Lobisman - O lobo e o homem
O cão era preto e enorme. Tinha os pelos aparados, boca e dentes grandes, focinho pontiagudo. Era alto e não muito gordo. O homem não era grande. Tinha barba e cabelos aparados, um enorme nariz. Era baixo e magro. Andavam sempre juntos. O cão e o homem. O homem e o cão.
O nome do homem era... pois é, ninguém sabe. Chamavam-no apenas de homem ou “o homem do cão”. Dizem que o nome do cão era Lobis ou Lobo. Os dois juntos eram chamados de Lobisomem ou Lobisman. Eles viviam em Saint Lourdes, uma vilinha, que apesar de ficar no interior do Brasil era formada por pessoas vindas da Inglaterra – um dos poucos lugares com essa característica. Lobisomem em Inglês é Lobisman. Deve ser. Man – lê-se /men/ - é homem. Como neste lugar era uma mistura de línguas – Português e Inglês- cada um chamava de um jeito.
Pois bem, mas o que falar deles dois? Eram amigos, gostavam de passear, mas não conversavam com ninguém, só entre eles – o homem e o cão, ora, não pode? Aquele domingo de sol ardente do verão era dia de festa em Saint Lourdes, afinal, era o dia da santa (?). Tinha festa na pracinha do centro da vila. Um lugar cheio de adornos e cercado por casas que lembravam a Europa medieval.
Boa noite amigos e amigos de Saint Lourdes! Good evening friends of Saint Lourdes!
Anunciou o falador, biligüe, como tudo e todos em Saint Lourdes. Na entrada da vila duas placas: Bem vindo a Santa Lurdes e You are welcome to Saint Lourdes.
Pois é. Era ai que nossos amigos viviam. O homem e o cão. Lobis e ... ah, o homem não tem nome. Lobis e o homem. Pronto. Isso já basta. Afinal, apesar de todos conhecerem eles dois na vila, apenas o nome do canino era conhecido. Do homem não. Dizem que se chamava Man Stuart ou Homem da Silva. Lobis and man. Lobo e homem. Lobisomem. Lobisman. Calma! Ainda não é a hora de falarmos sobre isso.
Meu povo, é hora de festa em nossa vila. My people, today is party in Saint Lourds.
Mas então: tinha de tudo naquela festa. Doces, salgados, bebidas. Alguma coisa brasileira, mas a maior parte importada. De onde? Não, não é do Paraguai, nem da França. É da Inglaterra mesmo. A noite já se estendia e o povo dançava e cantava.
Dance friends! Good party! Saint Lourds!
Todos perceberam um detalhe até então esquecido. Era noite de lua cheia. E era sexta-feira. Ops... domingo. Não, confusão no calendário, era sexta-feira, o dia de Saint Lourds. Dia 13 só pra melhorar a festa.
What day is today?
Today is Friday. (parece diálogo de curso básico de Inglês! bah!)
Sexta-feira, 13, noite de lua cheia. Uhhhhhhhhhhh! - se apressou um engraçadinho morador, mais brasileiro do que todos ali, mas que conseguia entender alguma coisa da língua dos imigrantes.
Oh!!!!
It is horrible!
Horribo nada! É bonito.
Is it beautiful!?
Yes, it is beatiful!
É vamos fazer festa.
E depois daquela discussão bilingüe (ou trilingüe) todos foram para a festa. Pularam, cantaram e dançaram. Ah, isso eu já disse. My God... opa!... meu Deus, estou bem perdido nesse lugar. Então, todos avistam um vulto, aliás, dois vultos. Um de duas pernas e outro de quatro. Ou um de seis! A música pára. Tchan...tchan...tchan...tchan...
Lobis e o homem entram triunfante, sem olhar para os lados. A população curiosa os observa atentamente.
Good evening man!
Buenas noches – ah, o homem era paraguaio, mais uma informação sobre ele.
Au, au – latiu o cão em, ah, sei lá, acho que ele era o único que falava português de verdade. Creio que tenha latido na língua materna do país.
Num canto protegido da luz, o homem paraguaio e o cão brasileiro pararam e ficaram a observar a festa, a este momento parada. Era a primeira vez que o homem do cão e Lobis iam a um evento público.
Music, music! - gritava o falador. Ah, falador é quem fala!
Go dance Saint Lourds!
E a festa que naquele dia era a mais linda de todas já feita no povoado e que divertia muito àqueles monótonos moradores corria normalmente. Já era quase meia noite da sexta-feira, 13, com a lua cheia no meio do céu! Não custa lembrar!
Auuuuuuuuuuuuuuu! - uivou o cão. O relógio da praça, uma réplica daquele famoso de Londres, marcava dois para a meia noite.
Todos olharam para o lado onde vinha o uivo. Não viram o cão Lobis e não viram o homem, mas viram outra coisa.
My God! – gritaram os ingleses.
Meu God! - exclamaram os brasinheses.
Mio Dios! - disseram os... ah, não sei, alguém disse, devia ter outro paraguaio no meio.
Meu Deus! - falaram os...é, pensando bem, acho que ninguém falou, pois o que falava português era o cão e...pois é!
O que eles viram?
Não sei, eu não estava lá para saber!
Bye, bye! ... ops...
Adiós... ops...
Tchau! Ah, agora sim!
FIM
THE END