Invasores

Invasores

por Pedro Moreno da bibliotecadosvampiros.com

O painel de controles apaga. A última nuvem de poeira magnética pela qual passamos deve ter desestabilizado a nave, como não há gravidade não há risco de cairmos. O jeito é esperar os controles se estabilizarem enquanto observo a imensidão silenciosa que é o espaço. Enquanto tudo lá fora está aceso a nave continua singrando graças à cinética, e continuará assim até encontrar gravidade de algum corpo celeste ou chocarmos em algo.

Meu nome é Alexander, capitão da CCDC II, uma nave responsável por transporte e manutenção de satélites. Levanto da cadeira a procura do resto da tripulação, como o elevador não funciona desço pela escada da escotilha e chego na sala de comunicação, Luciana está pintando as unhas com esmero, de uma cor azul cintilante que quase chega a brilhar no escuro, assim como seu cabelo, quando passo, ela acena com a cabeça:

- Dia difícil né? – Indaga sem tirar os olhos das unhas.

- É... Como está o nível da bateria interna?

- Hum... – Luciana olha para o visor e constata – Está em 40%, não deu para encher desde que passamos por Omega X41.

Agradeço e me dirijo a porta, quando toco o Painel de Leitura Digital me lembro que sem energia as portas não funcionam, olho para a garota e ela soltou um risinho pela minha tolice. Volto e sento-me na cadeira em frente a ela, noto que só está ela na sala.

- Onde estão as outras pessoas?

- Saíram quando a luz piscou na primeira vez, porém a porta fechou com eles dentro do reator... Creio eu, ao menos eles falaram que tinham largado o baralho lá.

Ficamos sem assunto e o silêncio predomina. Então ouvimos um grande barulho de engrenagens e metal arranhando. Corro até a janela que serve de escotilha e vejo o píer abrindo, por um momento me pego pensando em como seria possível sem energia. A garota para ao meu lado e parece incrédula com algo que está além da entrada de carga, há uma nave manobrando para entrar na nossa.

Luciana corre até o comando Ondas Curtas e liga o rádio e a bateria auxiliar. Com um apertar rápido de botões consegue a freqüência da nave invasora e manda se identificar. A resposta vem em uma língua que nunca ouvimos antes, uma mistura de silvos e chiados sincronizados quase poéticos. Como não surtiu o efeito que precisávamos desistimos da comunicação.

Nós estamos na Ala Direita, a nave tem uma forma de ferradura então é possível as Alas se “enxergarem”. Por causa disso vemos Martha, a responsável pelo estoque, perto da escotilha da Ala Esquerda. Tentando fazer sinais desesperados de que havia algo ali. De repente algo a puxa para baixo e um esguicho de sangue sobe pelo vidro nos alertando que Martha morrera.

Obtivemos nossa primeira certeza a respeito dos invasores: Eram hostis. Luciana estava aterrorizada, porém ainda assim correu até o cofre de armas e se pôs a abri-lo. Por sorte o cofre era antigo e não dependia de eletricidade para operar. Dentro dele havia dois fuzis GWH VII que operam a base de cápsulas de energia, quando disparadas viram fachos de laser queimando no menor contato.

Mal temos tempo de nos armar e a pesada porta de aço começa a ranger ao som de batidas fortes que deixam marcas do outro lado. Nossos corações param por um momento quando as batidas cessam e então um guincho alto dispara para dentro da sala seguido de um grande baque. A porta começa a ceder.

É feito um rasgo no metal e então vemos o quê anseia pelo nosso sangue. São criaturas de testa alta, com seis membros, quatro deles servem de patas e dois se projetam da lateral do corpo como braços, porém terminam em duas garras afiadas. A boca do monstro abre em ângulos improváveis, mostrando fileiras de dentes pontiagudos indicando milênios de seleção natural até atingirem o melhor predador possível. Não é possível esperar a reação deles, atiramos pelo buraco aberto pelas criaturas e um sangue viscoso e fétido e negro se espalha pela nossa sala.

Logo a porta cede e então a batalha se intensifica. Os membros dos alienígenas são decepados e nenhum deles conseguiu entrar na nossa sala, quando terminamos apenas o mal cheiro deixado pelos corpos das criaturas ficou. Olho para Luciana. Ela está com a cabeça abaixada e seus cabelos azuis tocam a arma, quando volta os olhos para mim percebo um pouco de pânico em seu olhar e então realizo o quê acontecera. Acabou a munição. Verifico a minha e só tenho metade, cuja qual divido com ela caso haja mais algum ser dentro da nave.

Com as armas em mãos seguimos pelo corredor agora aberto pelos alienígenas e nos deparamos com a tripulação, ao menos o quê sobrara dela. Com certeza os invasores eram carnívoros, já que não sobrara muita coisa e se chegaram de nave eram seres inteligentes, ou outro tipo de raça extraterrestre lhes trouxeram sabendo de sua ferocidade. Havia uma certeza: Nunca conseguiríamos tirar a resposta deles.

Avançamos nos esgueirando pelas sombras, porém nosso cuidado é pouco e somos pegos desprevenidos por um dos invasores que pula em direção à Luciana, empurro-a para prevenir o pior e ela só fica com um arranhão no ventre. A criatura não parece conhecer o conceito de ajuda ao próximo e se surpreende com a minha reação. Por causa de sua distração eu consigo atirar-lhe com minha arma em sua cabeça e enfim ele desfalece em uma pilha nojenta de carne morta.

Aos poucos nossa sanidade se esvai com tamanha carnificina e tensão. É possível ouvir o coração de Luciana bater de onde estou. Ela pede para eu parar como se tivesse ouvido algo. E realmente havia. Não tive tempo de reagir, algum dos alienígenas chegou pela retaguarda e acertou-me pelas costas. Suas garras atravessaram meu corpo e vi saindo pelo meu ventre, cai logo em seguida e ainda sim pude ver Luciana matando meu assassino e correndo para cima de uma turba de invasores, de arma em punho e com o rosto de alguém que morreria lutando.