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2040-7-A ARMADILHA DO DESERTO

Era minha primeira missão como comandante da nave RWSFI1 da federação Intergaláctica. Adan 7 havia me confiado uma nova missão menos complicada que as anteriores. Eu deveria levar um grupo de 700 cientistas até um novo planeta recentemente descoberto, para iniciar a implantação de uma plataforma de observações em sua órbita. Desta vez viajávamos armados, porque iríamos para uma zona ainda desconhecida e não sabíamos o que poderíamos encontrar. Esta era uma nave bem maior que as anteriores e além da tripulação numerosa. Havia um compartimento em um espaço-tempo paralelo com dimensões semelhantes a 3 campos de futebol sobre-postos. Seu conteúdo, 300 naves menores de combate e seus respectivos pilotos. Iub viajava comigo, pois segundo as leis de seu país, “maridos não podem viajar sozinhos”. Não que isso me incomodasse, ela era uma companheira perfeita e sempre disposta. Hatenna uma Anulana, morena, muito bonita e sorridente cuidava dos sensores de popa enquanto Iub cuidava dos sensores de proa. Era uma maneira de mantê-la ocupada com algo. Para o sub-comando eu havia convocado Maiha, pela sua larga experiência em viagens dessa natureza. Partimos de Nova Terra no dia 5 de Junho de 2041 e embora a nave fosse capaz de viajar em espaços-tempo paralelos encurtando incrivelmente as distâncias, a viagem de ida estava estimada para uma duração de 5 meses. Deveríamos voltar ao final de 15 meses contando 5 para a viagem de volta. Agora estávamos a exatos 29 dias no espaço e até agora a viagem transcorria sem incidentes. Naquela manhã vim tomar o lugar de Maiha no comando porque chegara a minha hora após uma noite virtual de descanso. No espaço não existe dia ou noite, é sempre a mesma paisagem de um negro intenso, pontilhado de estrelas e vez por outra a visão de galáxias distantes quebram um pouco a monotonia.

– Então! Dormiu bem? Ou a Iub esgotou você, ainda está com cara de sono.

– Tudo bem, dormi bem sim. Alguma novidade?

– Sim! Há um objeto localizado na órbita de um planeta que não deveria estar aqui. Pelo menos, não consta dos mapas.

– A que distância?

– Cerca de 1,5 milhões de km. Mando alguém verificar?

– Não! Deixe que eu cuide disso, vá descansar e quando voltar eu vou verificar pessoalmente. Mando preparar uma nave de combate e viajando nos espaços-tempo paralelos eu alcanço vocês em pouco tempo.

Quando Maiha voltou, saí para o espaço e em pouco mais de 12 horas a visão do planeta surgiu no visor do painel. Aproximei-me e resolvi contornar a órbita para localizar o tal objeto, que na verdade era uma pequena nave. Estava abandonada e apresentava sinais de avarias. Pela aparência devia estar ali há bastante tempo. O planeta tinha uma aparência semelhante a da antiga Terra e possuía nuvens indicando que a atmosfera também era semelhante. Possuía uma boa quantidade de água em sua metade inferior em relação ao pólo norte. Resolvi descer abaixo das nuvens e deparei com um terreno bastante árido e não havia sinais de vegetação. Reduzi a velocidade e comecei a dar algumas voltas observando atentamente, mas não havia sinais de vida. Repentinamente em uma grande área deserta um brilho me chamou a atenção e resolvi conferir. Ao aproximar-me deparei com uma pedra retangular parecendo um tipo de construção tosca, para a esquerda havia outra menor e a direita algumas esferas de um material brilhante como espelho estavam sobrepostas de maneira aleatória. Resolvi descer e verificar o estranho conjunto. Pousei a uma distância segura e resolvi seguir a pé. O chão era bastante duro e plano. Não havia elevações por uma grande extensão. Enquanto andava percebia vibrações no subsolo. Ao aproximar-me surgiu a figura de uma mulher, completamente nua sentada ao chão. Não apresentava um único fio de cabelo e era bastante bonita, dona de um corpo escultural, o suficiente para deixar-nos pensando bobagens. A temperatura ao sol, não era exageradamente alta, mas sentar-se nua ao sol não me parecia uma boa idéia. Aproximei-me e arrisquei um

– Olá! Telepaticamente. Ela respondeu.

– Olá! Enquanto me observava da cabeça aos pés.

– Meu nome é Rogério e venho em missão de paz.

– Eu sei! Vi sua nave se aproximar. Meu nome é Delora. Não contendo a curiosidade, perguntei.

– Porque está nua?

– Porque não usamos roupas. Respondeu ainda me estudando detalhadamente.

– Venha ver minha casa. Falou levantando-se e me tomando pela mão. Entramos no estranho bloco de esferas, como se fossemos fantasmas, pois não havia uma porta ou janelas. Por dentro era bastante confortável e achei estranho que não houvesse uma cozinha, ou qualquer outra coisa que indicasse o consumo de alimentos. – Você vive aqui sozinha?

– Sim! Respondeu.

– Mas, como faz para se alimentar?

– Uso a luz do sol. Nós nos alimentamos de energia solar.

– Há! Interessante, mas de onde você é e porque há vibrações no subsolo?

– Moro aqui e as vibrações são de uma cidade, lá embaixo.

– Ok! Mas este planeta não deveria estar aqui, pode explicar?

– Não estava. Tire a roupa!

– Como?

– Sim! Deixe que eu tire.

– Mas, espere, por que devo tirar a roupa?

– Você já saberá. Dizendo isso, aproximou-se e senti que minhas roupas estavam simplesmente sumindo aos poucos. Ela então começou a envolver-me num abraço e comecei a sentir uma excitação fortíssima, algo que nunca havia experimentado. Quando me dei conta estávamos transando freneticamente e ao final, eu estava completamente exausto depois de um clímax que jamais havia imaginado. Joguei-me sobre a macia cama e procurava recuperar o fôlego.

– Você agora é meu.

– O que está dizendo? Devolva minhas roupas, preciso voltar à nave. – Não! Você não sairá mais daqui.

– Por quê? Indaguei já arrependido de ter vindo até ali.

– Porque vou devorá-lo inteiro.

Então a mulher começou a transformar-se em algo semelhante a uma gelatina e começou a envolver-me em um abraço do qual não conseguia livrar-me por mais força que fizesse. À medida que a coisa me envolvia, a dor que sentia era insuportável, como se meus ossos estivessem por quebrar-se. Ela me despira inclusive da minha arma, o que não teria adiantado muito, pois eu não conseguia move um dedo. A intensidade da dor chegou a tal ponto que senti que ia desmaiar e então me urinei. Pra meu espanto ao ser atingida, a gelatina começou a encolher-se liberando uma fumaça como acontece quando derramamos ácido sobre alguma coisa. Ela então soltou um urro ensurdecedor e esvaiu-se sobrando apenas uma macha úmida sobre o chão. Senti minhas forças faltando e consegui apenas sair dali para fora. Acho que desmaiei e quando acordei a figura de Maiha me olhava curiosa.

– Não sei em que encrenca você se meteu, mas está uma gracinha, nu, deitado no meio do deserto. Só então percebi que o insólito conjunto de edificações havia sumido.

– Tentei várias vezes me comunicar com você, mas não consegui. Algo deve ter bloqueado nossos cristais Alpha Z. Contei então a Maiha o que havia acontecido. Ela tirou a camisa e me deu para que me cobrisse pelo menos em parte. Embora ainda com dores, tomamos o rumo das naves.

– Você já imaginou se Iub, nos vê assim, eu só de sutiã e você só com a camisa amarrada na cintura?

– Nem fale, teríamos uma tempestade a bordo.

– Falei pra ela que você estava numa reunião de emergência com os cientistas.

– Está bem quando chegarmos eu fico no hangar e você me arranja umas roupas. Tomamos nossas naves e tratamos de acelerar para ir de encontro à nave mãe.

– Maiha! Está me ouvindo?

– Sim! Respondeu ela. Percebi que estava rindo.

– De que está rindo?

– Rogério, já vi muitas maneiras de destruir um inimigo, mas esta de fazer xixi em cima dele é novidade!

– Bem, ela se alimentava de energia solar, deve ter dado um curto nos circuitos. Fizemos o resto da viagem nos divertindo com a situação.

Chegamos à nave e depois que Maiha me arranjou as roupas, tratei de ir para meus aposentos. Iub estava ansiosa e ficou feliz de me ver. Já era tarde e depois de um lanche, preparamo-nos para dormir. Como sempre ela estava disposta e logo começou seu joguinho de sedução.

– Não! Iub, hoje não!

– Por quê? Você estar bem?

– Estou bem só que na reunião com os cientistas me aplicaram um novo estimulante e parece que produz efeitos colaterais, estou imprestável. Amanhã tiramos o atraso ok?

– Sim! Iub pensar que...

– Não pensar nada. Vamos dormir que amanhã temos um dia cheio. Na Manhã seguinte encontrei Maiha na lanchonete de bordo onde fazíamos o desjejum. Era seu dia de folga e ela aproximou-se com um largo sorriso.

– Não vá me dizer que hoje de manhã você derreteu o vazo do banheiro. Não! Apenas ainda está meio dolorido, principalmente na zona genital. Sabe? Estive pensando que talvez a tripulação daquela nave abandonada não tenha tido a mesma sorte que eu tive.

– Vai ver que em vez de se urinar eles se borraram, já pensou no cheiro da tal gelatina? Mas, cá pra nós, bem que você gostou da transa não?

–Nem brinque! Você nem imagina o que é uma tesão involuntária de tal intensidade. É uma coisa devastadora. Mas o pior é que não sei se transei com uma mulher ou com uma gelatina.

– Há! Sabe aquele planeta? Está se afastando como uma nave. Ontem ele desapareceu porque passou para o espaço-tempo em beta e está no campo violeta.

– Quer saber, acho que isso não termina aqui, o Adan vai querer mais sobre o tal planeta misterioso.

2040-8-ASSASSINATO A BORDO

Depois do episódio em que quase morrera nas mãos de uma misteriosa forma de vida, as coisas na nave estavam transcorrendo na normalidade até que um novo e inesperado incidente surgiu. Nós tínhamos a bordo a população de uma pequena cidade e isso às vezes poderia criar certas dificuldades. Ao todo tínhamos habitantes de 4 planetas diferentes incluindo Nova Terra. Poderíamos prever algumas dificuldades, mas nada parecido com o que sucederia.

– Comandante! Temos um grave problema a bordo! A voz era do chefe de manutenção dos alojamentos e pelo tom a coisa deveria ser séria.

– O que foi? Fale!

– Temos uma menina morta! Estuprada e assassinada.

– Ok! Estou indo. A notícia me deixou estupefato. Este não era o tipo de problema que eu deveria ter que enfrentar. Desloquei-me até o quarto onde se encontrava o corpo. Ela estava estirada sobre a cama, o rosto desfigurado e havia ao seu redor uma poça de sangue. Fora brutalmente espancada e esfaqueada até a morte. Ninguém ouvira nada ou suspeitara de algum acontecimento estranho. As marcas de abuso sexual eram evidentes.

– Quem a viu por último?

– Senhor! O Malic esteve com ela na boate ontem a noite, mas apenas, segundo ele, a acompanhou até o quarto e despediu-se. Falou que não chegaram a um acordo e ele voltou para a boate.

– Quem é esse Malic?

– É um piloto de Anul.

– Vá buscá-lo! Quero falar com ele. Chame também o garçom do local, quero conversar com ele também. Malic era um homem ainda jovem e um piloto competente.

– Você viu ou sentiu alguma coisa nela que pudesse dar alguma pista?

– Não senhor, bebemos e dançamos um pouco, ela estava muito alegre e apenas a deixei em seus aposentos pois foi apenas um encontro de amigos. Não rolou nada. O garçom apenas lembrava tê-la visto com um ou outro, mas, não lembrava das fisionomias e apenas os vira se divertindo, nada que pudesse esclarecer alguma coisa.

– Está bem! Falei.

– Agora, me deixem só. Quero pensar um pouco.

Na verdade eu queria tentar um contato, como o que tivera com minha mãe, no período em que esteve morta Mas tal como ocorreu naquela vez, eu dependia de que ela estivesse a fim de tentar um contato. Provavelmente ainda estava sem saber que estava morta e isso levaria algum tempo. Wihki era uma garota muito bonita e certamente muito assediada. Virei-me e havia uma garota parada a porta do quarto. Tinha lágrimas nos olhos e balançava a cabeça, parecendo não acreditar no que via.

– Desculpe! Falou eu e Wikhi éramos muito amigas e eu não entendo quem poderia ter feito isso.

– Tudo bem! Falei. – Sabe de seu último relacionamento?

– Sim! Ela ficou um tempo com o Marco, mas ele era muito ciumento, pegava muito no pé dela e aí ela acabou tudo. – Quem era esse Marco?

– Era um piloto de Nova Terra.

– Sabe se ele está a bordo?

– Creio que não! Parece que ele queria largar a profissão e dedicar-se a mecânica. E se estivesse a bordo ele ficaria dando em cima dela. Então eu saberia, ela me contava tudo.

– Veja! A porta não foi arrombada, ou ela o colocou para dentro, ou ele possuía uma cópia do cartão.

– Sei! Mas, ela não falou nada sobre isso.

– Está bem, por enquanto, obrigado. Como é seu nome?

– Eddy, por quê?

– Só pra saber! Pode ir agora.

– Maiha!

– Pois não!

– Mande o serviço médico, quero uma autópsia logo.

– Fiquei ainda ali enquanto a perícia fazia seu trabalho e depois voltei para a sala de comando. Precisava relatar ao Adan o que acabara de acontecer. Obviamente o assassino estava a bordo e talvez Adan 7 pudesse ver alguma coisa como fizera pela época da morte de Kelly 2.

– Fale meu comandante! Você está com problemas?

– Sim! Narrei a ele tudo o que acontecera e esperava que ele pudesse ajudar

– Não! Meu comandante lembre-se daquela vez seu pai me guiou até os acontecimentos e eu dependia da mente dele e do que ele sabia. Ele conhecia a vítima e o possível local. Esta você vai ter que resolver. Bem, restava investigar. Os quartos não possuíam câmeras de segurança e as dos corredores não registraram nada anormal, apenas o vai e vem normal de garotas entrando e saindo dos quartos ou transitando pelos corredores. Marco, não estava na nave, apesar de suspeito, dependeria de que alguém que executasse o serviço por ele. Mas quem cometera o crime, tinha acesso aos aposentos ou foi colocado pra dentro pela própria vítima. Mas quem?

– Comandante! Temos outra vítima! Era Haroni o responsável pelas investigações.

– Onde agora?

– Na biblioteca. Mas esta ainda está viva e estamos levando para a emergência.

– Ok! Faça tudo o que puder. Já estou indo.

Cheguei a emergência e a garota estava na mesa de cirurgia. Pelo visor eu reconheci Hatenna, a sorridente Anulana que trabalhava na sala de comando. Naquele dia estava de folga. Fora atacada e atingida por um forte golpe de faca quase no coração. Estava em coma e os médicos lutavam para mantê-la viva. Será que Hatenna seria a próxima vítima? Mas porque na biblioteca? Ela deveria saber de algo, por isso fora atacada. Restava esperar que se recuperasse. A autópsia indicava que Wihki antes de morrer, havia ingerido uma dose exagerada de calmante. Mas havia algo errado. A autópsia não encontrara sinais de esperma. Então os sinais de violência sexual pareciam mais um ato de vingança e não causada por uma relação forçada. Eram 3 h da manhã e Hatenna havia vencido o estado de coma, mas ainda delirava e dizia coisas sem nexo. Eu já ia saindo, quando me pareceu ouvir bem claro, “Machorra desgraçada”. Voltei e tentei contato com Hatenna, mas ela continuava delirando. Isso poderia ou não significar algo? Pessoas delirando misturam as coisas. Decidi então voltar ao quarto de Wihki. A porta estava entreaberta.

– Haroni! Chamei.

– Sim!

– A porta do quarto da vítima não deveria estar fechada?

– Sim, eu mesmo fechei.

– Ok! Nosso assassino esteve por aqui. Venha para cá enquanto dou uma olhada.

Wihki era muito organizada e o ambiente era limpo e bem cuidado. O conteúdo das gavetas era todo ajeitado de forma que ficasse fácil encontrar alguma coisa embora eu não soubesse o que procurar. Haroni chegou e me ajudava a procurar alguma pista. Lembrei da lixeira que ficava embutida no armário e ao revirar o lixo deparei com algo duro enrolado em um lenço. Era uma caixa contendo um anel. Estava quebrado mas dava para ler algo no fundo da caixa.

–Haroni! Eddy! Mande prende-la já!

– Ok! Então neste momento um vulto saiu a toda de dentro do banheiro. Não tivemos tempo de ver quem era. Saímos corredor a fora, mas, já havia sumido. Pelo jeito era bastante veloz.

– Ok! Comandante vou dar o sinal de alarma e mandar prende-la. Entreguei a caixinha com a jóia ao Haroni e saí. Estava andando em direção a sala de comando quando a voz de Maiha chegou aos meus ouvidos.

– Cuidado, ela tomou Iub como refém e está armada. Claro que estávamos nos comunicando telepaticamente.

– Não faça nada. Ganhe tempo. Pergunte o que ela quer.

– Já sei! Não demore. Agora seria fácil. Tratei de me colocar no espaço-tempo contíguo em beta e entrei pela sala de comando. Desta forma estava invisível. Ela estava com Iub presa pelo pescoço e tinha uma faca encostada em sua garganta.

– Olha! Eu quero uma nave e quero sair daqui em segurança. A Iub vai comigo! – Espere! Disse Maiha. Leve-me no lugar dela.

– Pra mim tanto faz. Dizendo isso, largou Iub que saiu às pressas ainda esfregando o pescoço.

Maiha então se deixou agarrar, mas era uma mulher experiente e sabia que eu estava bem próximo então deu com o cotovelo na altura do peito da agressora que a soltou por um momento. O suficiente para que eu a imobilizasse fazendo com que a faca caísse ao chão.

– Ela ainda tentou reagir, mas não conseguiria. Haroni entrou e a algemou.

– Porque você a matou? Perguntei.

– Porque ela me deixou por aquele porco do tal de Marco.

– E a Hatenna? Porque tentou mata-la também?

– Porque ela sabia! Ela era muito amiga da Wihki e ia acabar dando nos dentes.

– Ela sabia que você matou a Wikhi?

– Não! Isso não! Mas ela sabia que eu odiava o Marco e não iria perdoar a Wikhi.

– Ok! Certamente ela teria ajudado a chegarmos até você. Bem, de certa forma ajudou. Você sabe que cometeu um crime e acaba de confessá-lo. Você sabe também qual é o castigo.

– Sei! Mas, não importa mais. Eu estou pronta.

– OK! Amanhã pela manhã eu serei obrigado pela autoridade que me compete a pronunciar sua sentença.

– Eu sei! Vocês me darão uma injeção e depois me lançarão no espaço. Posso pedir uma ultima coisa?

– Sim! Fale.

– Quero ir sem tomar a injeção!

– Mas por quê? Você vai sofrer terrivelmente quando ficar sem ar pra respirar.

– Não faz mal. Tenho medo de injeção!

– Está certo.

- Como deduziu que era ela? Perguntou Maiha.

– Bem, na caixinha da jóia estava escrito no fundo, “De Eddy para”.

O resto não dava pra ler, mas liguei com a frase pronunciada por Hatenna. “Machorra desgraçada”. Daí foi fácil deduzir o resto. Ela estava lá tentando provavelmente encontrar a caixinha com a jóia. Quando falei ao Haroni para que a prendesse, ela se viu perdida e aí, bem o resto você sabe. Na manhã seguinte, à hora marcada, na presença de toda a tripulação, li a sentença e autorizei a execução. Ela então, como havia pedido, deitou-se na urna mortuária. A tampa foi lacrada e ela foi lançada ao espaço. Era a lei. Os Xkarpanos não aceitam crimes de morte. Em Terra ela teria sido executada apenas com a injeção letal. Voltamos a nossos afazeres, ainda tínhamos um longo caminho pela frente. Iub, agora mais calma ainda estava triste.

– Saber? Em meu país não ter isso de machona!

– Sei! Mas eu também pensava que só na Terra tinha disso.

O ser humano é o mesmo em qualquer lugar, tem lá suas fraquezas e suas opções diferentes. O problema é quando isso vira motivo para matar.

– Salve meu comandante! Era o Adan, me cumprimentando pelo desfecho do caso e pela minha atuação como detetive. Eu ainda tinha dúvidas sobre o que Adan dissera quando lhe pedi ajuda. Será que ele não podia mesmo? Ou sabia de tudo como sempre e apenas estava me testando mais uma vez? Dias depois Hatenna, sorridente tomou seu lugar na sala de comando.

– Chefe! Pensei que ia mesmo morrer. Quase que ela me pegou.

– É bom tê-la de volta, recuperada e pronta para trabalhar. Já estávamos com saudades desse seu sorriso. Vamos lá que temos muito que fazer.

2040-9-UM PLANETA PRIMITIVO

Depois do assassinato de Wikhi, não voltaram a ocorrer situações que colocassem em risco a harmonia a bordo. Nosso planeta de destino ainda não tinha um nome, Resolvemos chama-lo de Novo Mundo. Ao aproximarmo-nos os sensores de bordo acusavam uma atmosfera semelhante a da Terra, mas um pouco rarefeita, como acontece na Terra nos países muito acima do nível do mar. Possuía oceanos que ocupavam cerca de 2 terços da área total e apresentava ainda indícios de antigas civilizações extintas a bastante tempo. Estacionamos em uma órbita elíptica e desembarcamos em uma nave de reconhecimento. Deveríamos selecionar uma área para a base que daria inicio a construção de uma estação de observação que ficaria em órbita. Ao contrário da maioria dos planetas, este possuía duas estrelas que faziam com que diferença entre noite e dia fosse quase insignificante. As distâncias em que ficavam produzia uma luz amarelada e parecia mais um eterno entardecer. A temperatura era agradável e deveria ser constante. Eu levava um geólogo, um engenheiro, uma arqueóloga e um naturalista. Inicialmente optamos por um vôo de reconhecimento a baixa altura. Algumas ruínas chamaram a atenção e resolvemos pousar para analisar mais de perto. Eram ruínas bastante antigas e provavelmente restos de uma cidade. Elgah a nossa arqueóloga, mediu a idade das pedras, - Isto está aqui há 10,000 anos. Afirmou. Uma busca mais apurada mostrou esculturas já quase imperceptíveis devido à ação do tempo. Os sinais eram evidentes. Houve ali uma população avançada em época remota. O local mereceria estudos mais aprofundados. Repentinamente Elgah me olhou assustada e não conseguiu falar apenas apontava com os olhos arregalados. Virei-me e vi uma imensa cobra, deveria ter mais de 30 metros e lembrava as nossas sucuris da selva amazônica. Um animal enorme e provavelmente capaz de engolir um ser humano em uma só bocada.

– Calma, falei. Ela não vai atacar, deve estar de barriga cheia. Efetivamente o animal estava dormindo e procuramos nos afastar sem perturbá-la. A conclusão era óbvia. Em algum tempo aquele planeta sofrera algum tipo de cataclismo que eliminou completamente sua população. Mas, a vida como sempre ressurge e deveríamos encontrar outras criaturas em estado ainda primitivo de evolução. Elgah em determinado momento bateu no meu ombro.

– Veja! Inacreditável, mas não são dinossauros?

Olhei para a direção que ela apontava e, com efeito, havia um grupo de dinossauros de pequeno porte e haviam abatido nada menos que um Mamute. Faziam um grande banquete. Voamos mais para o oeste e deparamos então com algo que não esperávamos encontrar. Uma população de seres humanos trabalhava na remoção de gigantescas pedras e construíam uma espécie de pirâmide, policiados por nada menos que alienígenas cinzentos, como chamávamos a espécie mais nociva entre os habitantes de outras galáxias. Trabalho escravo, com certeza. Resolvi então colocar a nave invisível em beta, desta forma não poderíamos ser vistos e seria possível observar mais de perto. Havia uma nave pousada em uma clareira. Um disco voador típico desta raça que durante muitos anos haviam feito experiências malignas com seres humanos em nossa velha Terra. Existem muitos relatos de abdução e desaparecimentos de pessoas. Nem todos os habitantes de outros mundos são pacíficos. Era o primeiro sinal de que teríamos problemas. Resolvi então criar uma projeção material da nave e avançar em sua direção. Com este truque a nossa nave ficaria invisível, e eles apenas veriam uma projeção aproximando-se. Imediatamente começaram a atirar. Possuíam armas que disparavam raios, mas estes apenas atravessavam a projeção. Ajustei então um dos canhões de proa para disparar raios com potência suficiente para deixá-los fora de combate por algum tempo. O primeiro tiro atingiu um deles que deu um giro sobre si mesmo estatelando-se no chão. Resolvi então colocar em prática o que havia aprendido sobre a capacidade de mover grandes objetos com a força da mente. Coloquei sua nave no campo violeta e a movi lentamente pára cima. Eles começaram a correr em direção a nave. Estavam atônitos com o que estava acontecendo.

– Maiha! Chamei. Ponha de prontidão uma frota de 30 naves de combate.

– É pra já! Nossos pilotos estão precisando de ação.

Voltei então para o campo Alpha e pousei a nave. Eles não teriam como alcançar sua nave e estavam a minha mercê. Dirigi-me então telepaticamente a um dos cinzentos que estava deitando sua arma ao solo.

– Quero falar com seu comandante!

– Sou eu! Falou um outro se aproximando.

– Muito bem! Eu sou representante da federação intergaláctica e você sabe que não toleramos trabalho escravo. Solte imediatamente todos os prisioneiros e liberte-os do trabalho.

– Você não pode interferir! Eu sou Evo, comandante supremo das forças militares de Angrol e chegamos aqui primeiro. Tomamos o planeta e implantaremos aqui uma colônia.

– Maiha, dê uma demonstração. Não atire apenas ordene vôo rasante.

Maiha obedeceu e a nuvem de naves surgiu sobrevoando nossas cabeças. O angrolano acompanhou com a cabeça.

– Comandante! Falou ele.

– Nós temos uma nave armada com centenas de naves de ataque a bordo. Está estacionada em órbita e protegida por escudos.

– Ok! Falei. Então veja agora o que vai acontecer com sua nave se não obedecer.

– Maiha! Localiza a nave deles em Terra.

– Já fiz isso! Tenho no meu monitor.

– Ok! Dispare uma ampola de 3 megatons.

Maiha obedeceu e o disco voador elevado, transformou-se numa imensa bola de fogo. Não sobrou nada. Evo incrédulo me encarou com uma expressão de pura raiva. A voz de Maiha veio a mim.

– Rogério! Localizamos a nave mãe deles. Está vindo em atitude de ataque. Vou colocar nossa nave em beta e contra atacar. – Ok! Faça isso. Contorne em Alpha e ataque pela retaguarda. Mas não a destrua apenas avarie um pouco.

– Sua nave agora será destruída! Falou Evo com certa prepotência.

– Engano seu! Neste momento sua nave é que está sendo atacada! A risada de Maiha atingiu meus ouvidos como uma onda de alegria.

– Rogério! Eles estão dando meia volta e seu comandante quer falar com você. Diga a ele que fale. Transmita pelo intercomunicador. Maiha obedeceu e a voz do comandante deles chegou clara aos meus ouvidos.

– Comandante! Não tenho no momento outra escolha. Posso retirar meus homens?

– Sim! Mande uma de suas naves apanhá-los, mas que venham desarmados. Posso saber o que pretendiam com uma colônia aqui?

– Comandante este planeta é rico em ouro e pretendíamos explora-lo.

– Certo! Mas, você deve primeiro entrar em contato com a Federação. Se eles permitirem, não tenho nada contra. Mas, o trabalho escravo, está fora de cogitação. Volte em paz e siga os trâmites legais.

Logo uma nave desceu e recolheu os homens em Terra. Os escravos foram liberados e preparavam uma grande festa. Era ainda um povo primitivo. Pouco mais que o embrião de uma nova humanidade e certamente nossa base de observações seria construída nas imediações do povoado. Vestiam-se com sumárias roupas de couro e eram evidentemente caçadores ainda utilizando instrumentos rústicos. Estávamos ainda comentando os acontecimentos, quando uma garota aparentando não mais que uns 16 anos aproximou-se lentamente admirada com a nossa presença. Veio curiosa em minha direção e chegando junto a mim, tocava-me com sua mão e alisava meu peito examinando-o e cheirando. Tentei um - Ola! Telepático, mas não funcionou. Ela penas emitia uns vocábulos sem sentido. Parece que ainda não tinham desenvolvido um vocabulário. Elgah brincou.

– Cuidado comandante ou você acaba ganhando outra esposa de presente!

– Nem brinque! Uma já dá trabalho. Respondi e nem havia percebido que vários membros do grupo aproximavam-se e um por um iam prostrando-se a nossos pés, então me lembrei de que provavelmente, nos viam como deuses. Fiz um sinal para que levantassem. Murmuravam algo entre si e olhavam-nos com respeito e certo ar de admiração.

– Acho que podemos construir a base por aqui. Repentinamente começaram a debandar em desabalada correria e apontavam gritando!

– Utú! Utú!

Olhei então na direção que apontavam e vi um imenso tigre semelhante aos tigres de Bengala, com enormes presas a mostra e de tamanho aproximado de um cavalo. Era um belo animal, mas atacaria sem dúvida Então peguei a arma e desferi um raio mortal. O animal caiu contorcendo-se. Eles então pararam de correr e erguiam seus braços e suas lanças comemorando. Depois se jogaram ao chão e de joelhos curvavam-se como fazem os muçulmanos ao orar Aproximei-me do animal que ainda estava vivo e desferi um último raio. Não me agradava sacrifica-lo, mas certamente ele teria matado algumas pessoas. Então vi descer um bando de aves enormes. Eram semelhantes aos nossos pré-históricos pterodátilos. Em poucos minutos não sobrava nada do tigre. Resolvemos nos proteger e observar.

– Bem, temos agora uma tarefa extra. Comentei.

– Precisamos construir um grande muro em torno do povoado e depois fazer como em Xkarpa. Um imenso muro de proteção aos animais selvagens. Ao final do banquete, ao contrário do que havia imaginado, os enormes pássaros alçaram vôo e desapareceram entre as nuvens. Voltamos então para a nave havia agora a tarefa de transportar o pessoal e os materiais para construir a estação. O terreno era rico em pedras de bom tamanho e material não ia faltar para o grande muro. Depois que relatei a Adan 7 os acontecimentos, ele decidiu mandar mais duas naves para que pudéssemos retornar. Voltando a nave, Maiha brincou com Iub!

– E agora Iub? Seu marido acaba de ganhar uma nova esposa! Ela respondeu.

– Hora! Iub não se importar! Em meu país, marido poder ter quantas esposas quiser. Maiha encarou-me com um ar de incredulidade e caímos todos na risada.

2040-10-CAÇA AO PALNETA DE DELORA

A nossa missão ali deveria ter levado 15 meses entre ida e volta, mas a descoberta do Novo planeta e sua população primitiva nos obrigou a construir um muro de proteção paralelamente à construção da base em Terra para apoio à estação de observação. A convivência com os nossos novos amigos já era razoável e nos comunicávamos através de gestos. Eles até estavam tentando copiar o que dizíamos e em breve deveriam ter um vocabulário desenvolvido. As duas naves enviadas por Adan já estavam a caminho e começamos os preparativos para a viagem de volta. Deixamos um contingente de homens e mulheres membros da tripulação e partimos no final de novembro de 2042. Um ano e nove meses ao invés da previsão inicial de 15 meses. Haveria ainda durante o caminho de volta a missão para desvendar o caso do estranho planeta de Delora. Minha aventura naquele planeta em minha viagem inicial ainda era motivo de brincadeiras. Mas Adan queria saber o que era aquele estranho planeta e a missão caberia a mim. Nós o monitorávamos constantemente e mesmo que não pudéssemos observá-lo detectávamos sua presença por leve oscilação nas órbitas de planetas próximos. Nos primeiros dois meses a viagem transcorreu sem novidades. Ao final do terceiro mês detectamos sua presença a 1,2 milhões de km um pouco mais próximo do que da vez anterior. Resolvemos por precaução estacionar a nave em uma órbita de um planeta próximo de onde se encontrava nosso alvo. Dali eu poderia alcançá-lo, como da outra vez em uma nave de combate. Maiha queria que eu usasse uma nave com dois lugares e que levasse alguém comigo, mas não aceitei. Essa era uma missão que eu deveria cumprir sozinho. Deixei Maiha no comando e parti. Viajando nos espaços-tempo paralelos eu o alcançaria em 10 horas de viagem. Quando finalmente o avistei, a coisa me pareceu muito estranha parecia uma estrutura de ferro queimando por dentro. Parecia uma bola de magma incandescente com uma espécie de rede a cobri-lo.

– Maiha! Você sabe o que é aquilo?

– Rogério, no meu monitor não dá para definir, mas não há nada que indique alteração nas informações anteriores.

– Ok, vou me aproximar com cuidado e ver o que acontece. Os sensores de fato não acusavam calor excessivo ou qualquer outra anormalidade, o que era bastante estranho. Coloquei a nave em órbita e decidi observar. Aquilo estava me parecendo uma camuflagem. Decidi então criar uma projeção material da nave e paralelamente manobrar para que a projeção pudesse ultrapassar aquela área e então eu poderia observar o próprio interior do planeta Controlei a distância para permanecer fora do alcance da estranha parede que o envolvia. As imagens vistas pelas câmeras de proa da projeção eram bem nítidas no meu monitor, como se eu próprio estivesse invadindo o espaço deles. Assim que atravessamos a barreira descortinou-se a mesma paisagem que havia visto em minha viagem anterior. Eu estava agora mergulhando em direção ao oceano e reduzi a velocidade, queria ver o que eles tinham de vida marinha. Para meu espanto, não havia nada, nem mesmo parecia água. Era como uma gelatina meio gasosa. Continuei avançando lentamente e penetrei no que devia ser a calota do planeta e por um tempo, não conseguia ver absolutamente nada, mas continuei avançando vagarosamente. Em determinado momento atingi o que Delora chamara de cidade. Então a visão que tive me deixou completamente atônito e comecei a sentir náuseas, mas aos poucos o sangue me subiu a cabeça e um ódio mortal tomou conta de todo o meu ser.Eu estava num corredor imenso cujo final perdia-se na distância. Nas laterais, fileiras imensas e intermináveis de cadáveres, humanos de todas as espécies. Quase todo o interior daquela coisa estava recheada de cadáveres conservados em enormes frascos transparentes imersos em um líquido estranho, provavelmente um conservante. Contendo a ânsia de vômito eu avançava. Via pessoas de etnias conhecidas, como negros, asiáticos, ruivos, adolescentes, adultos, não havia critério. Até seres como os nossos amigos cinzentos faziam parte da macabra coleção. Não sei o tempo que durou até que chegasse ao centro daquele inferno. Então quando consegui, comecei a entender. No centro daquela coisa havia máquinas que provavelmente serviam para movimentar aquilo utilizando a força de gravidade dos planetas próximos, como meio de propulsão. Mais para o interior salas enormes e seres que pareciam humanos, todos nus, como Delora me havia recebido. Eram evidentemente mutantes, pois a uma das mesas algumas criaturas disformes, como o que eu chamara de gelatina, Absorviam partes de corpos humanos.

– Meu Deus! Pensei, energia solar coisa nenhuma estes miseráveis alimentam-se de carne humana.

Usavam artifícios como a presença de Delora para atrair eventuais visitantes que se atrevessem a penetrar em seu espaço. Eu estava estarrecido com o que havia visto e eles embora percebessem a minha nave invadindo seus domínios, não esboçavam a menor reação. Tinham certeza de que não poderiam ser molestados. Tratei de sair, mas vagarosamente Eu não tinha pressa! Em determinado momento uma tatuagem sobre o peito de um dos cadáveres ainda jovem, não deveria ter mais que uns 17 ou 18 anos. Dizia, “ Nora eu te amo!” Sobre um desenho de um coração. Estava escrito em Português, Brasileiro ou talvez Português. Confesso que não pude conter as lágrimas, tomado de uma raiva fora de controle eu acelerei até sair fora daquilo. Coloquei-me a uma distância segura e procurava conter meu ímpeto. Mas, eu estava determinado. Debrucei-me sobre os controles do painel e chorei. Eu precisava fazer isso.

– Maiha!

– Sim comandante, eu sei. Não sei o que você viu, mas sinto que foi algo muito forte. Chore! Isto vai fazer bem a você!

– Fiquei um bom tempo observando aquela coisa. Depois selecionei uma ampola de antimatéria de 30 megatons. E disparei. O imenso clarão como um sol, chegou bastante perto. Pouco mais e eu teria ido junto.

Depois o vazio negro do espaço. Sobraria daquilo apenas um pequeno buraco negro pouco maior que um grão de ervilha. Pela primeira vez eu senti algo que jamais pensei um dia pudesse sentir. Eu senti prazer! Prazer de matar! Lentamente dei a volta e acelerei. A voz suave de Maiha novamente me tirou daquele transe em que me encontrava.

– Rogério! Eu vi! Nem vou perguntar por quê! – Maiha! Depois ponho você a par de tudo! Foi a coisa mais terrível que meus olhos já presenciaram.

– Tenho certeza disso! Para vê-lo assim, deve ter sido algo a Terra dor. No resto da viagem eu não tirava aquela visão da cabeça e tinha agora certeza de que eu iria caçá-los onde estivessem.

– Bravo meu comandante! Era a voz de Adan 7. Ele sempre sabia de tudo.

– Adan, perdoe-me se fiz algo errado, mas, não pude me conter e nem queria me conter!

– Não se preocupe! Você tem meu total apoio. Como disse a você, o multi-universo é cheio de vida, de todos os tipos e todas as espécies e há de tudo. Não será a última vez que você vê coisas desse tipo.

– Obrigado Adan!

– Agora dedique-se apenas a viagem de volta. Fique em paz. Retornando a nave, Maiha e Iub vieram me receber. Iub me beijou e disse.

– Rogério! Estar triste! Iub triste também.

– Não foi nada Iub, já passou. Maiha me abraçou.

– Ok! Chefe! Agora vá descansar.

– Nada disso, seu turno não está terminado? Além disso! Ficou o tempo todo responsável pela nave.

– Chefe! Eu ordeno! Na condição de comandante, uma vez que ainda não passei o comando de volta a você! Além disso, isto aqui ta uma chatice não está acontecendo nada fora do previsto. – Maiha, deixar, Iub levar ele pra cama. Era isso que eu temia. Eu estava um lixo, mas Iub não iria querer saber. Claro que quando Iub finalmente me deixou dormir, eu apaguei. Na manhã seguinte cheguei à sala de comando e o pessoal estava todo de cochichos. Quando me viram trataram cada um de fingir que estava trabalhando. – Ta legal! Já que trabalharam tanto, devem estar bastante cansados então! Todo mundo de folga pro resto do dia. Vamos, não quero ninguém por aqui. O espaço a minha frente era apenas o vazio negro de sempre. Coloquei a nave no controle de navegação e fui ao refeitório tomar um café e sabia que encontraria Maiha. Era o dia de folga, mas ela sempre vinha. – Oi! Sente aqui comigo.

– Claro! Dormiu bem?

– Sim! Mas, estava curiosa! O que afinal você viu? Contei então com todos os detalhes e ao cabo vi lágrimas em seus olhos.

– Não me admira que tenha sentido tanta revolta.

– Maiha! Sempre houve na Terra, desaparecimentos inexplicáveis, casos de abduções por extraterrestres. Milhares de pessoas que sumiam todos os anos sem deixar qualquer vestígio. Sabe-se lá há quanto tempo vem ocorrendo este tipo de coisa.

– Puxa, quando vi aquele clarão, temi por você! Na exagerou na dose?

– Não! Eu não queria que sobrasse uma pulga viva naquele inferno.

– Bem, pelo menos desta vez você não teve que fazer xixi em cima de ninguém! Voltei para o comando e sentei-me na minha cadeira. Meus pensamentos vagavam pelas estrelas ao longe. Era tudo admiravelmente gigantesco. Uma inteligência de tal magnitude que jamais poderíamos calcular foi capaz de criar tudo isso. Bilhões de universos compunham o que Adan 7 chamava de multi-universo. Um todo de proporções impossíveis de serem plenamente calculadas ou sequer compreendidas pelas mais avançadas mentes de nosso tempo. Com que finalidade? Porque seres tão insignificantes como nós, temos acesso a tanta beleza e ao mesmo tempo tanta diversidade, de seres maravilhosos e de seres terríveis como aqueles? Os cinzentos que escravizam outros povos? Os seres humanos que escravizam seus próprios semelhantes?

– É isso meu comandante! A voz do Adan desta vez me arrancou de meu devaneio e cheguei a levar um susto!

– Isto é Deus! Meu comandante, você não queria saber? Nós apenas não somos capazes de entendê-lo! Ele é o próprio multi-universo. E tudo isso, cabe aí dentro de você. Mas você é livre para arbitrar sua própria existência, praticando o bem ou o mal. Quem decide é você. Ok, agora chega de papo furado! Tenho uma missão muito importante, mas, você irá sozinho. Vou mandar a Iub, numa missão diplomática junto ao rei, seu pai. Assim ela não irá reclamar que marido viaje sozinho! É ele sabia sempre tudo, até o que eu estava pensando!

2040-11-UM NOVO AMOR EM MINHA VIDA

– Rogério, você sabe que passado presente e futuro coexistem no mesmo espaço tempo. Desta forma me é permitido olhar tanto para o futuro quanto para o passado e se quisermos saber o futuro precisamos olhar para o passado. Em 2048, seu pai terá 70 anos algo muito grave está para acontecer. Eu posso ver agora o futuro acontecendo. Sua missão será a de evitar a morte de seu pai. Não gosto de alterar o futuro, porque sabemos que isso terá conseqüências. Mas você terá que fazer isso.

– Puxa você está me assustando!

– Isto será daqui a cinco anos. No dia 12 de Setembro de 2048 seu pai será atacado durante uma viagem a área de preservação ambiental. Sua mãe estará em uma missão em Anul. Você estará em outro sistema cumprindo uma outra missão importante. Desta forma você não correrá o risco de estar ocupando dois espaços diferentes ao mesmo tempo no mesmo local. Programe-se para chegar lá no dia 11, assim terá tempo de preparar a ação. Boa sorte!

– Obrigado! Adan será que é possível alterar assim simplesmente?

– Amigo! O multi-universo é muito complexo e tem lá suas leis. Algumas podem ser violadas, outras não! Esperemos que esta possa ser alterada.

Preparei-me para a viagem e parti de Nova Terra. Não era uma viagem muito longa, usávamos agora os espaços-tempo conjugados com a capacidade de deslocamento no tempo. Cheguei a 2048 sem problemas, no dia marcado. Não entendia por que Adan me colocara nesta missão, quando ele próprio poderia comunicar-se com meu pai e impedi-lo de fazer a viagem. Havia aqui alguma coisa errada e eu não tardaria a descobrir. Ao descer em Nova Terra, claro que iria fazer uma surpresa a meu pai. Chegando as proximidades de sua casa, tratei de entrar em contato.

– Pai!... Não houve resposta. Aí estava a razão! Adan não conseguira falar com ele. Restava-me então entrar em contato pelo método tradicional. A porta estava aberta, uma atitude comum num lugar onde não havia preocupação com roubo,

pois não haveria a quem vender o produto roubado. Ele estava preparando-se para a viagem. Era detalhista e não gostava de esquecer nada ou deixar para a última hora.

– O que você está fazendo aqui? Perguntou ao me ver.

– Pai! Estou vindo de 2043 simplesmente para evitar que você faça esta viagem. Tentei um contato telepático a poucos momentos, mas não obtive resposta, o que está acontecendo?

– Não sei filho. Alguma coisa está bloqueando o cristal já faz alguns dias. Tentei ainda hoje um contato com sua mãe e não foi possível.

– Puxa! Isto é estranho. Mas seja como for, desista da viagem ou pelo menos adie. Deixe passar o dia 12 e depois programe-se novamente.

– Certo! Na verdade ia apenas procurar me distrair um pouco. Com a Kelly viajando isto aqui fica silencioso demais. O Krol está viajando também. Passa o dia comigo?

– Claro! Afinal a missão já acabou. Até imaginei que poderia haver algum contratempo, mas, está resolvido.

Meu pai aos 70 anos, graças aos avanços proporcionados por Adan 7, parecia ter não mais que 40. Passamos um dia agradável, relembrando histórias de como viemos parar em Nova Terra e como Krol e Adan haviam mudado os destinos não só da Terra, mas de Anul também. Contei-lhe sobre os episódios que culminaram com a destruição daquele planeta e como havíamos descoberto um novo mundo ainda em formação. Eu o deixei a tardinha e retomei o caminho de volta. Desci em Nova Terra de volta a 2043. Logo a voz de Adan vindo a mim. – Meu comandante, temos uma missão para você. Entre os planetas Argol e Cn18, há uma nave a deriva. È uma nave de porte médio e deve estar avariada. Esta foi a razão de enviar Iub para a missão em Even 4. Você já deveria ter partido, mas surgiu a emergência com seu pai. Leve Maiha com você. Apenas configure para estar no destino dois dias antes. Assim sua missão não sofrerá atraso. Viaje em uma nave de apoio, talvez tenha que transportar pessoas. As coordenadas estão no mapa enviado para a nave. Boa sorte! Maiha apresentou-se em Nova Terra para o embarque. Estava muito alegre e me beijou falando.

– Lá vamos nós! Nossa primeira missão conjunta.

– Você está muito bonita! O azul combina muito bem com você. Finalizamos as providências de praxe e partimos.

– Regule o tempo adiantando 48 h. Temos que chegar a tempo de evitar que morram por falta de oxigênio.

– Certo chefe!

– Enquanto ela fazia isso eu me ocupava do mapa com as coordenadas.

– Levaremos 3 dias para alcançar a nave.

– Ótimo! Teremos bastante tempo para conversar.

– Bem! Quer saber? É bem melhor do que viajar sozinho. Assim o tempo passa mais rápido.

O primeiro dia de viagem ocorreu com a monotonia de sempre. Nada pra fazer, apenas conversávamos e brincávamos um com o outro. Maiha ainda fazia gozações com o caso de Delora. Ao final do segundo dia, ouvíamos música e Maiha abriu uma garrafa de vinho e me parecia estranha, estava com um ar sonhador e vestia apenas uma saia curta e uma blusinha sumária. Claro que à medida que o vinho baixava na garrafa, subia em nossas cabeças e um dos inconvenientes do cristal Alpha Z é expor nossos pensamentos. Eu não tinha como esconder que a estava desejando. Era uma mulher muito bonita e sensual. Ela percebeu e eu senti que também ela estava excitada. Então foi inevitável, nos beijamos e nos envolvemos completamente. A música suave e a meia luz do ambiente fizeram o resto. Na manhã seguinte, acordamos ainda abraçados no beliche acanhado. Fizemos um desjejum e voltamos ao trabalho. A nave acidentada já aparecia nos sensores. Estávamos em silêncio e acho que ambos estávamos com certo sentimento de culpa. Eu era casado com Iub e Maiha tinha um filho com meu pai, fruto das experiências de Krol.

– Tudo bem com você? Perguntei fazendo um esforço para quebrar o gelo.

– Tudo bem, foi ótimo, fazia tempo que não tinha uma noite como a de ontem. Sei que você deve estar sentindo-se culpado, mas... Sabe? Faz tempo que sinto algo muito forte por você. Acho que é amor e daquele que queima por dentro sabe como é?

– Sim! Sei e confesso que também sinto uma atração muito forte por você.

– Bem, pelas leis de Xkarpa, não há casamentos. Seria apenas uma questão de troca.

– Sei! Iub, não se importaria com uma segunda esposa. É comum em seu país. Ela me olhou deitando a cabeça em meu ombro.

– Você é um homem especial e sei o que está pensando.

– Sim! Eu amo Iub, mas droga! Acho que amo você também. Será que isso é possível?

– Acho que sim! Eu também sempre amei seu pai, mas tem a Kelly. Ele é apaixonado por ela, comigo, foi para ele apenas uma missão. Com o tempo compreendi que não teria chance. Desde que conheci você eu sinto a mesma coisa. Acho que se tivesse que me dividir entre os dois, não seria impossível.

– Bem! Resta-me falar com Iub!

– Estamos chegando! Vou ajudá-lo com o traje espacial.

– Ok! Procure ficar o mais próximo possível da nave. Parece-me um cargueiro. Isso significa poucos membros na tripulação.

Sai para o espaço preso por um acabo de segurança, qualquer desvio poderia me lançar para sempre no vazio do espaço. Aproximei-me da nave e procurei uma janela onde pudesse ver

o seu interior. Havia pouca luz, mas dava para perceber uma figura. Era uma mulher e. Santo Deus! Estava grávida e massageava a barriga. Tinha expressão de dor.

– Maiha! Temos aqui uma grávida e acho que não temos muito tempo.

– Putsca! Isso vai ser um problemão! Claro que a situação era inusitada, uma grávida no final da gestação em pleno espaço. Isso era uma loucura.

– Alô! Está me ouvindo?

– Sim! A resposta telepática dava sinais de que as coisas poderiam se resolver.

– Tem mais alguém com você?

– Não! Estou só e acho que vou ter o bebê.

– Ok! Viemos ajudá-la. Fique calma, respire fundo enquanto tento chegar até você. Você tem ainda reserva de oxigênio?

– Sim! Creio que por mais umas 10 h. Menos mal, pensei.

– Maiha, me ajude a localizar a chave de emergência. Toda nave possui uma abertura externa que serve para que se possa entrar em casos de emergência. Localizei a alavanca abaixo da porta da escotilha.

– Maiha! Vou prender o cabo na alça da fechadura, assim a nave fica presa a nossa e não há risco de que se afaste

– Ok! Querido, boa sorte!

– Se você sabe rezar, comece, nunca fiz um parto e este é extremamente complicado.

– Vá em frente, sei que será capaz. Finalmente apesar das dificuldades de movimento, os trajes espaciais ainda são muito espessos e isso dificulta muito a mobilidade, consegui entrar e tentava me posicionar, precisava tirar o traje, senão, seria impossível mover-me, levando em conta que naves de carga possuem espaços muito apertados.

– Tem água quente ali naquela torneira. Falou a mulher com dificuldade.

A dor aumentava e o tempo ficava cada vez mais curto. Consegui livra-me do traje e estava agora só de cuecas, pois não gostava de manter o macacão por baixo, isso dificultava mais os movimentos. A água no espaço fica boiando em blocos densos parecendo gelatina. Usei uma toalha que estava sobre a bica do reservatório de água.

– A placenta! Rebentou.

– Ok! Respire fundo. Vamos lá! Força! Como é seu nome?

– Alinka.

– Ok! Alinka estamos chegando lá, agora vamos!

O suor corria pela minha face e pingava. Nunca havia passado por uma situação destas. Nem sei rezar, mas vamos lá.

– Deus dos espaços, das parturientes, dos bebês que querem nascer ou se tiver um deus qualquer de plantão me de uma força ta? Ela contorcia-se com a dor. – Por favor, Alinka não invente de desmaiar agora. Vamos lá, só mais um pouquinho!

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 27/04/2010
Reeditado em 27/04/2010
Código do texto: T2222384
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