DEUSES E DEMÔNIOS III

PARTE 3 - A PRIMEIRA BATALHA

Não estávamos perto de Even 2 e a viagem foi rápida. Naturalmente que enquanto os acontecimentos rolavam a bordo da nave ela havia mudado o rumo e retornava para as proximidades de Even 2. Obviamente que mesmo que ela tivesse parceiros na posse dos diamantes não iria dividi-los. Desta forma enviou uma nave de combate, mantendo-se fora da visão de seus comparsas. Anor, o piloto que me acompanhava, era um sujeito atarracado e mal encarado. Quase não falava, o que era bom, pois sua voz soava como um estrondo em meus ouvidos. Chegando ao fundo da cratera ao ver as duas naves ou o que sobrou inteiro delas, ficou confuso.

– Mas aqui tem duas naves, por quê?

– Nós batemos e viemos para aqui. Respondi.

– Então, vocês não são parceiros? Perguntou.

– Mais ou menos respondi. Os diamantes estão numa caixa na fuselagem. Ele sumiu dentro da nave. Finalmente Rogério havia dado o ar da graça. Ele estava atento, mas as regras eram as mesmas. Nós deveríamos fazer tudo ao nosso alcance. Ele só iria intervir em situações extremas. Anor voltou trazendo a caixa que deveria ser bastante pesada. Eu não fazia idéia da quantidade de diamantes, mas deveria ser uma grande quantidade. Carregamos a caixa para cima com bastante dificuldade. Era bastante pesada. Finalmente conseguimos acomoda-la na nossa nave e tomamos o caminho de volta. Ao chegarmos, dois soldados tomaram a caixa e a levavam à nossa frente, rumo a sala de Mira. Depositaram a caixa diante dela. Mira desceu de seu trono e abriu a fechadura. Ao levantar a tampa, sua expressão foi de espanto e encarando-me perguntou.

– Que brincadeira é esta? Isto aqui é só pedra sem valor! Onde estão os diamantes?

– Não faço a menor idéia, nós apenas trouxemos o que estava na nave.

– E você quer que eu acredite nisso? Vocês tiveram tempo para esconder as pedras em algum lugar. Tragam a garota! Vocês terão 10 segundos para dizer onde estão as pedras, ou verão do que eu sou capaz. Dois soldados deram meia volta e saíram apressados. Mira era muito instável e sabiam muito bem o que ela costumava fazer quando desobedecida. Eu não tinha a menor idéia do destino dos diamantes. Será que o piloto que Maira havia abatido, teve tempo de escondê-los substituindo por pedras comuns? Mas agora as coisas iriam ficar realmente pretas, os homens voltaram e suas expressões eram no mínimo de terror e mal um deles conseguiu gaguejar as palavras.

– Comandante, a moça sumiu!

– O quê? Mira agora tinha uma expressão de ódio e seus olhos pareciam prestes a lançar chamas.

– Como sumiu? Onde estão os guardas que estavam à porta da cela?

– Comandante, a porta não foi aberta, estava trancada e ela simplesmente sumiu. O outro guarda havia saído apressado e voltava acompanhado de dois outros soldados.

– Muito bem! Falou Mira. Como alguém sumiu de uma cela trancada e vocês não viram?

– Comandante! Falou um dos guardas. Ela foi ao banheiro e ficamos aguardando, já fazia algum tempo e estávamos já preocupados quando recebemos a ordem de trazê-la. Então revistamos o banheiro. Não havia ninguém.

– Fora daqui! Todo mundo! Rodrigo, você fica! Ficamos a sós e ela repentinamente mudou de tom a até parecia meiga.

– Certo, preciso relaxar e pensar sobre isso tudo. Venha cá. Falou tomando-me pela mão. Andamos até o que deveria ser seus aposentos.

– Rodrigo, tenho uma proposta para você! Junte-se a mim. Eu posso fazer de você um homem muito rico!

– Mira! Em nosso sistema não é permitido a propriedade privada, eu não teria o que fazer com o dinheiro.

– Não seja ingênuo, quem disse que você vai voltar para lá? Eu costumo ter o que eu quero e eu quero você! Então ela se aproximou e me envolveu com beijos e carícias e eu não tinha como me desvencilhar, era uma atração muito forte e eu não tinha forças para resistir. Começou a despir-me e quando me dei conta estávamos sobre a cama e seu corpo quente junto ao meu deixava claro que eu não teria e nem mais queria resistir. Quando finalmente terminamos, eu sentei-me na cama e a observava. Era uma mulher linda apesar de ser uma espécie de demônio. Ela agora tinha um olhar sonhador e parecia ainda saborear o momento que havíamos vivido. Levantei-me e caminhei para o banheiro. Ela levantava-se e certamente viria também e talvez isso não terminasse por aí. Mas ao entrar no banheiro aconteceu algo inesperado. Dei mais um passo a frente e vi-me no interior de uma nave. Rogério estava sentado diante do painel de controle e a seu lado, Maira sorria e eu me dei conta de que estava completamente nu. Eu já desconfiava de que Rogério tinha algo a ver com o sumiço de Maira do banheiro. Os dois caíram na risada e Maira falou.

– Vou pegar umas roupas pra você.

– Ok! Tome um banho e vista-se que temos uma conversa. Claro que Rogério tinha planos. Tomei um banho, vesti-me e voltei para a sala de comando.

– Rodrigo! Falou Rogério, eu preciso ir, as coisas em Nova Terra estão ficando fora de controle. Parece que os nossos compatriotas não podem viver sem o poder econômico e estão se mobilizando neste sentido. Nova Terra acaba de romper com Xkarpa e preciso intervir. Mas preciso que vocês continuem investigando e combatendo os seqüestros e a corrupção que está tomando conta de uma grande área da galáxia. Mira é apenas uma ponta do novelo e hoje apenas vencemos o primeiro round.

– Esta idéia de trocar os diamantes por pedras, foi uma boa jogada! Como fez isso? Perguntei.

– Espere! Não fui eu! Eu apenas trouxe Maira para a nave, sobre os diamantes não tenho a menor idéia. Esta agora me deixava confuso. Eu tinha certeza de que Rogério tinha feito a troca.

– Ok! Deixo a nave com vocês, voltem para casa e planejem o que vão fazer. Dizendo isso, Rogério simplesmente desapareceu. Maira aproximou-se e me beijou.

– Você está esquisito! O que andou aprontando?

– Bem! Foi a contragosto, mas... Contei a Maira tudo o que havia acontecido. Esperava até uma reação menos compreensiva de sua parte, mas não aconteceu.

– Você não podia fazer nada! Aquela mulher é diabólica. Enquanto você viajava, ela me torturava dizendo que eu não o veria mais. Cheguei a pedir aos guardas que me levassem para outra cela longe dos aposentos dela. Mas claro que foi em vão. Tratamos de programar as coordenadas para a viagem rumo à Nova Terra e deixei a nave sob o controle automático. Fomos para nosso quarto descansar um pouco e por a escrita em ordem. Fizemos amor intensamente matando as saudades e depois de um banho restaurador deitamo-nos, mas havia muita coisa ainda a ser esclarecida e isso iria exigir um planejamento.

– Não estou entendendo o que houve com os diamantes. Você acha que o tal piloto que você matou teve tempo de fazer a troca?

– Não tenho a menor idéia, só se foi antes de me levar para a nave dele. Por falar nisso, como está sua memória?

– Está voltando. Acho que se tivermos uma noite de sono, tudo volta ao normal, afinal precisamos descansar.

– Você tem razão, nossos ferimentos também já cicatrizaram e as dores estão diminuindo bastante. Maira adormeceu e eu ainda pensava nos acontecimentos desde que acordei naquela clínica. Teríamos que voltar lá. Ao virar-me, a imagem de Mira surgiu na parede. Era como uma projeção tridimensional. Me olhava com raiva. Levantei-me, mas ao tentar me aproximar a imagem se desfez. Fui até o banheiro e ao olhar-me no espelho estava lá novamente. Em vez da minha imagem, eu via Mira.

– Que diabo, pensei, quem é essa mulher? Que estranhos poderes ela possui? Tal como Rogério ela pode dominar espaços tempo paralelos e surgir do nada como ele faz? Finalmente adormeci, mas os pesadelos me acordavam e Maira me acariciava e tentava fazer com que me tranqüilizasse, mas ela voltava.

– Você é meu e breve eu o terei novamente! Você pode esperar! Levantamos e fomos para a sala de comando. Maira abriu uma garrafa de vinho, colocou uma música suave e finalmente depois da garrafa vazia deitamo-nos novamente e o vinho fez o seu trabalho. Ferrei no sono e a imagem de Mira não voltou a perturbar. Acordamos era quase meio dia embora no espaço a única diferença entre dia e noite seja o relógio.

– Maira! O Rogério está preocupado com a situação em Nova Terra e com toda razão. Desde que descobriram os planetas da galáxia como os Lughanos que possuem regimes monetários, eles estão trocando bens como diamantes e ouro para criar reservas. Já instituíram a volta ao poder militar e a propriedade privada. Sabe-se lá o que isso ainda vai gerar de problemas.

– Sim! Salvo alguns grupos de resistência que não querem a volta de tal regime, muitos estão empreendendo viagens em busca de fortuna.

– Acho que o contrabando de mulheres tem alguém de Nova Terra por trás. O sistema de defesa não permite invasores então só podem ser ajudados por alguém de dentro do planeta, com meios para viajar sem ser incomodado. Eu temia que voltasse tudo o que afinal havia quase terminado com a antiga terra, mas o ser humano, não aprende! A sede de poder e conquistas fazem parte da vida dos terráqueos e certamente teremos todas as antigas ameaças de volta. Os Xkarpanos não interferem em assuntos internos, apenas estão exigindo limites para a posse.

– Maira! Você não me disse ainda como se infiltrou entre as garotas seqüestradas.

– Bem! Isso não foi difícil, algumas garotas estavam sendo selecionadas supostamente para fazer testes para um filme. O cinema americano já começa a mobilizar-se para retornar ao antigo esquema de filmes para bilheteria. Investiguei os anúncios e não havia nada em produção com o que os anúncios prometiam. Desconfiei que os desaparecimentos de garotas pudessem estar vinculados aos anúncios. Então foi só descobrir como seriam embarcadas.

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 08/05/2010
Código do texto: T2244800
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