Registros de um velho caçador - Parte 01: "A Fera de Elgin"

Saudações,

Conforme havíamos combinado, lhe escrevo referente ao nosso “pequeno problema”. Há duas semanas cheguei no porto de Elgin e fui direto à taverna, pois minha garganta era seca como o vento. Após me empanturrar com uma bela caneca de cerveja, fui até a estalagem para descansar, já que teria muito trabalho pela noite. Sem adicional noturno, diga-se de passagem.

Sabe, estou ficando velho demais para essas coisas, da próxima vez ficarei apenas encarregado de trabalhos locais, nos arredores da sede, preferencialmente se o único movimento exigido seja o levantar de uma taça. Bom, mas chega de lamentações de um velho caçador. Continuando...

Às badaladas da meia-noite, levantei e arrumei os apetrechos para partir, tudo estava sob controle, como de costume. Acontece que começo a pensar que talvez os jovens recrutas estejam certos ao zombar que minha memória não é mais a mesma depois de incontáveis invernos pois percebo que havia esquecido minha lâmina de prata sabe-se lá onde.

Sim, minha adaga de prata havia sumido, o maior símbolo de nossa ordem e eu havia perdido. Mas irei recuperá-la (acredito que quando receberes esta carta, já tenha retomado a posse da minha adorável adaga).

Como sabes bem, a falta de minha adaga não seria o suficiente para parar esse velho lobo. Rapidamente carreguei setas de prata na besta que, por sorte, ganhara em uma estalagem pelo caminho, num jogo de cartas. Acredita nisso meu velho amigo? Os jovens de hoje apostam qualquer coisa depois de alguns goles de vinho.

Observação: A conta na hospedagem na cidade de Elgin não fora “acertada”, disse para a elegante dona do estabelecimento para cobrar da ordem, inclusive, que poderia cobrar o dobro do valor, pelo atraso e tamanha hospitalidade oferecida.

Quando cheguei ao centro da cidade, ouvi gritos vindo do Leste e me prestei a correr ao seu encontro (sabes como odeio correr, ainda mais com todo esse equipamento). Lá estava ele, a fera, o motivo de todo meu mau humor e dor nas costas devido à interminável viagem no lombo do cavalo (já mencionei que estou velho demais para missões de campo?).

Devo admitir que era um espécime bem desenvolvido: Possuía garras com aproximadamente 30 cm de comprimento, presas bem salientes, olhos amarelados e cerca de dois metros e meio de altura. Em sua mão esquerda, empunhava um par de pernas ensanguentadas enquanto no chão, jazia o que restara do corpo de um pobre ferreiro. Pouparei dos detalhes (espero que esteja lendo a presente carta após a ceia).

Chamei a atenção da aberração, a qual largou o infeliz cidadão e veio com tudo para cima de mim. Nesse momento, rápido como um gato veterano, executo uma esquiva para a direita, jogando-me ao chão, conseguindo ficar de costas com o monstro.

Aproveito a oportunidade para lançar uma de minhas setas de prata em suas costas. A besta debate-se e mais uma vez avança em minha direção enquanto recarrego minha pequena besta. Nesse momento o infeliz estava tão próximo que podia sentir seu hálito pútrido.

Porém, o velho veterano teve a sorte grande, pois quando a segunda seta acerta o peito da fera, a mesma não aguenta o ferimento e desaba no chão, derrotada. Tudo conforme o planejado, tirando o fato de que possa ter machucado minha perna. Já sei o que estás pensando...

Executei a limpeza do local e “marquei” a fera com o selo da ordem, para organizar a “papelada” da recompensa oferecida, a qual lhe envio junto com a presente carta. Escrevo-lhe da estalagem no porto de Elgin, onde devo partir em dois dias em direção à Rio Vermelho.

Estou velho demais para essas empreitadas, da próxima vez, trate de mandar um dos membros novatos de nossa “querida” organização. Espero seu retorno e orientação para o próximo contrato.

Passar bem e que o fio de vossa lâmina nunca gaste.

Mestre Ur

Felipe Manzoni
Enviado por Felipe Manzoni em 21/06/2022
Reeditado em 22/06/2022
Código do texto: T7542895
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