MINICONTO: RUMO ÀS ESTRELAS DISTANTES
Foi passear na praia do Janga, naquela noite de Lua cheia, e viu duas luas! Seus amigos ainda correram, derrubando violões, copos e garrafas, tropeçando na fogueira, ou se jogando no mar.
Ela não. Sentia-se eufórica e, ao mesmo tempo, serena: Finalmente seu destino e seu sonho a encontravam, depois de tantos anos! Não deixava nenhuma pendência para trás:
O filho já adulto, bem encaminhado na vida. O neto protegido e bem alimentado. Mãe, já falecida. O apartamento pago. O trabalho na escola, quase aposentando-se, já lhe dera todas as satisfações e decepções que almejara ou que podia suportar, e os desafios de todos os dias já não a encantavam com antes.
Lamentou apenas um livro novo ainda não lido, o poema pela metade, a estréia perdida de Alice no País das Maravilhas de Tim Burton, na semana que vem.
Quando deparou-se com os extraterrestres, seus irmãos e raptores queridos, foi que se lembrou!!!
Poxa vida, estava amando novamente!! E desta vez, parecia que era um amor de mentes em sintonia bulímica e de palavras novas, mas familaires, e de espelhos quebrados e noites insones, em agonias compartilhadas...
E agora??? Perguntou-se, enquanto a nave entrava na velocidade da luz, e ela assistia o espaço-tempo se deformando em revolteios de cores multiformes e nebulares, vivas, como medusas marinhas, transparentes, dançando em imagens duplas, triplas, quádruplas...
E seus olhos arderam, com a explosão de luzes, diante de tanta beleza. Mas seu pranto foi de saudades do amor que jamais reencontraria, nas muitas madrugadas que viriam, como todas as outras, de antes deste amor, solitárias, vazias, silenciosas...
Quando o tradutor disparou uma luzinha verde, a primeira pergunta que lhe veio a cabeça foi, com voz agoniada e um fio de esperança:
_Vocês têm internet???