Despertar
- Doutor. Olhe – Disse uma enfermeira do Centro de Biomedicina em Andros IV, um dos maiores das Colônias Terrans espalhadas por mais de 100.000 anos-luz cúbicos do espaço conhecido. – Atividade cerebral.
- Como? – Disse um velho doutor se aproximando. – Mas ela está em coma a mais de 200 anos.
- Mas parece que ela está voltando... – disse a enfermeira com uma ponta de esperança.
- Monitore-a. Irei chamar a Junta para ver o que podemos fazer por ela.
(...)
Escuro. Tudo muito escuro. Não sentia nada. Seja o seu corpo, seja a sua mente, seja o espaço ao seu redor. Nada. Nem o seu próprio respirar, se é que esteja respirando.
Uma luz acendeu-se então e uma sala totalmente branca e vazia foi tudo o que ela pôde ver.
- Não desista ainda. – Disse uma voz que parecia ter o tom que ela usava.
- Como não? Faz mais de 200 anos. Ela não tem mais chance. – Disse uma outra voz rude, mas com o mesmo tom da primeira.
- Ela que tem que decidir por nós, afinal somos parte dela. – Disse a primeira.
- E o que ela sabe sobre decisão? Nada... simplesmente n-a-d-a. Estamos aqui por causa dela para inicio de conversa.
As duas vozes foram ganhando corpo e ela pudera ver tudo quase que claramente. Era ela discutindo consigo própria. Uma vestia-se de azul e outra de vermelho escuro e porquê não se lembra de alguma coisa, de como veio parar ali?
- Viu... ela é confusa... nada sabe. Ainda está se perguntando como veio parar aqui. – Disse a imagem dela vestida de vermelho. – Se for por ela passaremos a eternidade presas aqui.
- Não pense assim... – a segunda personagem falou solene – Qualquer um ficaria com trauma só de lembrar como veio parar aqui... se ela escolheu este caminho, o que podemos fazer?
- Dizer a ela que perdeu tudo, apesar de pensar que salvou tudo. TODOS MORTOS. OUVIU? – Gritou a segunda personagem para ela mesma. Tudo tão confuso. – Duzentos anos? Está gostando de tudo?
- Mas ele viveu bem... agora a neta dele vem visitá-la todos os dias. Toda a família dele ama você. Salvou ele. Sim, uma nobre escolha.
- Que nos deixou prisioneiras de nós mesmas para sempre.
- Não de ouvidos a ela. Agora você deve acordar e viver uma vida nova.
- É... sem ninguém ao seu lado. Sem ninguém para amar. Sem ninguém para compartilhar as lembranças boas.
- Mas, ainda assim, uma vida nova. Acorde.
- Se fizer isso...
- Faça a sua escolha.
(...)
O monitor ao lado da enferma mostrou um aumento da pulsação. A Junta Médica ainda discutia o que fazer com ela, mas, de repente, olhos verdes castanhos se abrem e admiram um novo mundo.
- Seja bem-vinda de volta, Ellen. Estávamos ansiosos pela sua chegada.
- Obrigada. – E sorriu como nunca tinha feito antes.