Wyrm
A Tríade é formada pelas três maiores entidades na hierarquia espiritual de Lobisomem — Wyld, Weaver e Wyrm. Na mitologia Garou e de outras raças metamórficas, estas três entidades são responsáveis pela criação, preservação e destruição, respectivamente, de todas as coisas.
Dentre os três irmãos, Wyrm era o mais solitário devido a seu histórico destrutivo. Todos os outros lobos passavam longe de sua presença assustadora, exceto Wylde e Weaver.
Havia uma área natural que foi consagrada por Wylde, que se tornou um santuário para os três. Um cenário que não poderia ser visto por olhos comuns. Eles então decidiram nomear este pequeno espaço de terra com uma imensa árvore energizada pela natureza, de Nodo. Até mesmo a característica destrutiva de Wyrm não era capaz de enfraquecer este monumento, devido a preservação de Weaver, portanto, esse era o único lugar em que ele se sentia genuinamente acolhido no mundo.
Como sempre deixava um rastro de devastação por onde passava, por longos anos o lobo escurecido se refugiou naquele diminuto santuário, que se expandia de forma eloquente. Ele não queria mais ser um fardo para as pessoas, e principalmente para seus irmãos, então se refugiar ali, lhe trazia um certo conforto. Sua condição de senhor da destruição, foi uma imposição do “destino” (nem mesmo um deus poderia contrariar o destino). Apesar de aceitar o que tinham estabelecido a ele, houve um determinado momento no período da noite, que ele indagou às estrelas o porquê dele ser encarregado de uma tarefa tão cruel.
Cansado de questionar em vão, ele decide acabar com sua própria vida, pois já estava cansado daquela responsabilidade.
É então que para sua surpresa, algo fora do comum acontece, como se finalmente a resposta para sua pergunta estivesse bem ali diante dele.
Assombrado pela presença de alguém desconhecido em seu lar, decide se manter recluso para ver quais eram as intenções daquela visitante incomum.
A jovem de cabelo acobreado se senta ao pé da árvore, e se aconchega ali enquanto vislumbra o horizonte.
- Eu sei que está aí. - Diz ao sentir a presença de Wyrm. - Apareça para me cumprimentar. - Continuou.
O lobo se apresenta de forma retraída, mantendo a distância da garota. Ainda não sabia qual era sua verdadeira intenção, mas tinha ciência de que sua presença era de fato inerente devido ao ocultismo do lugar.
- O que faz aqui? - Ele a interroga de forma ríspida.
- Estou só de passagem, aliás, me chamo Ema, prazer em conhecê-lo. - Respondeu calmamente.
Wyrm não retribui a apresentação, apenas se senta ao lado de Ema em silêncio.
Você é meio caladão, né? - Indaga de forma descontraída.
Ele apenas a encara, mas segue em silêncio. Sua falta de confiança nas pessoas, o leva a pensar que ela não passa de mais um contratempo desnecessário.
- Imagino que deve se sentir bem solitário aqui, né? Me parece que vive assim há muitos anos. - Diz despretensiosamente.
- E quem você pensa que é, entrando assim no meu lar sem convite? - Questionou o lobo depois de quebrar o silêncio.
- Não sou ninguém, talvez Ema nem seja meu nome de verdade, apenas uma invenção minha para este momento. - Ela atribui.
- E você pretende me convencer de que é uma boa pessoa através de suas mentiras, e uma colocação óbvia da minha condição por escolha?! - Replicou o lobo furioso. - Como é que você conseguiu encontrar este lugar sendo tão prepotente?
- Ei, se acalme um pouco, tá legal? Me desculpa pela minha frase inapropriada e impulsiva, mas o que quero dizer, é que no mundo, nós não deveríamos nos prender a rótulos, a final, eles nos limitam demais. - Ela contra argumenta.
- E o que quer dizer com isso? - Wyrm pergunta impaciente.
- O que quero dizer, é que nós podemos assumir o controle de nossa própria vida, a final, quem define o que somos, é nós mesmos. - Conclue.
Aquela conversa pendurou por um longo período de tempo, até que amanheceu o dia, e aquela ideia inicial do lobo se foi para as profundezas de seu inconsciente.
- Talvez minha presença tenha servido justamente para te impedir de destruir sua própria vida. - Teorizou a garota.
- O que você faria no meu lugar, sabendo que só pelo fato de existir, sua presença faz mal para os outros? - Indagou a fera.
- Eu com certeza não iria querer estar no seu lugar, mas a perda faz parte do processo, a final, para que algo novo possa florescer, o que já não pertence mais a este mundo, deve ser levado para o descanso eterno, entende? - Ela o responde de forma serena como se já tivesse presenciado algo assim. - Sabe, muitos consideraria sua função um fardo difícil de carregar, mas já parou pra pensar que você tem o poder de proporcionar o repouso para almas cansadas? - Prosseguiu.
Wyrm nunca parou para olhar por esse lado, afinal, ele era considerado o maior vilão da sociedade. Esta foi a primeira vez que alguém lhe mostrou outra perspectiva. Ema conseguiu transformar a melancolia em algo belo.
Ainda assim, sua companhia lhe trazia uma certa desconfiança, até que enfim, Ema lhe traz a decifração para remover quaisquer dúvidas que ainda pudesse ter sobre sua presença peculiar.
- Pela sua expressão, você ainda deve estar se perguntando como encontrei este lugar, né? - Indagou a jovem, antes de prosseguir com resposta. - Bom, digamos que quando se testemunha a morte, e aceita este conceito, você passa a enxergar o mundo de outra forma, ou seja, o mundo fora do mundo.
Satisfeito com a explicação da garota, ele acaba deixando escapar um sorriso involuntário, pois percebeu que ela é mais parecida com ele, do que ele imaginava.
Por fim, ela se aproxima de seu mais novo amigo, e lhe oferece um abraço, e ao ceder a este pequeno sinal de afeto, ele se sente aninhado e tranquilo. Podendo finalmente descansar livre da culpa que carregava por algo que fazia parte de um ciclo natural.