Zona de Exclusão

- Não há operantes na Montanha Isolada - relatou o preboste Nondar para Romar. - Talvez já tenha ouvido falar nisso.

O mestre de armas não pôde deixar de sorrir, lembrando-se do que a rainha Ylenor dissera um pouco antes sobre ele mesmo.

- Pensei que isso fosse lenda, preboste.

- Touché! - Exclamou a rainha, acompanhando atentamente a conversa com um cigarro entre os dedos.

Romar pensou, talvez tardiamente, que não deveria ter feito uma brincadeira, mesmo que inofensiva, com a governante da Caríngia; agora, contudo, era tarde.

- Pois não é lenda - afirmou Nondar. - Os operantes ficam desorientados quando se aproximam da Montanha Isolada; e se forem trazidos até aqui contra a vontade, tornam-se completamente inúteis. Isso foi tentado nos Tempos Antigos, claro, e revelou-se um completo fracasso. A partir daí, passamos a prestar mais atenção às lendas dos operantes... como as que envolvem as pedras de raio.

- De um certo modo, é uma vantagem estratégica - comentou a rainha. - Se daqui não podemos utilizar operantes contra nossos inimigos, tampouco eles os podem empregar contra nós. Há como que um círculo de proteção ao redor da Montanha Isolada.

Algo fez Romar lembrar-se da faca que achara na floresta ao subir a estrada da montanha; mas achou melhor manter-se em silêncio sobre o assunto. Pelo menos, por ora.

- E... este perímetro defensivo teria algo a ver com o passado remoto dos operantes? - Indagou Romar cautelosamente.

- Talvez ele tenha sido criado justamente para impedir que os operantes chegassem até aqui - declarou o preboste. - É provável que quem habitou a Montanha Isolada antes de nós temesse algo em relação aos operantes, e decidiu se precaver.

- Mas... havia mais alguém antes dos operantes em Tessara? - Indagou Romar.

- Para quê os operantes iriam criar uma zona de exclusão contra eles mesmos? - Retrucou o preboste. A rainha fez um aceno de concordância.

- Não faz nenhum sentido - acrescentou ela.

- Exceto se dermos ouvidos às lendas dos operantes, de que descendem dos deuses deste mundo - aparteou com ironia o bailio Eroel, que acompanhara a troca de argumentos em silêncio.

- Todos os povos, de uma forma ou de outra, fazem essa alegação - observou a rainha depois de dar uma tragada no cigarro. - É possível que tenha nos precedido uma cultura muito mais desenvolvida do que a dos nossos distantes ancestrais, que vieram das estrelas, mas não há nenhuma evidência concreta de que fossem aparentados aos operantes. É muito mais plausível acreditar na hipótese de que utilizavam o trabalho deles, da mesma forma que nós.

- E por isso os operantes aceitaram o nosso domínio tão facilmente - ponderou o mordomo Kamano. - Afinal, já estavam acostumados à servir a uma cultura superior.

Romar guardou para si mesmo a opinião de que, quem quer fosse que outrora dominasse os operantes, havia desaparecido sem deixar vestígios; e antes disso, havia tido o cuidado adicional de criar uma zona de exclusão para os citados operantes, a qual parecia ter se revelado completamente inútil. Talvez fosse prudente ter este retrospecto em mente, antes de arriscar-se a dar um passo no desconhecido.

[Continua]

- [05-11-2020]