OS INIMIGOS - PARTE 1

Hauck olhou pelo retrovisor e via a nave inimiga aproximando-se perigosamente. Exímio piloto com muita experiência em combates sabia que teria que manobrar rápido para tentar contra atacar. A guerra contra o império Vasulano já durava 4 anos e ficava cada vez mais difícil conter as perdas de vidas humanas e as forças disponíveis minguavam a cada investida do poderoso inimigo. Hauck tentou então uma manobra desesperada fazendo com que sua nave girasse sobre si mesmo fazendo uma curva quase em ânulo reto para a direita. O piloto adversário percebendo a manobra manobrou na mesma direção tornando o choque inevitável. As duas naves enroscaram-se e entraram em um parafuso descontrolado. Assim desviaram-se das demais e partiram sem rumo impulsionadas pelo que sobrou de seus motores. Por mais que tentassem a situação parecia irreversível. Os comandos de bordo não funcionavam e Hauck sentia que iria desmaiar. Quando recobrou os sentidos a situação não havia mudado. As naves continuavam sua trajetória descontrolada sem que nada pudesse ser feito. Não tinha a menor idéia do tempo em que ficara desacordado e da velocidade com que os dois objetos se deslocavam. A rotação parecia ter arrefecido a velocidade e ele tentava raciocinar e pensar em alguma coisa. A situação era grave e provavelmente estariam condenados a vagar pelo infinito sem destino. O oxigênio a bordo não duraria muito mais e ele nem conhecia a condição em que seu oponente se encontrava. Repentinamente um forte solavanco e via pela janela as chamas típicas do atrito com a atmosfera. Durante algum tempo permaneceu apenas observando. Logo lembrou-se de que os motores auxiliares para vôo na atmosfera poderiam funcionar. As azas em delta estavam inteiras então ele acionou os motores. Isto num primeiro momento produziu um grande solavanco mas parecia funcionar. O manche estava meio emperrado mas dava-lhe alguma chance de manobra, pelo menos para manter um certo rumo. Isto fez com que o parafuso revertesse e por fim uma certa estabilidade. A nave inimiga presa as ferragens reduzia a velocidade. Então embora de cabeça para baixo percebeu vegetação no solo e uma grande área deserta. Sabia que uma descida suave seria quase impossível e a partir daí contaria com a sorte. Viu pela janela que seu inimigo ejetara o assento fugindo do fogo que se iniciara na nave abaixo da sua. Tentou a mesma manobra, mas o sistema não funcionou. Logo o estranho conjunto bateu em algumas árvores e desmanchando-se projetou-se para o solo arenoso. Hauck fechou os olhos e preparou-se para o pior. Seu corpo foi projetado para fora e por uma dessas incríveis coincidências, uma touceira de vegetação macia amorteceu a queda e ele deslizou sobre a areia. O oxigênio no capacete já havia se extinguido e a sensação de sufoco começou a agir. Num gesto rápido fez a única coisa possível. Livrou-se do capacete e sentiu milagrosamente a sensação de respirar oxigênio puro. Levantou-se ainda com dificuldade apanhou um punhado de areia e deixou escorrer por entre os dedos. Resolveu procurar sua mochila onde havia água potável e tabletes de ração além de materiais de pronto socorro. Algumas escoriações ardiam e o incomodavam. Percebeu não muito longe dali o para quedas de seu adversário pousando suavemente. As naves estavam literalmente destruídas e não se aproveitaria nada. Percebeu que o inimigo também já se livrara do capacete e andava em sua direção. Quando estava já bem próximo, não pode deixar escapar uma exclamação de espanto.

– Que diabos, é uma mulher!

– Seu cretino! Olha o que você fez! Falou a mulher soltando os cabelos.

–Você manobrou pro lado errado!

– Claro! Se faço o contrário você me pega. Era isso que queria não?

– A propósito, seu imperador deve estar mal pra precisar de mulheres pilotando naves de combate.

– Ok! Que tal deixar tudo isso pra lá e resolver o que faremos. Se você não percebeu, estamos numa enrascada.

– Certo! Afinal esta guerra nem é nossa. Estamos defendendo interesses financeiros de dois lideres casmurros.

– Meu nome é Tehra. Piloto de combate categoria 3.

– E quantas categorias vocês tem?

– Três! E você? Deve ser da categoria dos malucos.

– Meu nome é Hauk e sou comandante de esquadra.

– Nem sei se terei prazer em conhecê-lo, mas vamos lá. Você é sempre maluco assim?

– Não! Foi apenas a única manobra possível, ou você me acertaria.

– Você já percebeu que isso é muito estranho?

– De que está falando?

– Disso! Não deveria haver um planeta pelo menos há 100 anos luz de onde estávamos.

– Confesso que você tem razão. Com o agravante que possui, vegetação abundante e naturalmente oxigênio de boa qualidade. Agora precisamos encontrar água e tomara que haja vida por aqui.

– E se forem canibais?

– Bem aí estaremos fritos. Bem já estamos mesmo nesse caminho.

– Puxa! Que pessimismo! Ok! Vamos andar até aquela floresta e ver o que há por lá. Falou Tehra desvencilhando-se do para quedas.

Andaram durante um bom tempo quase sem falar. A condição de inimigos ferrenhos ainda não havia sido afastada. Precisavam no entanto achar um meio de convivência pois a situação era grave. Sabiam que não teriam como voltar a seus planetas de origem e muito menos serem localizados por alguma equipe de socorro. Tehra percebeu uma ravina onde havia uma falha como uma trilha aberta na mata.

– Veja parece que alguém andou por aqui. A vegetação está gasta no centro.

– Sim. Cada vez mais me parece que estamos em um planeta habitado.

– Ouça! Não parece...

– Água! Água jorrando de uma cachoeira.

CONTINUA

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 04/07/2010
Código do texto: T2358083
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