A Síncope - parte 1
Leandro estava muito cansado. Trabalhara muito naquele dia. Só queria chegar em casa, tomar um belo de um banho e se jogar na cama. Dormiria como uma pedra. Gostaria de acordar somente às dez horas da manhã do sábado.
- O Senhor aperte para mim o dez. - Ouviu uma voz de mulher dentro do elevador.
Tinha fechado os olhos por alguns minutos e não viu uma moça loira entrar no elevador. Antes de apertar a tecla de número dez, olhou para sua interlocutora. Era uma jovem de seus vinte anos, seu olhar atrás de seus óculos vermelhos transmitia uma sensualidade que o deixou sem graça.
Entre a troca de olhares e o apertar do botão do elevador não foram mais que três segundos. Mas foram suficientes para que a moça percebesse em Leandro mais um coroa que estava seduzido pelos seus encantos.
Estavam somente os dois no elevador. Vários pensamentos lhe passaram pela cabeça. Pensou em puxar conversa; pensou em perguntar as horas, mas notou que ela não tinha relógio; pensou olhá-la mais uma vez e prestar mais atenção na cor de seus olhos e demonstrar com o olhar o seu desejo.
O impressionante é que nunca a tinha visto antes no prédio. Devia ser moradora nova, ou apenas uma visitante de um dos apartamentos do décimo andar.
Respirou fundo, e perguntou com uma voz um pouco trêmula:
- Você mora aqui?
Antes de obter qualquer resposta, de repente as luzes se apagaram e o elevador ficou parado. Houve um apagão na cidade. Geralmente o gerador do edifício demorava uns quinze segundos para entrar em operação e fornecer energia para o elevador e para as lâmpadas dos espaços em comum.
Leandro era claustrofóbico, principalmente em um cubículo sem nenhuma iluminação. Tinha calafrios e começava a suar muito. Tinha dificuldade de respirar. Um turbilhão de pensamentos lhe passou pela cabeça. Lembrou-se de quando era criança e os colegas da escola o trancaram no depósito de mantimentos da escola.
Dentro daquele elevador se tornou uma criancinha indefesa e só tinha jovem loira desconhecida que lhe pudesse socorrer.
Contudo o silêncio imperava dentro daquele elevador. Não escutava absolutamente nada e também pelo seu terror não conseguia produzir um grito de socorro. Parecia que sua vida estava se esvaindo. O ar daquele ambiente parecia que tinha todo ido embora. Estava prestes a morrer.
- Qual é o seu nome, moço? Fale alguma coisa, por favor! - Finalmente a voz da loira lhe chegou aos ouvidos. A voz estava carregada de aflição.
As mãos da moça tocaram o seu rosto.
Aquelas mãos tão macias e com um cheiro de um perfume que nunca tinha sentido antes lhe fez ressuscitar. Faz algum tempo que não sentia um toque de pele de mulher no seu rosto. Toda a sua claustrofobia desapareceu. Mas começou a sentir um calafrio.
Sentiu um líquido descer do seu pescoço. Levou sua mão até a sua jugular; estava molhada de sangue. Foi nesse instante que a energia retornou e o elevador voltou a entrar em movimento.
Estava sozinho no elevador. A moça loira tinha sumido como em um passe de mágica. Sua visão começou a ficar embaçada. A perda do sangue lhe havia provocado uma agonia, estava prestes a desmaiar. E assim aconteceu.
A porta do elevador abriu. Viu apenas alguém lhe tocando o rosto. Era o porteiro do edifício.
Acorde, Senhor Leandro.
Não havia sangue. Não havia mulher loira. Apenas um cheiro de um perfume inebriante que impregnava aquele cubículo.