A Calculista 7

Continuação do 6

 

  Então eles lhes contaram tudo.

 

  O dia no castelo de Lothaire estava longe de ser um dia feliz para o rei Henri. As paredes majestosas, que normalmente ressoavam com risadas e celebrações, pareciam pesadas sob o manto da incerteza. Ele se preparava para a caçada do rei, um evento aguardado com expectativa por nobres e plebeus. Mas algo o impedia de se alegrar com a ocasião: a ausência de sua única filha, a jovem princesa, que não aparecia desde o amanhecer.

 

  Henri sentia um nó na garganta ao pensar nas últimas semanas. A pressão dos lordes aumentava à medida que as notícias das aldeias vizinhas chegavam. Os planos que estavam sendo arquitetados eram obscuros, envolvendo o desejo de aniquilar as dez aldeias próximas, terras que haviam sustentado gerações de camponeses. O rei não podia permitir que seu reino fosse destruído por ambições mesquinhas. Contudo, precisava do apoio dos nobres, e isso exigia um ato de controle.

 

  Na sala do trono, ele caminhava de um lado para o outro, a armadura reluzente refletindo a luz do dia. As vozes dos lordes, que há dias estavam em silêncio sobre os novos planos, ecoavam em sua mente como uma música perturbadora. “Eles têm algo em mente,” pensava ele, a inquietação crescendo em seu peito. O destino das aldeias e do reino pesava sobre seus ombros, e a ausência de sua filha apenas acentuava sua frustração.

 

  “Por que ela não vem?” exclamou o rei, sua voz ressoando com a força de um trovão. “Ela deveria estar aqui, ao meu lado, para compartilhar esta caçada! Onde está a princesa?” Sua indignação encheu a sala, e os poucos nobres presentes trocaram olhares preocupados, receosos da ira real.

 

  O dia se tornava cada vez mais escuro para o rei, e a incerteza sobre o futuro de seu reino era palpável. Ele não sabia o que fazer se sua filha não aparecesse em breve. A situação exigia ação, e o rei Henri estava determinado a não permitir que suas terras se tornassem um campo de batalha entre nobres ambiciosos.

 

  — Milorde, sua carruagem está pronta. Partimos quando o senhor ordenar. Os soldados estão todos postos, às suas ordens — anunciou o servo, um homem alto e esguio, conhecido por sua lealdade inabalável. Ele se chamava Renard e sempre estava pronto para atender às necessidades de Lorde Etienne de Clairmont.

 

  — Desfaça a carruagem e me prepare roupas normais. E um cavalo digno de um plebeu. Três dos melhores soldados em roupas comuns e que escondam suas espadas — ordenou Lorde Etienne, com um brilho estratégico em seus olhos.

 

   Renard hesitou, franzindo a testa. — Mas, senhor, não entendo. Por que vestiria roupas comuns?

— Antes que ele pudesse concluir seu raciocínio, interrompeu Etienne, com um ar de grandeza e confiança nas suas estratégias. — Ela não me conhece. Se eu chegar vestido como um lorde, perderei minha vantagem.

 

  O servo engoliu em seco, percebendo que a lógica do senhor era infalível. Renard sabia que, para se aproximar de Celine e descobrir a verdade sobre suas habilidades, o disfarce seria fundamental. Era um risco que valia a pena correr. Assim, com um aceno de cabeça, ele se pôs a agir.

 

Etienne observou enquanto Renard organizava a transição. O lorde se despia das vestes nobres, trocando-as por um manto de linho simples, que permitia liberdade de movimento, e calças de tecido desgastado. A camisa de algodão, uma peça comum entre os vendedores de ervas, era confortável e discreta. Ele se olhou no espelho de metal, ajustando os cabelos de modo a parecer mais humilde.

 

  Renard rapidamente cumpriu as ordens, e logo três soldados, disfarçados de plebeus, se juntaram a eles. Suas armaduras foram escondidas sob túnicas simples, e suas espadas foram cuidadosamente ocultadas. A comitiva estava quase pronta.

 

  Quando a transformação foi concluída, Lorde Etienne sentiu um misto de empolgação e nervosismo. Ele sabia que a situação em Verdant era delicada e que Celine, a jovem calculista, poderia ser a chave para resolver os problemas que assombravam a aldeia.

Com um gesto decidido, ele montou em seu cavalo de aparência comum, enquanto Renard e os soldados faziam o mesmo.

 

  — Vamos, então — ordenou Etienne, com determinação em sua voz.

A comitiva partiu, os sons do trotar dos cascos ecoando pelas ruas estreitas enquanto se dirigiam para Verdant. O ar estava carregado de expectativa e incerteza, e Lorde Etienne sabia que a jornada que estavam prestes a iniciar poderia mudar o destino de muitos.

 

   Então o ancião, conhecido como Mestre Alaric, olhou para Celine com um semblante preocupado e iniciou sua narrativa sobre a proposta que o conselho dos camponeses havia formulado.

 

  — Demos ao Lorde essa proposta, Celine — explicou Alaric, sua voz trêmula pela tensão da situação. — Nós sugerimos que, como ele possui mais recursos, ele ficasse com as terras ao sul da vila, enquanto nós permaneceríamos com as terras ao norte. Além disso, sobrou um terço de terra entre as duas, que cederíamos ao Lorde em troca de um envio mensal à nossa comunidade de cinco cestas de pães semanal durante o período de dez invernos.

 

  Celine ouviu atentamente, seus olhos demonstrando a profundidade do problema que enfrentavam. O que parecia uma solução sensata à primeira vista revelava-se, no fundo, um acordo desequilibrado que beneficiava mais o Lorde do que os camponeses. Ela pensou sobre a lógica dos números e o impacto que isso teria sobre a sobrevivência deles.

  — E qual foi a proposta do Lorde? — perguntou Celine, focando sua mente em detalhes que poderiam se tornar cruciais.

 

  O ancião continuou, sua voz carregando o peso da frustração.

— O Lorde nos ofereceu as terras do Sul, mas com uma condição — ele disse, erguendo uma mão para enfatizar a gravidade da situação. — Teríamos, durante três invernos, que enviar cinco cestos de frutas semanais para ele. Embora ficássemos com as terras ao Sul, não teríamos direito ao terço de terra entre as duas.

 

  Celine permaneceu em silêncio por um momento, refletindo sobre as implicações da proposta. Os camponeses estavam sendo colocados em uma situação ainda mais difícil do que a anterior, sem a garantia de um acordo justo e sustentável.

 

  Então, levantou-se, seus olhos brilhando com uma determinação renovada.

— Vocês darão a ele esta nova proposta — afirmou Celine com firmeza, consciente da tensão crescente no ar. — E tudo vai ficar bem. Ele não vai gostar, mas está na lei real.

Os camponeses a olharam, confusos e intrigados. A ideia de lutar pela sua terra e seus direitos os animava, mas a perspectiva de confrontar um nobre era assustadora.

 

  A praça ficou em silêncio enquanto Celine absorvia a situação, reconhecendo que sua proposta poderia representar não apenas uma solução, mas também uma chance de restaurar a dignidade e a esperança para sua comunidade.

 

  — Lembrem-se — disse ela, sua voz suave, mas firme — o que está em jogo não é apenas a terra, mas o futuro de cada um de vocês. A justiça pode ser alcançada, desde que tenhamos coragem de lutar por ela.

 

  Com isso, Celine começou a elaborar um plano em sua mente, utilizando suas habilidades matemáticas e estratégicas para moldar uma proposta que fosse justa e aceitável para ambos os lados, uma que não só beneficiasse os camponeses, mas que também respeitasse os direitos do Lorde. Ela sabia que a solução não seria simples, mas a determinação em seus olhos refletia a esperança que renascia entre os aldeões. Ela também não sabia que o Lorde tinha planos obscuros para aquela aldeia.

 

Continua no 8

 

Para não ficar uma leitura muito extensa e cansativa, visto ter outros textos a ser lindo, este capitulo inteiro dividir em dez partes..

Todos os erros de Português nos nomes próprios é devido estes mesmos nomes serem de origem francesa, onde foi ambientada toda a história.

 

 

Leia a...

Parte 1

Parte 2

Parte 3

Parte 4

Parte 5

Parte 6

 

 

A Sales
Enviado por A Sales em 05/11/2024
Reeditado em 05/11/2024
Código do texto: T8190147
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