O LANÇAMENTO
Ai que eu ainda não estou em mim. A sério, não estou mesmo. Na verdade estou em estado de êxtase. Eu estou é em estado gasoso, prestes a volatizar-me. O que não me parece boa ideia, pois neste momento, não me apetece nem me convém desaparecer. Não consigo explicar bem, a amálgama de sentires e emoções, que me dominam completamente.
Esperei e sonhei tanto com este dia e eis que inesperadamente, bateu na minha porta. Bem, não foi inesperadamente, fui eu que marquei a data.
Eu sei que estão em pulgas para saber do que se trata. Calma, não vou prolongar mais o suspense. Não quero ser a responsável por ataques cardíacos! rsrsrs
Então lá vai. Vou publicar o meu primeiro livro a sólo. Acho que esta é a altura certa.
Consultei os astros, que auguram que todas as forças estão a meu favor. Não é que seja supersticiosa, mas gosto de jogar pelo seguro. Também não é jogar pelo seguro, mas sim sentir-me mais confiante. Também não é sentir-me mais confiante, não posso buscar essa confiança em forças exteriores, mas sim dentro de mim.
Bem a verdade é que não digo coisa com coisa. Estou demasiado eufórica, preciso de acalmar e colocar as ideias em ordem. São muitas as pontas, todas emaranhadas dentro da cabeça e do coração. Não posso misturá-las e é preciso destrinça-las com cuidado. É melhor fazer uma pausa e voltar serena e tranquila para a destrinça.
Estou demasiado ansiosa. Vou tomar um chá de camomila. Voltarei amanhã.
E já cá estou feliz da vida e completamente renovada. Depois do jantar, salmão grelhado com salada de espinafres e tomate, rematado com uma banana, uma noite de sono bem dormida e o jogging esta manhã, afianço que os níveis de serotonina estão perfeitamente equilibrados! Rsrsrsrs.
A serotonina é importantíssima no organismo. Actua no cérebro e é responsável por uma série de coisas, que não devemos de modo nenhum descurar. Tem influência nas alterações de humor, nas emoções, na memória, no desejo sexual, no apetite, no sono, no t.o.c., no ritmo cardíaco, temperatura corporal, sensibilidade á dor, ajuda sobremaneira a melhorar tudo isto, assim como o desânimo e a depressão.
Uma boa alimentação, equilibrada e saudável, conjugada com exercício físico, ajudam a manter os níveis normais.
Isto para dizer, que me sinto perfeitamente em forma, para o desafio perfilado na minha frente .
Gratidão á Drª Felicidade, responsável pela Editora Acreditar Nunca Desistir , que tratou de tudo, inclusive a sala para o evento, os convites, o catering, a animação.
Eu ocupei-me dos convites pessoais. Há pessoas que me são muito queridas, pelo lugar que ocupam na minha vida. Há um convite que fiz com particular carinho e um misto de ansiedade e expectativa. Não respondeu e portanto não sei se irá estar presente. Tenho uma secreta esperança que comparecerá.
O dia D aproxima-se a passos largos. E o dia aprazado chegou.
Escolhi uma roupa clássica, completamente o oposto, do meu estilo vanguardista, mas fiz questão de usar uma indumentária, que me desse um ar tradicionalmente sério e respeitável! No fundo, sinto-me bem com qualquer trapito. É uma questão de atitude e a minha facilidade camaleónica de transformação, ajuda bastante. É assim um pouco como dizer, com um vestido preto, eu nunca me comprometo. É apenas uma força de expressão, porque nunca levaria para um evento que eu anseio seja um sucesso, uma roupa preta. O preto já por si só, é uma cor deprimente e com uma carga energética negativa.
Sempre que há uma situação que eu quero muito que resulte, eu visto-me de vermelho. Não me imponho que seja dos pés á cabeça, mas um apontamento vermelho tem que ser. O vermelho é uma cor forte que transmite boas energias, capaz de lançar no Cosmos a minha vontade e determinação. É a cor que define e revela o meu potencial, encabeçado pela paixão que ponho em tudo. Não consigo fazer nada sem paixão. Sempre me vesti de vermelho, nas entrevistas de trabalho, quando tirei a carta de condução e em todas as situações, que queria causar boa impressão. Não era uma imposição, o meu cérebro já estava a contar com isso. Tornou-se uma espécie de ritual e ele próprio se programou . A verdade é que sempre funcionou! Eu acredito nisto e quando acreditamos, é meio caminho andado.
Desta vez usei um tailleur em mohair vermelho, com um top branco de seda plissada. Os sapatos salto cunha, eram brancos com um vivo vermelho. Davam-me um andar confortável, que os saltos agulha, já não são para os meus pés, nem para a minha coluna.
A sala estava linda e compareceu muita gente. O ambiente era de festa. Estava rodeada de familiares e amigos. Rodei o olhar por toda a sala, á procura do meu convidado especial. Todos os convidados são especiais, mas vocês entenderão porque o tratei assim. Foi o primeiro rapaz que gostou de mim. Andávamos no liceu. Eu tinha 16 e ele 18 anos. Foi o meu primeiro amor, mas nunca "andámos", como agora se diz. Eu tinha a cabeça cheia com outros planos, mas estava convicta que era com ele, que um dia me casaria. Nunca aconteceu, excesso de confiança (rsrsrs). A vida troca-nos as voltas. Mas nunca fiz disso um drama. Quando não dá, há que seguir em frente. Torná-mo-nos amigos inseparáveis, mesmo quando ele foi estudar para a universidade. Esteve na festa dos meus 21 anos e depois nunca mais o vi. Desencontrá-mo-nos, quando eu mudei de cidade . Anos mais tarde, fiquei sabendo por amigos comuns, que foi á minha procura, mas eu já não morava lá. Tinha regressado á base! Ele por sua vez, acabou por assentar arraiais nesse rincão maravilhoso.
Perdemos o contacto durante 40 anos, mas não nos esquecemos um do outro. Era uma amizade muito bonita, que desafiou o tempo e se manteve inalterável. Sempre achei que se me tivesse casado com ele, porque ele queria casar comigo, teria sido imensamente feliz! Mas as coisas acontecem, como têm que acontecer e nada de lamentações.
Olhem só! O Tadeu acabou de entrar. Mais velho claro, mas as mesmas feições. Era um rapaz muito bonito. Afinal ainda é! rsrsrs. Vem na minha direcção. Nunca mais nos vimos desde a juventude.
O contentamento é notório, em ambos os semblantes. Senti uma onda de ansiedade, que me fez tremelicar desde os pés á cabeça. O coração acelerou, parecia que queria saltar fora e aconchegar-se no peito dele. As emoções não envelheceram, tinham o sabor da juventude. Eu sentia-me um junco verde, sacudido pelo vento. E que vento mais agradável e aconchegante. Eu sei que ele sentiu o mesmo.
Mais de quarenta anos passaram e parecia que nunca nos tínhamos separado. Como se as nossas vidas, tivessem ficado congeladas, esperando o momento ideal, para se porem de novo em marcha.
Os olhares fundiram-se e as bocas também, num beijo inevitável, demorado e apaixonado. Vi-me bailarina numa ópera de Verdi. Aida, La Traviata, Otello, Rigoletto, tanto faz, quando a beleza impera em todas elas, dançando ao som magnífico da orquestra.
Os aplausos trouxeram-nos á realidade.
O Tadeu, presenteou-me com um discurso, que me comoveu até ás lágrimas.
O lançamento do livro foi um sucesso. Lágrimas e Riso é o seu título , á venda numa Livraria perto de si.
Bendigo os astros, os anjos, o céu e a Deus.
Sou imensamente feliz!
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Maria Dulce Leitao Reis
17/11/16