Gyg-X

Gyg-X

por Pedro Moreno (www.pedromoreno.com.br)

O órbita de Gig-X já podia a ser vista das naves, o planeta de cor metálica com suas construções funcionais e feias parecem completamente sem vida. O visor do capacete avisa que os marines chegarão em 20 minutos na órbita. Todos os pilotos acionam o sistema de camuflagem para parecem desapercebidos pelos sistemas de defesa, nenhum radar da Terra seria capaz de enxergá-los.

Infelizmente apenas na Terra...

Ninguém esperava pelo ataque repentino, logo o céu estava coberto de foguetes cruzando entre as naves e os abatendo. O Sargento Crash vê as primeiras naves sendo abatidas logo à frente e coordena seus homens para entrarem nos pads de transporte individual, assim mais soldados teriam chance de sobreviver. É a primeira missão de Jonathan, o marine está com medo. O sargento guia o soldado até seu pad e sorri como forma de dizer que tudo ficará bem.

O pads foram lançados, um pouco maior que um caixão e com autonomia de apenas poucos minutos, a gravidade teria que fazer o trabalho de aterrizá-los em um local seguro. Os equipamentos de defesa dos alienígenas era muito eficaz e grande parte dos pads foram destruídos ainda em voo.

Crash bateu contra uma construção derrubando a parede, a dor foi terrível, o sargento tateou no painel lateral em busca de uma injeção de seu kit médico, aplicou com destreza na coxa e logo o remédio começou a fazer efeito. A porta frontal do pad abriu revelando o que parece ser uma indústria, o marine arrancou da lateral uma pistola de energia e uma escopeta calibre alto. Vestiu o capacete e aguardou o sinal de seus companheiros para saber a localização. Nada. Provavelmente os marines que estavam com ele não puderam sobreviver.

O sargento enviou um mensagem para Terra avisando que aportara e esperava as coordenadas. Enquanto isso era melhor explorar. Pouco se sabia sobre os Gyg-X, apenas os satélites indicavam que sua tecnologia era bem superior, quando Crash avistou o primeiro deles teve uma surpresa, era um humano, não do jeito convencional pelo qual ele conhecia, mas uma versão modificada com implantes cibernéticos que parecem ter sido implantados por um açougueiro.

Com o tamanho de uma pessoa normal, vestindo um capacete com um visor esverdeado e com um rifle acoplado em sua mão direita, o guarda não o viu quando passou em sua ronda. Tudo indicava que esse lugar de sua aterrizagem era importante. O sargento correu furtivamente até alcançar o pescoço do guarda e travou com seus braços fortes o pescoço do alienígena fazendo-o sufocar. Puxou o corpo para perto do seu pad e observou o guarda.

Havia um botão nas laterais da cabeça e logo que foram apertados o capacete soltou revelando uma face humana com diversos plugs e fios que conectavam-no ao elmo. Suas pernas foram cortadas e substituídas por versões mecânicas de alto impacto, os ferimentos causados pela cirurgia nunca se cicatrizaram, muito provável que quando se movem devem sentir muita dor.

Uma peça destacável chama a atenção, ao retirá-la ficou exposta uma seringa pequena com um símbolo de morfina. Crash pegou os injetáveis e examinou que a cabeça do guarda tinham picadas correspondentes. Agachado ele começou a imaginar que tipo de soldados se sujeitariam a esse treinamento. Era claro que o remédio encontrando não servia apenas para aliviar a dor, mas para continuarem lutando.

Passos no corredor.

O sargento levantou rápido e se escondeu atrás de uma coluna espessa, outro guarda ganha a sala e passa rápido em direção à uma porta, Crash sai de seu esconderijo porém chuta um cano fazendo um barulho terrível, o alienígena logo se vira e começa a atirar, um fragmento de bala corta seu ombro e o sangue esguicha na parede, o marine reage e acerta no meio do crânio do maldito que cai morto no chão.

Crash arrasta o corpo até o outro morto e vasculha o corpo do inimigo. Suas mãos estavam amputadas e no lugar implantes cibernéticos, na parte esquerda uma pistola a lazer destacável, o sargento arranca a arma e confere a energia restante nas cápsulas, tinha bastante munição par continuar sua empreitada.

Seguiu por um corredor largo cheio de caixas de metal que terminou em uma porta grossa com a parte superior arredondada. Não havia maçanetas ou alavancas por perto. Crash se aproximou com cuidado e de súbito a porta se abriu ao meio. Sensores, talvez pelas modificações impostas ao soldados, maçanetas tornariam empecilhos.

O sargento seguiu por um corredor que desembocou em um platô, no nível inferior foi possível ver uma caldeira, ao lado uma dezena de maquinários cuja função não era possível discernir. Alguns guardas faziam a ronda, porém não perceberam o marine que seguiu pelo elevado. Apressou-se pelo piso superior até encontrar um arco garantindo acesso a outra área.

Com o cuidado extremo, o marine seguiu pelo novo corredor. Dom lado direito diversas caixas de metal com insígnias de várias cores, do outro um vidro separava-o de uma espécie de linha de montagem. Uma esteira contendo diversas partes mecânicas recebia a atenção de uma criatura grotesca que não desgrudava os olhos das peças. De pele pálida e corpo esquálido, a criatura já fora humanoide até ter suas pernas arrancadas e ter sido “acoplada” em um tipo de cadeira de rodas macabra, Em seus braços, diversas ferramentas inseridas de forma dolorosa, muitas ainda não cicatrizaram, outras tinham enormes queloides que avançavam sobre o metal em uma tentativa de engoli-lo.

Crash não conseguia tirar os olhos do trabalhador, sua forma de se mexer sugeria que estava sob efeito de algum tipo de droga pesada que o deixava em um estado de excitação. Toda peça que chegava no controle de qualidade era examinada e depois solta de volta para a esteira. O marine seguiu com calma para despertar a atenção da coisa. Visualizou uma porta aberta que dava para um lugar escuro com alguns tubos enormes emitindo uma luz fraca, passos vindo do corredor indicavam que alguém se aproximava, não tendo tempo para pensar, o marine pulou para dentro da sala escura e se escondeu.

Não tinha como saber ao certo o que era aquilo do lado de fora, parecia uma mistura sinistra entre metal, pessoa e um cachorro. As feições eram vagamente humanas e continuavam assim até o torso, porém apenas isso lembrava um ser humano, os braços e pernas tinham sido substituídos por formas metálicas que obrigavam o cyborgue andar como quadrúpede, em seus ombros saltavam um par de pistolas a lazer que indicavam um adversário poderoso. Sem poder sair da sala, Crash resolveu explorar esse aposento mal iluminado.

O que outrora pareciam apenas colunas iluminadas, agora com uma exame mais cauteloso, Crash identificou como sendo tanque de armazenação, eram dezenas de tanques com um líquido aminótico e um cabo terminado em um plugue. As primeiras fileiras estavam vazias, porém algumas tinham algo dentro. O sargento se aproximou do tanque para conseguir enxergar e se arrependeu do que viu. Havia um ser humano dentro do tubo! Diferente dos seres encontrados até agora, esse era realmente um humano.

O marine não conseguia acreditar no que via, seguiu para outros tanques e confirmou o que temia. Ele reconheceu uma das pessoas imersas no tubo como sendo um soldado de outro destacamento que teria chegado há uma semana atrás neste planeta hostil.

As luzes da sala piscam algumas vezes e por fim acendem. Um barulho de motor toma conta do ambiente. O marine se esgueira para trás de um dos tubos e espia em direção ao barulho. Outra criatura ganha a sala, desta vez se assemelha muito com o inspetor de qualidade do outro corredor. Suas pernas amputadas foram substituídas uma estrutura de metal com rodas envoltas em esteiras e de trás uma coluna com um guindaste, as esteiras se movimentando provocam um barulho terrivelmente alto e a coluna estava fixa ao corpo do operário com parafusos enormes.

O operário se aproximou de um dos tanques e desceu seu gancho até a superfície do cilindo que engatou. As correntes chiaram e por fim levantaram o pesado tanque. Crash resolveu seguir para ver o que ele faria com o soldado e quem sabe até detê-lo. Os passos do marine ficaram encobertos pelos chiados do operário guindaste que se arrastava pesadamente pelos corredores. Passaram por algumas salas até enfim entrarem em uma espécie de laboratório.

Uma criatura presa ao teto através de cabos de aço com finais em forma de gancho segurando-a através da pele, desceu até o cilindro e o abriu, em seguida entrou no líquido e retirou de dentro o soldado depositando em uma cadeira.

Esta criatura parecia mais humana que as demais, talvez pelo fato de estar com poucas partes metálicas, a não ser pelos ganchos suspendendo-a pela pele, poderia ser um humano. Com um solavanco, a coisa atingiu uma mesa com uma caixa cheia de ferramentas, de dentro tirou uma serra e a ligou com um sorriso no rosto olhando para a perna do soldado imóvel. Crash saiu rápido de seu esconderijo e com um só tiro matou a criatura que caiu pesadamente no chão, dentro de pouco muitos mais apareceriam, era preciso agir rápido. O marine olhou para o morto e sentiu algo estranho, aproximou seus olhos da pele do alienígena e afastou um pedaço de roupa costurado em sua própria pele, uma tatuagem. Um desenho de um dragão com as iniciais da divisão de infantaria da qual Crash já pertencera um dia. Uma tontura tomou conta do marine que olhou para o soldado desacordado, o propósito desta fábrica ficou claro demais. Eles não são alienígenas, são humanos como ele que foram transformados nessas coisas.

Crash aproxima a arma da cabeça do soldado e dispara uma bala salvadora contra o crânio do homem. Em seguida atravessa os corredores em busca dos tanques de criogenia que abrigam outras pessoas. No caminho ele pensa que seus homens que vieram junto com ele nessa missão podem ter se tornado matéria prima para o exército deles, mas isso não mais aconteceria.

Com passos decididos, o marine seguiu pelo labirinto de salas até não entrar em um beco sem saída, quando se virou para sair um soldado tapava sua passagem. Suas feridas ainda eram recentes, seu corpo ainda demonstrava vida, em seu rosto ainda era possível enxergar Jonathan, que outrora estava ao seu lado.

Os olhos do antigo marine pareciam ter perdido a vida, enquanto seu antigo aliado se aproximava apontando sua arma, Crash apontou sua rifle contra sua própria cabeça e atirou.