Menino-Duende

Era uma vez, um Menino-Duende.

O menino fazia questão de não esconder sua identidade apesar dos olhares incrédulos e julgadores.

Todos gargalhavam, não acreditavam. Principalmente quando apresentava seu melhor amigo, o Menino-Fada.

- Não existem duendes, seu bobo! - falavam seus colegas.

- Claro que existe! Eu sou um menino e sou um duende! Se vocês não acreditam em mim, paciência. – respondia o menino revoltado.

Até que um dia, o menino viu seu pai na cozinha preparando uma comida que eles mesmo plantaram juntos e comentou:

- Pai, viu como as plantas crescem rápido aqui em casa?

- Não sei se elas crescem mais rápido meu filho. Acho que é o tempo delas mesmo. - respondeu o pai

- Claro que crescem! São meus poderes de duende que fazem isso.

- Poderes de duende? De onde você tirou isso meu filho?

- Eu sou um duende pai, eu sou muito rápido, baixinho e tenho poderes que fazem as plantas crescerem muito rápido! Ainda estou querendo aprender como ficar invisível, mas acho que é mais difícil.

- Mas João, duendes não existem...isso é conto de fadas, histórias que a gente conta pra você dormir bem. Só isso.

- Só isso para você pai! Duendes existem sim e eu sou um duende! Vou provar para todo mundo que eu sou um duende, você vai ver! Quero que você agora me chame de Menino-Duende, por que é isso que eu sou!

O pai desacreditado só conseguia balançar a cabeça negativamente. Chegou a comentar baixinho.

- Essas crianças...Tem uma imaginação...

O Menino-Duende saiu desolado, triste, indignado com todos que não acreditavam nele. E foi conversar com a única pessoa com quem podia se abrir, o Menino-Fada.

- Poxa, nem meu pai acredita em mim.

- Mas Menino-Duende, por que você não vê uma maneira de provar a eles que você fala a verdade? Você tem que aprender a ficar invisível, que aí não tem como não acreditarem em você.

Os dois amigos logo pegaram o celular para ver os poderes dos duendes, o que eles podem fazer e como deixar os poderes se libertarem.

E depois de muita procura, muito esforço e muito treinamento, o Menino-Duende aprendeu a ficar invisível. O amigo fada dele logo se animou e marcou uma apresentação do menino para mostrar a todos o poder incrível de ficar invisível.

A apresentação foi sensacional. O Menino-Duende conseguiu ficar invisível e fazer a magia que queria mostrar a todos. Foi uma salva de palmas geral e muita festa na apresentação. Quando o menino reapareceu, todos ficaram encantados. Ele então pegou um microfone e falou:

- Agora todos acreditam que eu sou um menino-duende! Acreditam certo?

Todos caíram na gargalhada.

O menino e seu amigo não entenderam nada. Como assim? Será que nem mostrando os poderes mais incríveis conseguiam acreditar nele?

Ele ficou desolado, saiu de cabeça baixa. Foi para casa e assim que passou pela porta sua mãe elogiou sua performance e comentou:

- Que incrível meu filho, onde você aprendeu esse truque João?

Com lágrimas no olhos ele respondeu:

- Eu não sou João! Sou menino-duende! Não foi um truque, eu realmente consigo ficar invisível!

E saiu em disparada para seu quarto. Sem nem olhar a reação da mãe. E lá ficou por um bom tempo, pensativo, sozinho. Por um bom tempo.

O tempo passou... muito tempo passou desse episódio...

O menino se tornou um adulto, com o nome de João, trabalho, casa própria, família. E, um dia, passeando na rua, encontrou seu melhor amigo.

Já não se falavam a tanto tempo, mas tinham um baita carinho um pelo outro. Se abraçaram como se tivessem aquela mesma amizade de anos atrás.

- Rapaz, como você está igual! – comentou João.

- Eu não mudei muito mesmo – respondeu seu amigo

- Você sabe que eu sempre te chamava de menino-fada e acabei esquecendo seu nome. Acho que nunca soube seu nome na verdade.

- Pode me chamar de menino-fada. Falo pra todos me chamarem assim até hoje.

- Que bobeira! Você ainda está com isso?

- Sim. Não te chamam mais de menino-duende? Depois de tudo que a gente fez para provar pra todo mundo seus poderes?

- Não acredito que você acredita nisso? Duendes e fadas não existem. São contos de fada que nossos pais nos contam e pronto. Nunca mais fiz nosso truque. Até esqueci como era.

- Você parece seu pai falando. – terminou o amigo que, então, pediu licença e deu novamente um abraço em João.

Tudo mudou de uma hora para outra. Como um passe de mágicas João se lembrou de sua infância. De como tudo aquilo que ele acreditava fazia sentido. Lembrou que na verdade ele não era João, como todos o fizeram acreditar, ele era o Menino-Duende.

Ele então chorou, chorou, chorou. Como se tivesse nascido de novo.

Seu amigo, como sempre o acolheu, o levou para sua casa e o fez sentir amado novamente.

E João, ou melhor, o Menino-Duende relembrou de todos os seus poderes. Tudo que podia fazer. Mas agora entendia, que não precisava provar nada para ninguém. E usava seus poderes sem pudor, sem vergonha, sem medo. E, assim, ajudou muitas plantas a crescerem, muita vida a nascer e muita magia a acontecer.”