Asteroide

Asteroide

por Pedro Moreno (criptadesangue.blogspot.com)

As luzes do painel indicavam carbono. Esse era o último teste a ser realizado para constatar se havia vida ou não e os sensores da nave mostravam vida dentro daquele asteroide. Se a nave fosse de caráter científico ou exploratório com certeza tería mais recursos para saber mais sobre o tipo de vida, mas este tipo de sonda não é instalada em naves mineradoras.

Desde que o homem é homem, duas coisas permeiam a mente humana: Exploração e enriquecimento. Com o avanço da tecnologia da exploração espacial, o ser humano começou a pensar no lado lucrativo de se viajar ao espaço. Graças a isso hoje existem naves como a Mineirum IV. Uma nave mineradora especializada em metais e minérios raros ou inexistentes na Terra.

Toda vez que é encontrada no espaço uma jazida o preço do minério cai na Terra. O comandante desta nave, Capitão Hugo Siberius III, se lembra de quando achou um planeta inteiro forrado de ouro. A perda de valor do metal foi tão grande que nunca mais foi considerado como sendo precioso e hoje é até usado em construção civil.

Tudo ia bem até a semana passada, quando a nave encontrou este asteroide. Os exames preliminares indicaram grande presença de bauxita, níquel e diversos minérios raros. Porém os exames secundários indicaram carbono, o que deixou a situação um pouco complicada.

Como estão muito distantes de qualquer nave científica, não foi possível contatar ninguém para vir ajudar. Hugo entrou em sua cabine sabendo que lá fora estavam centenas de mineiros querendo uma resposta. Do computador ele revia os procedimentos para verem se estavam corretos e sem falhas. Não tinha nada de errado. Havia vida naquela formação rochosa. Mas a questão era como sobrevivia? Não tinha atmosfera e nem gravidade o bastante para sustentar algo. Uma pessoa não poderia respirar e seria lançada para fora pela falta de gravidade.

Quando saiu encontrou Rafael Gaiman, seu imediato, na porta. Ele roía as unhas e parecia um pai estar esperando o parto de seu filho. Andava de um lado para o outro e só se acalmou quando viu o capitão sair do cômodo.

— Rafael – disse Hugo –, conseguiu alguma comunicação com a Terra?

— Não senhor.

— Vamos passar um raio-x no asteroide.

Os dois caminharam ansiosos para a sala de controle. Quando chegaram viram os demais pilotos mais nervosos ainda.

— Senhores. Vamos manter a calma. Compreendo que temos aqui uma nave mineradora e nossos recursos são limitados, porém o que fizermos hoje poderá entrar para a história.

Todos pensavam ter encontrado a primeira forma de vida fora da Terra. Depois de tantos séculos de exploração nada até o presente momento tinha sido encontrado. E agora justo a nave errada estava prestes a fazer a descoberta.

O Visualizador estava pronto e recebeu ampliação o suficiente para os tripulantes poderem enxergar dentro da rocha. O clima era de tensão quando o capitão apertou o botão. Logo a imagem apareceu e o computador tratou de corrigi-la para que se tornasse visível. Havia algo dentro da rocha.

Uma forma humanoide com rosto písceo e guelras no local das orelhas. Dos lábios superiores dois bigodes iguais ao da carpa saltavam. Ele parecia mexer em um tipo de mesa. Com diversos botões e telas. Enquanto a tripulação acompanhava embasbacada, o ser abaixou-se para perto de uma das telas e então olhou em direção à nave como se pudesse enxergá-la. O alienígena apertou um botão e a imagem do raio-x sumiu, aparecendo de novo o asteroide.

O capitão ficou mudo junto com a tripulação que olhava para o enorme rochedo à frente. De súbito este começou a alterar a sua forma. Conforme as imensas rochas se moviam, era possível ver partes metálicas. A metamorfose do objeto era impressionante. Diversos tipos de minérios e metais apareciam conforme mudavam de lugar, explicando os relatórios dados pelos sensores da nave.

Em poucos segundos o asteroide ganhou uma formação mais achatada e menos rochosa. Em torno, várias luzes piscavam em cores e ritmos diferentes. Do alto era possível ver uma cabine com vidro transparente. A rocha se transmutou em uma nave.

Todos os mineiros à bordo acompanharam a metamorfose assustados. Agora era possível ver o alienígena na cabine. Ele apertou mais um botão e um som de alguma língua desconhecida invadiu a cabine da nave. Os tripulantes olharam assustados para sua volta, procurando a origem do som. O ser mexeu um dial e a voz mudava para outras línguas, até que chegou no inglês.

— Vocês podem me entender? – disse o alienígena.

As pessoas ficaram mais abobalhadas com tecnologia possuída pelo viajante espacial. O silêncio foi quebrado pelo capitão dizendo um tímido sim.

— Ótimo. Meu nome Xi'kstu kal Mehy. Venho de uma galáxia distante daqui e nós acompanhamos o progresso tecnológico de vocês. Se continuarem neste ritmo de descobertas, não demorará algumas centenas de anos para vocês nos alcançarem. Os seres humanos são muito ambiciosos e isso impulsiona seus conhecimentos. Porém agora não é hora de nos encontrarmos. Caso o façamos eu poderia acabar avançando ou atrapalhando vocês em sua evolução, e se tem alguma coisa que nós aprendemos, e vocês aprenderão, é que cada ser deve seguir sua vida sem interferência. Infelizmente devo me despedir de vocês e apagar todos os registros que vocês tem de mim.

A nave terrestre teve uma baixa de energia. O capitão olhou para os controles e estes funcionavam. Enquanto isso o antigo meteoro, agora transformado em um nave, começou a aumentar suas luzes e então seguiu em uma velocidade extraordinária. Hugo ainda procurou nos arquivos da nave alguma referência, dado ou gravação que eles fizeram, mas era como se nada tivesse acontecido.

Hugo olhou para o espaço, agora vazio e refletiu sobre as palavras do alienígena. Quantas formas de vida inteligentes existem no espaço? Ele não sabia resposta e talvez não tivesse preparado para ela. Era melhor seguir viagem.