O Lamento Do Saci

Boas tardes a todos

Permitam que me apresente

Eu sou a saci. Sim, aquele de uma perna só...

Venho lhes contar minha triste estória de amor, que começa e termina no jardim desta casa onde venho todas as tardes até a chegada da brisa da noite.

Entre velhas árvores chamo vezes seguidas o nome daquela que é a minha flor preferida. Não ha resposta.

Apenas o vento da tarde ronda sua casa

Apenas o vento. Nada mais.

Houve um tempo em que éramos felizes

Eu a chamava Fada,

Ela me chamava Vuu...como o sopro do vento,

estranho nome para um amigo.

Rindo e cantando, estavamos sempre a correr pela estrada,

acompanhados de curupiras, cucas e borboletas.

Todos os animais falavam e isso era muito natural. O Sol, a Lua, a chuva dançando entre arco-íris, tudo parecia existir somente para nós

por isso vivíamos em festa. A própria natureza explodia em vida e florescia quando os sacis faziam travessuras cavalgando redemoinhos.

E se alguem escondia as roupas dos varais ou uma janela batia, todos sabiam: era coisa do saci.

Esse era o meu mundo. Eu era o rei.

Até que um dia...

Ela roubou meu capuz, dizendo que assim meu coração seria seu

prisioneiro para sempre

Pode alguem imaginar tamanha maldade? Aprisionar o coração encantado de um saci!

Foi assim que tudo aconteceu

Foi assim que tudo mudou

Hoje, apenas o vento da tarde ronda sua casa, apenas o vento

Hoje ela não é mais criança

Não fala mais com estrelas

Não mais atende como Fada

Mas, pior que isso, muito pior...Quando eu falo, não ouvem minha voz

É que todos crescem, tornam-se adultos; mas nós, sacis e seres

encantados, permanecemos crianças para sempre e levamos a vida

a brincar.

Hoje, ao me aproximar ouço sua voz a dizer:

-" Fechem portas e janelas...o vento está furioso!"-

Jamais estaria furioso contigo minha amada...jamais!

Bater portas e janelas é o ato de desespero de um coração prisioneiro cujo amor foi esquecido e procura por todos os meios fazer entender...

Que o saci existe! Basta acreditar!

Por favor, ouçam meu lamento:

Digam a ela que seja criança novamente, pois ainda sou o seu Vuu

e todas as tardes venho encontrar minha Fada

Embora hoje ela acredita que eu seja apenas

O vento da tarde que ronda sua casa

E batendo as janelas se desfaz em redemoinhos

Apenas o vento

Nada mais

Sacy Pererê
Enviado por Sacy Pererê em 19/04/2008
Reeditado em 19/11/2008
Código do texto: T953189