A JORNADA DE ELIZABETE

A jornada de Elizabete

Da boleia, Elizabete ouvia os xingamentos e a satisfação das mulheres em vê-la indo embora, o caminhão se afastava e o medo do desconhecido dava-lhe um frio na barriga, olhou para traz e afundou na poltrona, era a primeira vez que saia da pequena cidade. A proposta do caminhoneiro em viverem juntos era a única saída. A viajem romântica e feliz, logo acabou. Elizabete lhe pediu comida, e o companheiro saiu e voltou com outro homem e disse:

- Elizabete! Achei lhe trabalho.

- O que significa isso?

- Cliente!

O homem passando os braços nos seu ombros e pronunciou:

-Venha comigo, boneca!

Quando voltou, escutava assobios que vinhas dos caminhões parados no estacionamento, aproximou do companheiro que dormia na boleia, pegou uma sardinha e rompendo o lacre, olhou-o indignada, terminou de comer e depois pegou todo o dinheiro e saiu, fugindo. Corria pelo asfalto e olhando para trás com medo de ser apanhada. As luzes da cidade lhe encantava e andando pelo calçadão, deparou com moças trabalhando na noite, aproximou-se e pediu emprego. Uma moça encostada na marquise e tragando um cigarro, olhou-a de cima a baixo e disse:

_ O Roberto está procurando moças, para irem para à Europa. Ganha-se muito bem. E você é linda! No porte que ele procura, vem comigo.

Dias depois, Elizabete cruzava o oceano para Espanha. Não era a primeira vez que se aventurava no desconhecido.

Naquela noite, foi conduzida para uma boate. O glamour, o cheiro de bebida e moças semi nuas dançando em cima das mesas, deixando-a impactada . Ela acompanhou o Roberto pelo salão, levando-a um local mais reservado, apresentando-a para um viúvo que a convidou para sair.

O homem que nem mesmo o nome Elizabete sabia, dirigia pelas ruas de Madri, a beleza da cidade a encantava, quando ela ouviu algo família.

_ Gostou da cidade?

Elisabete sorriu, quando ouviu seu idioma e foram para um apartamento, depois do jantar ele se despediu deixando-a. Na manhã seguinte era inverno, as janelas lacradas e com suas vidraças embaçadas, ela passou as mãos no vidro para limpa-los e do outro lado havia árvores secas e sem folhas, pessoas agasalhadas passeando, ela ficou observando por um tempo. Um mês depois, em uma cerimônia com poucos convidados ela se casava e indo morar em uma mansão. Na manha seguinte, observava impressionada os quadros e as obras de arte, umas até simpáticas e outra estranhas, o marido veio ao seu encontro e com os funcionários uniformizados.

- Querida, estas pessoas ira te auxiliar no que precisar, vou trabalhar e volto para o jantar.

Depois de doze anos, seu marido é internado em um hospital, nos dias de internação ela não saiu do seu lado. Em uma manhã o marido lhe fala:

_ Minha querida, vejo que meu corpo está cansado, não sei se estarei por muito tempo aqui, você vai ficar bem?

Uma lágrima correu o rosto de Elisabete, tudo o que aprendeu, sua dignidade, devia aquele homem que agora se despedia, foi quando viu seus olhos perderem o brilho e sentiu suas mãos perdendo as forças.

Uma semana depois o advogado Dr Diego Ruan, convocou uma reunião para a leitura do testamento. Todos a família aguardava a leitura do documento. o advogado começou a folhear os papéis

e todos ficaram em silencio.

_ Para minha esposa Elizabete, deixo-a metade de todos os meus bens, o apartamento, o quadro de Picasso, todas as joias...

Elisabete ficou surpresa, e aquelas palavras se repetia na sua cabeça, a parti daí, não ouviu o resto da leitura.

Depois de conhecer todos os imóveis e empresas do marido e obras de artes, ela chegou ao apartamento onde ele a levou a doze anos atrás. Atravessou o hall e vai até uma janela que dava para o parque, muito diferente da primeira vez, hoje ele estava florido, crianças correndo de um lado para outro, gritos e outras passeavam com pets. O colorido dava vida, como se o parque lhe chamasse para dançar, para viver. Ela se virou e disse:

_ Vende tudo!

_ Como senhora?

_ Vende tudo, menos este apartamento e as joias.

_Onde vai senhora, E as obras de artes, e o quadro de Picasso?

_ Brasil... Eu vou para o Brasil! E quanto ao quadro, venda em um leilão, vão conseguir mais dinheiro por ele.

_ Senhora, é um Picasso!

_ Eu sei! De onde venho, um prato de comida, vale mais do que

aquele quadro- ela parou por um momento e perdendo as vista olhando para o parque e lembrou da fome- quando eu era só uma menina, o dono da venda me levava um prato de comida, pelas portas dos fundos.

Limpando os olhos ela continuou:

_As empresas os sócios do meu marido têm interesse, venda, mas não por uma pechincha, não estou desesperada e nem com pressa.

O advogado consentiu e saiu do apartamento.

Elizabete ouviu a chamada do voou, depois de doze anos estava voltando.

O carro de luxo para na frente da venda do Seu Paulo, todos olharam curiosos para saber quem era. Aquele pá de pernas torneados foi a primeira visão, depois uma linda mulher e toc toc dos saltos. por alguns segundos era o som que se ouvia dentro da venda e ela cordialmente cumprimento.

_ Seu Paulo

Ele observou a moça. E ainda sem acreditar fala:

_ Elisabete:

Ela sorriu e sacode a cabeça.

_Sim! Seu Paulo, sou eu.

O homem deu a volta em torno do balcão e foi até a moça e deu-lhe um abraço.

_ Você está linda.

_ Obrigada! Nestes anos que vivia no mundo, era de você que tinha saudades, pelo seu carinho e respeito e por tantas vezes que matou minha fome.

Não demorou muito e a cidade inteira já sabia da volta da Elisabete.

_ Seu Paulo, de quem é este terreno do casarão em ruínas.

_ É de um pessoal que se mudou para São Paulo, Elisabete.

_Tem como entrar em contato com a família, quero fazer uma oferta.

Chegou o dia da inauguração. Na frente do prédio recém construído as mulheres se dividiam, e no meio da multidão ouviu se.

_ Volta quenga desgraçada, para os infernos.

_Senhora, elas estão alteradas.

_ Isso e neblina, Priscila! Diante das tempestades que já enfrentei.

Ela se aproxima do microfone e começa um breve discurso.

_ Pessoal, sei que minha presença incomoda muitas de vocês , e sei também que outros pensam diferente e gostaria de convida-los para conhecer este espaço, que é para vocês. Há exatos doze anos saí desta cidade expulsa, e hoje estou de volta, não para vingar, mas para dá oportunidade para os filhos de vocês, que na minha época não tiveram, e este é o propósito da criação desta escola, para dá-lhes oportunidades e escolhas para elas. Pois nestes anos vivi muitas coisa, saí do Brasil , ganhei a vida e estou aqui, quando fiquei viúva, foi para casa que quis voltar, não estou interessada em tomar nenhum marido de vocês , e muito menos seus filhos, quero que eles se tornem pessoas de bem e aprendam na melhor escola que está cidade a partir de hoje terá.

A população foi silenciando e voltando para ouvi-la, até o final.

_ Esta escola e dos seus filhos, amanhã às sete horas estaremos fazendo matrículas, e se vocês quiserem estaremos de portas abertas para todos sem qualquer restrição.

Elisabete olhou para a faixa no alto. "ESCOLA MIGUEL LORENZO", nome do seu falecido marido. E com um sorriso no rosto, cortou o laço sob aplausos.