JOÃO, MARIA E A FADA MÁ (RELEITURA DO CONTO DE FADAS JOÃO E MARIA)
Era uma vez dois irmãos: João e Maria. Eles moravam com os pais num sítio próximo a uma floresta cheia de árvores frondosas e frutíferas. Costumavam ir até lá colher flores e frutos; também brincavam com alguns animais, principalmente, os macacos que apareciam, de vez em quando, ali na floresta. Sua mãe não gostava muito da ideia de as crianças brincarem fora do terreno do sítio, por esta razão ela pediu para que quando fossem brincar levassem junto um punhado de bolinhas de gude para demarcar o caminho pelo qual passassem, evitando assim se perderem. O pai não se importava, confiava no João. Ele acreditava que o menino era capaz de guiar a irmã caso acontecesse o pior. João um dia argumentou para a mãe:
- Oh, mamãe, acho uma besteira a senhora dar essas bolinhas nessa bolsinha, não tem como perde-se na floresta. Eu e a Maria conhecemos de olhos fechados cada parte onde brincamos.
- Meu filho querido, cuidado nunca é demais, né. Ficarei mais tranquila se me obedeceres. Não me perdoarei se algo ruim acontecer com vocês. – Falou a mãe toda cuidadosa.
- João, vamos agora enquanto o sol ainda está alto. – Chegou à menina toda feliz prontinha para irem brincar na floresta. – Mãe, voltaremos logo.
Por fim, despediram-se da mãe e foram para parte de traz do sítio onde ficava uma das saídas para a floresta.
O local que eles gostavam de ficar era próximo, por isso o João achou uma besteira a mãe mandá-lo levar umas bolinhas na bolsinha de couro. Estava certo de que não iriam se perder. Havia uma clareira junto a um jardim naturalmente lindo. Flores eram colhidas por Maria, enquanto João brincava com alguns animais que apareciam. Neste momento estavam com ele dois macaquinhos tentando tomar água na clareira. Ambos já conheciam as crianças e tinham perdido o medo da aproximação. Também havia bastante borboletas coloridas. Uma delas brilhava diferente, como se fosse um reflexo do sol. Maria ficou encantada e correu para tentar pegá-la.
- Ei Maria, aonde você vai assim tão apressada? – Perguntou João quando viu a irmã afastar-se.
- Vamos, preciso pegar aquela borboleta diferente. Ela é única. – Falou e seguiu adiante sem esperar por ele.
O garoto percebendo que ela corria cada vez mais rápido, resolveu separar algumas das bolas de gude e jogá-las pelo caminho. Viu que era uma trilha nova.
- Maria, espere por mim. Não vá muito longe. – Era em vão, ela parecia não escutar os gritos do irmão.
À medida que jogava as bolas pela trilha, imediatamente, os macaquinhos apanhavam e jogavam as bolas no pequeno lago da clareira. O João não percebeu nada, aliás só tinha olhos para o caminho pelo qual Maria percorria. Olhou para trás e viu que andaram uma longa distância do local onde estavam. Alcançou Maria e pegou em seu braço.
-Vamos parar por aqui. Fomos longe demais. – Encarou-a e sem largar seu braço deu meia volta, saiu arrastando-a ouvindo seus protestos.
- Não, por favor irmãozinho, eu estava quase alcançando aquela borboleta brilhosa. – Aos prantos implorou. – Parecia que queria me dizer algo.
Ele não deu ouvidos aos protestos dela, preferiu seguiu de volta. Porém, ao olhar para o chão notou que as bolas de gude que ele soltou pelo caminho haviam desaparecido.
- Não pode ser! Cadê? Eu juro que as soltei pelo caminho de volta. – Falou desesperado e sem acreditar. Coçou a cabeça, olhou para a Maria e resolveu voltar assim mesmo. Quando percebeu que andavam em círculos, parou e assumiu que estavam perdidos.
- A mamãe estava certa, sempre há um risco. Coração de mãe não se engana. – Disse Maria como se meditasse. – Como as bolas podem ter sumido? Meu irmão, você tem certeza de que as jogou pelo caminho?
- Claro que tenho. Alguém as retirou. Não tem outra explicação. – Exclamou desanimado.
Maria ao olhar ao seu redor, percebeu um certo brilho perto de uma árvore. Levantou-se e foi ver de perto. Alegrou-se, pois tratava-se da borboleta brilhante. Entendeu que poderia se um sinal de que nada estava perdido.
- João, João, olha a nossa salvação bem ali naquela árvore. – Correu em direção da borboleta, o inseto voou. – Espere querida borboleta, não nos deixe aqui. – Falou como se a borboleta entendesse. Para o garoto, não tinha outra opção a não ser segui-la.
Andaram por mais vinte minutos atrás da bendita borboleta quando do nada surgiu no final da trilha uma casa rosa, com um jardim cheio de rosas cercada por uma cerca também rosa. Ao se aproximarem perceberam que a casa brilhava igual a borboleta e em suas paredes exalavam um aroma gostoso de tuti-fruti, morango e frutas vermelhas. Foram mais um pouco para perto da casa e tocara na parede, existiam inúmeras gelatinas grudadas nas paredes. Eles não resistiram, passaram a comê-las sem parar, estavam com fome. Mesmo assim, Maria notou que as mãos brilhavam porque as gelatinas eram brilhantes. A bela borboleta que antes estava no pequeno jardim, aproximou-se deles e num piscar de olhos, transformou-se numa bela fada.
- Olá crianças, meu nome é Isla. Sou a dona desta casa rosa coberta por gelatina. – Falou com os irmãos de forma meiga, convencendo-os a entrar na casa para terminar o lanche, afirmando ter mais dentro da casa. Eles acreditaram na fada, alegremente. Mal sabiam o que os esperavam lá dentro.
- Sua casa é muito bonita, ela brilha igual a você quando estais em forma de borboleta. – Elogiou a menina e viu que dentro da casa havia uma mesa cheinha de guloseimas, bolos e biscoitos. Antes de se deliciar, João segurou o braço da irmã, sussurrou ao seu ouvido:
- Não devemos comer comida feito por estranhos. Não estou gostando nadinha, aqui está tudo muito estranho. – O menino desconfiado, foi para a outra extremidade da mesa como se estivesse com um pressentimento.
- Calma João, não irei fazer-lhes mal. – Bem tranquila, tentou convencê-lo do contrário.
- Como você sabe meu nome? Não lembro de ter falado antes. – Bem determinado, João quis saber.
- Enquanto eu estive em forma de borboleta, pude ouvir nitidamente os diálogos entre vocês lá na floresta. É claro que sei o nome dos dois, inclusive que são irmãos. - Sem sair do lugar, a fada Isla usou um poder e colocou o João em uma bolha transparente. No aperreio do momento, Maria tentou impedi-la, mas foi hipnotizada por ela. Agora obedecia a todos os comandos que Isla mandava.
O garoto estava arrependido por não ter levado a sério os conselhos de sua mãe. Chegou à conclusão de que os pais sempre são mais sábios que os filhos. A raiva que se formava em seu ser era imensa. Não via a hora de poder escapar e dar uma lição naquela maldita fada. Passou a observar dentro da casa e não viu nenhum espelho, como também, nada que pudesse refletir uma imagem ou silhueta. Então, para João, a chave para a liberdade, tanto dele quanto da irmã, estava nos detalhes.
Dois dias se passaram, o menino continuava preso na bolha suspensa no ar, sua irmã apenas recebia ordens para alimentá-lo. O João não estava a fim de comer. Isla percebeu que não teria sucesso tão fácil, a criança era birrenta e teimosa. Teve uma ideia, aproximou-se dele e falou:
- Joãozinho, não sou sua inimiga, como prova farei um trato contigo. Alimente-se direito e ensinarei o caminho de volta para sua casa.
- E a minha irmã, também irá embora comigo? – Perguntou desconfiado.
- Claro que sim! Vieram juntos, sairão juntos, em liberdade.
A fada Isla era astuta, usou uma estratégia de engordar o garoto para depois levá-lo como recompensa ao mundo das borboletas brilhantes. “Amanhã será o dia em que irei transformá-lo em miniatura e servirá de almoço para todas as borboletas, cujo objetivo é aumentar o brilho das asas”, pensou alto. Todos os anos era preciso capturar um menino em troca de longevidade e mais brilho. Foi para o quarto, transformou-se em borboleta brilhante e saiu pela janela.
João ao perceber que estavam sozinhos, chamou a irmã. Ela ainda estava sob o feitiço da fada má, achou que ele estivesse com fome e trouxe mais comida. Ele aproveitou o momento para retirar um pequeno espelho que a Maria havia pedido para guardar em sua bolsinha das bolas de gude. Ao refletir o rosto da Maria no espelho, ela voltou rapidamente ao normal. Viu que o irmão ainda estava preso e angustiada, não sabia o que fazer.
- Calma minha irmã, você irá fazer o que eu te disser. Assim como este espelho fez você voltar ao normal, creio que ele também irá libertar-me dessa bolha maldita. Então, fingirás estar hipnotizada, quando a fada Isla voltar, traga ela até mim, eu saberei exatamente o que fazer.
Ao retornar ainda em forma de borboleta, Isla pousou numa cadeira em um canto da pequena sala. Maria aproximou-se dela:
- Fada Isla, o João está desacordado. Não consigo acordá-lo para comer como a senhora mandou. – A menina fez direitinho o que o irmão pediu.
Ao aproximar-se da bolha, colocou o seu rosto bem próximo ao garoto. De repente, ele levanta-se e reflete o pequeno espelho no rosto da fada má. As suspeitas do João estavam certas, o espelho realmente era perigoso para uma fada como aquela.
- Ah, seu mentiroso, como podes fazer isso. Ai, estou queimando, minha pele está ardendo. – A fada pouco a pouco transformou-se em uma velha bem enrugada e seu tamanho foi diminuindo, até ficar do tamanho de uma bola de gude. Uma bolha formou-se ao seu redor e ela saiu flutuando até desaparecer no meio da floresta.
João e maria correram para a porta da frente. Assim que a abriram encontraram um saco dourado cheio de brinquedos e moedas de ouro. Pegaram tudo e foram correndo para casa. Dessa vez não se perderam, antes estava tudo enfeitiçado para fada má. Em casa encontraram seus pais de olhos inchados de tanto chorar e orar. Haviam procurado por eles dois dias sem sessar.
No dia seguinte, eles mostraram os presentes e as moedas aos pais e contaram tudo o tiveram que fazer para escapar da casa rosa. João prometeu para sua mãe que nunca mais iria levar na brincadeira seus conselhos.
Débora Oriente