dos horizontes conhecidos. Ver novas terras, novas civilizações. Nada como experimentar um ar diferente e solos com textura tal qual.
- Os deuses são generosos para com aqueles que fazem o bem. – Falou o membro do Conselho de Lemur.
- Com toda a certeza, caro mestre. Agora, se me dá licença, tenho assuntos a resolver para com a Guilda dos Navegantes.
- Vá em paz. – Disse o membro do Conselho levando, agora, as noticias trazidas pelo capitão.
(...)
O capitão Adelante da nau Devaneio, enfim entrou na Guilda dos Navegantes. Estava trazendo consigo os mapas detalhados da sua ultima viagem atualizados de acordo com os aparelhos que lhe foram dados antes dele zarpar para Bregalis-Atlantis. O Comando da Guilda, juntamente com a Junta de Ciências de Lemúria, sempre achou importante para que, sempre que possível, houvesse a atualização dos mapas para aquela região e mais além. Com mapas mais acurados as navegações, com o passar dos tempos, poderia ser mais tranqüila e, também, o tempo poderia diminuir. O uso da matemática e de outras ciências – que foram adotadas quando ocorreram os primeiros intercâmbios culturais com Bregalis-Atlantis – só fez com que Lemúria conseguisse construir barcos mais rápidos e seguros.
- Capitão Adelante. – Disse um jovem, com as vestes parecidas com o Capitão. – Seja bem-vindo a nossa casa segura.
- Eu agradeço caro Toby, eu agradeço. É bom estar de volta a casa que sempre acolhe os filhos de braços abertos.
- E então Razcquen, como foi a viagem a Bregalis-Atlantis? – Disse mais um que estava bebendo um liquido esverdeado.
- Foi quase tudo muito tranqüilo. Apenas enfrentamos uma tempestade furiosa no 23º dia em direção as ilhas Viomar e tivemos que parar em Nanai para reparar as velas, mas conseguimos chegar bem com as mercadorias de Lemúria e fizemos as trocas. – Falou um pouco Adelante com um sorriso no rosto. – Foi, pelo menos, revigorante. Nada como o mar para renovar as energias.
Os que ali estavam presentes concordaram com as últimas palavras de Adelante. Diziam que aquilo não era mais nada do que a pura verdade. Que os marinheiros estão casados, com o mar é claro. Que a mulher perfeita de um navegador não existe, mas se vier uma com um bom vinho tolomês numa mão e um sorriso perfeito no rosto já daria para o gasto. Como era, por demais, maravilhoso aquele lugar que se chamava mar.
Adelante foi, então, passando por seu colegas até chegar, ao fundo do local, o escritório da Guilda. Era naquele lugar onde os navios conseguiam as suas viagens para os locais mais distantes ou, até mesmo, para as ilhas-colônias próximas. Tudo tinha que ser liberado pela Guilda para que, assim, os capitães pudessem navegar em paz.
Era uma espécie de benção. Aqueles que saiam da ilha sem qualquer motivo aparente poderia ser preso ou, até mesmo, pior de acordo com as leis criadas pelo Conselho Lemur a mais de 1000 anos. Ainda, muitos lugares eram proibidos – conseqüentemente desconhecidos – para muitos navegantes. O mesmo ocorria em Bregalis-Atlantis.
O Capitão batera a porta a sua frente.
- Por favor, capitão, entre. – Parecia que ele já era esperado.
- Senhor Diretor Marquis, estou aqui trazendo os novos mapas atualizados conforme especificado. – Disse o Capitão.
- Ótimo... ótimo – Disse o senhor com os seus cabelos já brancos devido a idade. A sua face, por estranho que fosse, tinha uma cor mais jovem, tal qual o seu corpo. Eram os anos de mares a fio fazendo efeito em seu corpo antigo. – Deixo-os aqui em cima e me conte tudo sobre as suas viagens.
Adelante, então, se sentou próximo ao velho e contou, mais detalhadamente, a sua viagem. Marquis sempre achava interessante que os seus comandados de Jajanami contassem as suas histórias de navegador. Tinha saudade do tempo em que era um deles, mas, agora, estava naquele trabalho burocrático e chato.
(...)
O membro do Conselho, agora, seguia em direção a Lemur, a capital de Lemuria, a ilha onde mais de 250.000 pessoas moravam em paz consigo mesmo e com a natureza. Cavalgando num cavalo totalmente branco passava pela natureza ao seu redor. Primeiro pela Floresta de Ebonshire. A estrada passava pelo meio dela e o que se viam eram pinheiros e sequóias dos mais variados tamanhos. O som da natureza se misturava com as passadas rápidas e certeiras do cavalo. O ar, ali, era tão limpo quanto o de Jajanami. Existia, ainda, uma lenda que aquele local fora abençoado pelos deuses antes da chegada dos homens, sendo assim, aquela floresta nunca foi tocada. As estradas, todas, já estavam lá.
A luz do sol atravessava em pequenos feixes de luz a floresta dando ao local um clima jovial e acalentador. Dentro da mesma a temperatura era bem mais amena e tinha um frescor que permitia aos viajantes se sentirem descansados, mesmo andando a pé.
Enfim o membro do Conselho chegou a Lemur. Andando pela cidade os cidadãos abriam passagem a ele para que chegasse ao prédio onde ficava o Conselho de Lemur. Havia muitos curiosos querendo saber sobre as noticias trazidas pela Devaneio. Em todo lugar as noticias corriam rapidamente quando alguém navegava para aquelas bandas.
- Em breve o povo de Lemúria terá noticias frescas sobre o que acontece a nação irmã e suas famílias. Em breve, posso lhes assegurar. – Disse o Membro do Conselho.
O povo andava atrás do membro curioso e feliz, como sempre.
(...)
Quistis Trepe, uma das sacerdotisas do templo de Éden – um dos deuses contemplados em Lemúria -, olhava atentamente a movimentação que o Membro do Conselho causara quando chegara a cidade. Era sempre uma alegria ver chegar novas noticias de Bregalis-Atlantis em Lemúria.
Sempre torcia para receber noticias de sua irmã Selphie que está na região de Bregalis e, também, de seu marido, que mora em Jajanami, o capitão da Devaneio. Quistis, quando vira a chegada do Membro do Conselho, vira que chegara a hora de voltar a Jajanami para presentear o seu amado.
- Ele chegou... – Disse uma de suas ajudantes sorridentes.
- Sim ele chegou. – Respondeu Quistis.
- Será que ele trouxe alguma coisa para a senhora de Bregalis ou Atlantis? – Disse uma outra noviça.
- E será que eu preciso receber presente? – Perguntou Quistis com uma voz um pouco mais contrafeita e com a face mais fechada.
- Desculpe senhora... – Disse uma das ajudantes.
As outras apenas baixaram as suas cabeças em resigno. Ela se aproximou das ajudantes e noviças do templo e pedira, com as mãos, que se levantassem.
- Por favor, queridas filhas, estou apenas sendo brincalhona... Fico grata pelo respeito, mas nem sempre precisa ser assim. – Disse ela com uma voz tenra e materna – Sei muito bem como vocês se sentem agora, pois, creio eu, que muitos de seus irmãos, maridos e amantes, estavam naquela nau. – Continuou ela. – Algumas de vocês poderão ir hoje comigo, as outras poderão ir daqui a dois dias quando voltarmos. – Disse ela indo a direção dos seus aposentos.
As suas ajudantes falaram, em coro, um concordar quase cantado.
Quando Quistis chegou a seus aposentos fechara a porta e se aproximara do pequeno guarda-roupa onde estavam suas roupas de civil. Enquanto trocava de roupa pensava em seu amado em Jajanami olhando para o céu com o sol amarelo brilhando e deixando o mesmo com uma coloração azulada. De repente, de nada, uma parte do seu ficara escuro e estrelas apareceram.
Quistis fechara os olhos e, depois, focalizara para o mesmo lugar, mas o céu voltara ao normal ou, pelo menos, sempre ficara como era. Será que estaria imaginando coisas?
(...)
O Membro do Conselho de Lemur, enfim chegou ao local. Trazia consigo as noticias, que ainda não lera, de Bregalis-Atlantis transportadas pela Devaneio.
- Mestre Kimahari, por favor, se aproxime. – Disse um dos 13 membros do Conselho. O local onde estavam era uma grande câmara com uma gigantesca cúpula acima deles. A frente de Kimahari estava o palco onde ficava os 13 membros, a cadeira dele – obviamente – estava vazia, e era lá onde todas as decisões sociais, econômicas e políticas de Lemuria eram tratadas.
Todo o recinto era de um cinza lúgubre. Iluminado com várias tochas espalhadas por todo o local. Aquele lugar ficava ao fundo do gigantesco prédio que tomava a parte central da cidade de Lemur.
O prédio era dividido em 5 partes. No começo ficavam os quadros pintados a mão dos últimos 130 membros do Conselho. Mais a frente, no meio do prédio, ficava o local da Assembléia. A parte de trás ficava o cemitério do Conselho. No lado esquerdo donde se encontra os quadros ficava a Biblioteca Lemuriana e ao lado direito ficava a Biblioteca Atlante. O acesso as duas bibliotecas eram restritas aos estudiosos e membros do Conselho.
Kimahari, então, colocou as noticias sobre a mesa donde se encontravam os outros membros do Conselho. E uma a uma as noticias foram lidas e aprovadas para serem distribuídas para todos. Assim como as cartas que lhe foram enviadas e seriam distribuídas para a população geral.
Uma noticia, no entanto, preocupou o Conselho. Dizia:
“Caros Membros do Conselho de Lemur,
Fala Sesamus Nastion da Junta Cientifica de Astronomia,
Venho por meio desta a informar que, pelo que parece, estamos entrando num meio de um evento cósmico nunca antes visto. Durante todo o último mês venho observando o céu aqui em Bregalis e vejo, em breves instantes, mudanças na posição das estrelas. Até onde posso saber, e prever, creio eu que esse evento cósmico irá interferir em toda a estrutura de nosso planeta, de uma forma ou de outra, de acordo com os estudos feitos e refeitos a mais de 200 anos por Maul Domain – o grande estudioso de astronomia que desapareceu quando ele publicou a sua teoria de viagens distantes -.
Estou à espera de uma ajuda, também, da Junta Cientifica de Astronomia para confirmar tais fatos ocorridos nos céus de nosso planeta para que, assim, um estudo mais detalhado possa ser feito.
Grato,
Nastion.”
Todos ali presentes entraram em polvorosa. Algo parecido com aquilo só havia ocorrido a 200 anos – e algumas vezes antes – e foi preciso o Conselho de Bregalis tomar uma atitude. Pelo que parecia, a mesma atitude deveria ser tomada novamente.
- Contatem o grande mestre. – Disse um dos membros do Conselho, depois seguido por todos em coro.
(...)
Quistis chegara em Jajanami a noite. A cidade, a luz do luar era ainda mais bela que de dia. Havia uma festa na praça central por causa das mercadorias trazidas pela Devaneio e, também, por causa das cartas que estavam sendo distribuídas de acordo com o Conselho. À noite de Adelante, no entanto, não estava lá muito animada até a chegada de Quistis.
Quanto ele a vira foi logo, de rompante, abraçando-a e beijando-a fortemente. Ela, apenas, retribuía todo aquele amor flamejante.
- Há quanto tempo... – Disse Quistis entre um beijo e outro.
- Eu digo o mesmo. – Disse Adelante com mais beijos, no rosto, na testa e, em seguida, um abraço forte e carinhoso nela. Não sabia que ela estaria vindo naquela noite. Achava que ela viria somente dali a um dia. Mas não achara de todo o mal.
Ela se desvencilhou de seus braços e o levara para próximo a mesa onde estavam servindo as bebidas. Para ela, um licor Jordan, e, para ele uma cerveja do planalto de Marssado. Os dois, de mãos dadas, foram em direção a um banco próximo donde estava acontecendo a festa.
- E então, sentiu saudades? – Perguntou Quistis manhosa com um olhar ferino.
- Eu... – Estremeceu um pouco – do mesmo modo sempre quando ela fazia aquilo – é claro.
- Sei... aposto que ficou de olhos arregalados pelas Atlantes. – Disse ela rindo-se.
- Você não dá uma trégua não é?
- Ora... tenho que saber de TUDO que o meu homem estava fazendo enquanto andava sozinho por aí... como é que eu vou ter certeza que você pensava em mim? Me diga? Os deus não me dotaram de poderes de leitura da mente. – Disse ela bebericando o liquido avermelhado em seu copo.
Ele, brincando, fez um cara de zanga.
- Diga se não é verdade? – Perguntou ela com uma cara – brincando – de séria.
- Você sabe muito bem que os meus olhos são, apenas, para duas mulheres neste mundo todo.
- Duas??? – Disse ela indignada.
- Sim Quistis. Duas. – Respondeu ele serio.
- Como assim duas?? – Já estava ficando com o sangue um pouco quente e já estava preparando para jogar o licor na cara dele.
- Calma... – Deu-lhe um beijo – a minha primeira mulher é você de todo o meu coração. O meu amor é para você e somente para você.
- E a segunda então? É só prazer físico é? – Disse ela contrafeita.
- Não... Ela é minha paixão, do mesmo modo que eu vejo você eu me apaixono, do mesmo modo é com ela. Ela é a Liberdade do Mar. Aquela que sempre, na segurança, me leva a lugares maravilhosos e me traz de volta para você.
- Não gostei... – Disse Quistis.
- Mas ela não é párea para você. – Disse Adelante.
- huuummm... – resmungou.
- Para mostrar o quanto eu te quero e te adoro quero pedir uma dança... – Se levantou e pegou-a no braço.
- Não quero... – Fazendo-se de manhosa.
- Te faço qualquer coisa para se levantar daí.
- Qualquer coisa?
- Sim... qualquer coisa.
Ela dera um sorriso e caíra em seus braços.
- Vou cobrar...
(...)
Era noite no Conselho de Lemur. Os treze Membros estavam reunidos esperando que o Mestre, finalmente, aparecesse. O Grande Mestre, aquele que fora chamado pouquíssimas vezes, mais uma vez, tinha que atuar naquele palco, agora, corrompido pelo negrume da dúvida e da insegurança.
Os Membros do Conselho não tinham mais o que fazer a não ser esperar a ele. Toda e qualquer difícil decisão era tomada pelo Mestre. Cada um deles, com um avental cobrindo-lhes a cara, segundo as tradições antigas, comentavam baixo sobre o ultimo acontecimento e o que iria acarretar a seguir. Na pior das hipóteses, assim como foi no caso de Maul Domain, Sesamus Nastion iria ser sacrificado para os deuses para que, assim, nenhum mal caísse sobre Lemuria e Bregalis-Atlantis. Se assim fosse decidido Nastion desapareceria sem deixar vestígios. Até mesmo os Conselhos de Bregalis e Atlantis saberiam, mas como essa noticia iria percorrer tal distância, ninguém sabia explicar.
Enfim, por meio de uma luz forte e brilhante no meio do salão, o Grande Mestre apareceu.
- O que aflige os meus irmãos? – Disse o Mestre que usava um capuz azulado cobrindo todo o seu corpo e rosto.
E os Membros do Conselho de Lemuria falaram sobre o incidente.
(...)
Era, agora, madrugada em Jajanami. Adelante estava na varanda do segundo andar de sua casa olhando as estrelas cintilando no céu e, ao fundo, o barulho do mar batendo contra a praia, permeando, com suas ondas, as entranhas terrestres e, quando voltava, volvia pedras, moluscos e areia.
Para ele era algo bastante acalentador. Havia feito amor de forma inacreditável, como sempre, com Quistis e ela, também, estava ao seu lado olhando o mar.
- Você não se cansa não é? – Perguntou ela.
- Nunca.
- E quando criar família?
Ele riu-se. Sabia o que ela pretendia com aquilo.
- Quando eu criar família saberei como criar ela a contento e feliz. – Disse ele beijando-a. – Irei me deitar. Vem? – Já entrando.
- Daqui a pouco... quero compreender melhor este seu amor pelo mar.
- Somente quem é filho de navegador sabe como é isso... – Disse ele se deitando. – Mas, quem sabe, eu possa lhe ensinar algo sobre.
- É quem sabe. – Disse ela enquanto olhava para as estrelas.
(...)
- Será feito conforme é mandado pelos deuses – Disse o Grande Mestre. – Apaguem todos os vestígios deste homem assim que possível. O mesmo ocorrerá em Bregalis e em Atlantis. Quem mais souber sobre ele deverá passar pelo Rito de Sha´tavan.
- Sim mestre. – Disse todos em coro.
- Agora, queimem este pergaminho. Estou in... – Disse ele quando fora interrompido por um terremoto que pegara todo o recinto fazendo-o cair ao chão. O seu rosto, então, ficara descoberto.
- Mestre, o senhor está bem. – Vendo a face do mestre que era, na verdade, parecida com a deles.
- Sim... sim... mas, agora, tenho que ir... – Disse ele assustado sendo levado pela luz que o trouxera.
(...)
Quistis ainda estava debruçada no parapeito admirando a belíssima paisagem a sua frente quando, de súbito, um tremor de terra tomara conta de todo o lugar. Nunca na sua vida tinha sentido algo parecido. O terror, então, tomou conta da cidade.
Ela caída ao chão ouvia os gritos abafando o som do mar. Mas ela, no entanto, ainda olhava para as estrelas e vira algo estranho. As estrelas tomaram outra forma. Nuvens roxas tomaram todo o lugar e, também, uma espécie de alambrado metálico tomara conta do céu acima dela. Algo, simplesmente – e totalmente – estranho para ela. O mais estranho, ainda, era que as estrelas passavam vagarosamente por todo o céu.
Depois que o terremoto cessara o céu ficara normal novamente. Adelante veio socorrer a sua amada que ficara calada e irrequieta. O que estaria acontecendo ali?
(...)
Dez dias haviam se passado e, também, um outro barco que fora mandado por Lemur 20 dias antes da Devaneio havia chegado e trazia noticias sobre o assunto encerrado sobre Sesamus Nastion.
Quistis, agora, estava mais irrequieta do que de costume. Agora pregava, a todos ali presentes, que ela vira uma imagem, uma luz dada por Éden a ela e que deveria oferecer a todos. Aquilo, agora, deixava, mais uma vez, o Conselho de Lemur a flor da pele.
E ela dizia:
“Depois do Tremor de terra eu vi a luz... Um lugar muito além daquilo que conhecemos. Nuvens roxas. Estrelas de múltiplas cores. Um silêncio acima do tumulto. A paz interior. Senti-me compelida. Vi os céus do paraíso. Do local onde ficam os deuses. Muitos, assim como eu, viram a mesma coisa e, agora, esperamos que o próximo Tremor nos traga os deuses até nós.
Agora, oremos.”
Era tudo o que ela dizia a cada sessão e, mais uma vez, o Conselho veio a chamar o Grande Mestre.
Em contrapartida Adelante falava, o tempo todo para Quistis, que não ficasse comentado tais eventos, pois poderia ser perseguida como as Noviças de Bahamut a 100 anos atrás. Mas Quistis não tinha medo e dizia a ele que iria mostrar a verdade.
Ficaram, então, os dois olhando para céu durante mais de 5 dias e, enfim, a imagem, mais uma vez, apareceu perante a ela e, agora, a Adelante. Incrível, foi o que ele dizia.
Quando voltara a Jajanami estava deitada e dormia profundamente.
(...)
No dia seguinte mais de 200 pessoas haviam sumido em várias cidades de toda Lemur. O Conselho havia dito que aqueles que seguiam as palavras de Quistis foram punidos pelos deuses.
(...)
Corredores que ela nunca tinha visto antes a cercavam por todos os lados. A iluminação fazia os seus olhos doerem como estivessem vendo a luz direta do sol. Aquele lugar era, por demais, estranho. Havia, ainda, muitas pessoas naquele lugar, muitas que ela nunca tinha visto antes com roupas estranhas e engraçadas.
Foi levada, por dois homens, a um pequeno corredor e, em seguida, a uma porta. Quando ficara em frente a ela a porta deslizara e abrira. Ela, enfim, entrou.
- Por favor, sente-se. – Disse o homem que estava virado para uma espécie de parede transparente. A sua imagem estava um pouco translúcida e, ao longe, poderia ver muito abaixo Lemuria. Ele estava em pé.
Quistis se sentou na cadeira que era muito confortável, diga-se de passagem.
- Você não sabe o que está fazendo aqui não é?
- na... ooo... – Disse ela com um pouco de medo.
- Bem... em primeiro lugar você não é a primeira a vir aqui. Desde os tempos remotos que muitos de vocês aparecem neste lugar.
- Como... como... assim? – Ela ainda não entendia nada.
- É uma explicação muito difícil, mas, tudo bem. – Ele se voltou a Quistis que estava sentada. Era um homem com cabelo castanho curtos e uma barba rala e bem feita, também castanhos. A sua face parecia cansada de explicar os mesmos fatos para muitas pessoas, mas era o seu dever.
Quistis, ainda, não sabia direito o que estava acontecendo, ou melhor, nada sabia. Tudo para ela é a mais pura confusão. O que ela estaria fazendo ali? Por que ela podia ver, ao longe, naquela janela com reflexo, Lemuria lá embaixo? O que era tudo aquilo.
- Você, assim como muitos outros, foram coagidos pela praga chamada “curiosidade”. Esta praga, desde tempos remotos faz com que precisemos agir na sua civilização de forma secreta para que a verdade não seja descoberta.
- E... e... qual seria essa verdade? O que há na verdade? – Quistis, mesmo assustada com tudo aquilo, queria saber as respostas de tudo que estava acontecendo. Os seus acinzentados percorriam todo aquele lugar. Queria respostas e as queria agora.
- Se eu pudesse ganhar algo para todos aqueles que me fazem essa pergunta. A verdade. Nesta verdade, o que eu posso dizer, realmente é que Na verdade não há beleza. – Disse ele suspirando.
- Mas, como assim?
- Você deve estar imaginando o porquê de estar conseguindo ver Lemuria longe, praticamente acima dos céus. Ainda deve estar se perguntando sobre aquelas visões que você vira há algum tempo. Pois bem, tudo o que você vê é uma verdade. Uma verdade cruel e sórdida. – Disse ele dando rodeios e andando pela sala. – A Verdade, onde, todos nós daqui de cima não queremos que vocês, normais, saibam.
- Vocês são deuses? – Disse ela um pouco, agora, desconfortável naquele lugar.
- Não... nem de perto... mas, um dia, até pensávamos que éramos deuses... tentamos alcançar o céu e o que conseguimos? Asilo num local desconhecido no espaço.
Quistis estava em silêncio.
- A mais de 20.000 anos Lemurianos (algo em torno de 20.000 anos terrestres) a nossa civilização florescia. Éramos incrivelmente avançados e podíamos explorar todo o lugar no planeta. Há um pouco mais de 15.000 anos uma outra civilização no planeta apareceu, era chamada de Atlântida e com ela uma civilização ainda mais avançada veio a surgir e, então, uma mescla tecnológica pudemos controlar energias do planeta, antes incontroláveis, e, assim, pensamos que poderíamos alcançar um estágio mais elevado.
Ela ouvia tudo em silêncio.
- Um dia. Atlantis entrou em guerra com Bregalis e, assim, iniciou um verdadeiro cataclismo nuclear. Várias partes do planeta começaram a ficarem comprometidas e o fim era certo. Com isso em mãos os mais valorosos cientistas de Atlantis, Lemúria e Bregalis, assim como algumas poucas pessoas, conseguiram parar a guerra e permitirem, assim, o começo das pesquisas para a criação de naves espaciais. – Respirou um pouco e ligou uma máquina fazendo aparecer um tecido em cima da mesa que estava a frente de Quistis. – Estas naves iriam comportar um gigantesco mar e três gigantescas massas de terra, tudo o mais seria, diga-se, recriado por uma máquina que fantasiaria os locais mais distantes exploradores, animais, plantas, até mesmo o céu e o mar. Foram criadas duas gigantescas naves que comportariam tal maravilha tecnológica.
- Tudo o que você vê, em todos os lugares, são recriações desta tecnologia. Uma recriação perfeita de Bregalis, Atlantis e Lemuria de 1000 anos antes do avanço tecnológico. Pois, viu-se, que este avanço fez com que estas três grandes civilizações se destruíssem. Com as naves construídas, desde mais de 14.000 anos vagamos no espaço sideral a procura de um planeta habitável.
- E... e... porque vocês não falam isto para o povo?
- Porque, minha cara ex-sacerdotisa, o que o povo faria se descobrissem a verdade? Um completo caos tomaria conta de tudo e isto não podemos permitir. Uma guerra poderia eclodir.
- Mas e os deuses?
- Eles não existem... aqueles que vocês chamam de deuses, muitos deles eram apenas gigantescos programas de computador que usamos para dar imagem a esses deuses e poderes para entidades holográficas ou sintetizadas, tal qual este tecido. Que é uma criação destas máquinas.
- E o que eu estou fazendo aqui? – Perguntou ela já quase sem medo.
- Você está juntamente com aqueles outros que assim fizeram as ‘descobertas’, para monitorar as pessoas abaixo e não deixar que elas descubram a verdade. Estas descobertas nada mais são que defeitos nos programas.
- Se eu não ajudar?
- Não teremos escolha a não ser apagar a sua memória e levá-la de volta a Lemuria... todos irão passar pelo mesmo processo e tudo continuará do jeito que estava.
- Isto é injusto.
- Tudo na vida é injusto... – apertou um pequeno botão na mesa – Levem-na. Espero que decida isto daqui para amanhã.
E o Senhor continuou a olhar, de volta, a Lemuria. Na tela que estava na mesa havia um grupo de cosmonautas que estavam consertando a avaria sofrida pela nave quando passou por um cinturão de meteoros.