E SE ME TIVESSEM PERGUNTADO SE EU QUERIA NASCER

Já me tenho questionado algumas vezes, se me tivessem perguntado se eu queria nascer, o que é que eu respondia ?

Gostava muito, que me tivessem colocado essa questão.

Não sei qual seria a resposta na altura. Hoje vou pelo caminho da suposição, com base no que eu vivi e não vivi e gostaria de ter vivido.

Não há dramas nem recalcamento por não ter vivido aquilo que quis viver e não vivi, mas eu acho que sei qual era a resposta.

Naquele tempo, Deus não me quis perguntar. Ele sabia que eu era ainda muito pequena, para responder a tão grande questão. Iria certamente ficar confusa e comprometer seriamente todo o meu crescimento.

E se a pergunta me tivesse sido colocada antes mesmo de eu ter nascido? Mesmo assim eu arriscaria ter vindo ao mundo. Tenho uma sede e avidez inesgotável de conhecimento.

E se tal pergunta me tivesse sido feita, era sinal que eu ainda não tinha atingido o supremo grau da perfeição e se eu queria sentar-me vitoriosamente ao lado do Pai, não podia recusar mais uma viagem.

A vida começa no ponto zero e termina no ponto zero. De permeio uma avalanche de coisas acontecem. Ou nos desenvencilhamos ou ficamos soterrados. Depende do grau de preparação e aprendizado que vamos adquirindo.

Há os que procuram recolher os bens essenciais á sua sobrevivência e aqueles que se dedicam a colecionar futilidades, que não têm qualquer préstimo e valor.

Ao longo da linha circular, vamos deparar-nos com uma panóplia de acontecimentos. Para uns serão fáceis, para outros serão difíceis.

As coisas só são difíceis, enquanto não aprendemos a resolvê-las. Para isso é importante a ferramenta, incluída na bagagem de cada um.

A perspicácia é fundamental, para todas as situações da vida.

Naquela altura, muitas questões ficariam no ar, tal como hoje, sem resposta.

Mas hoje eu não sou mais um bébé inocente e indefeso. Será que não sou? Nova questão se levanta.

É verdade que já nasci há algumas décadas e isso porventura escudou-me contra a maldade que grassa á minha volta e pelo mundo? Porventura deu-me capacidade de resposta para todas as perguntas existenciais? Para todas as perguntas que faço a mim própria? Porventura deu-me a visão para poder enxergar para além do agora? Não, não deu.

Eu sei que tenho uma imaginação desenfreada. Ás vezes fico assustada. Tenho a sensação que me passo para lá do infinito. Exatamente na tangente ente a terra e o céu e tenho medo de não regressar. Tenho medo, porque ainda não estou pronta para partir.

Eu sei que ainda não conclui o programa que me foi introduzido ao nascer. Certezas não tenho, mas são muitas as coisas que tenho a meio. Preciso concluir o que comecei. Preciso de me sentir realizada e feliz.

Deus nos colocou neste mundo para sermos felizes. Mas cabe a nós encontrar esse caminho.

Entendo que estamos em constante crescimento e mudança. Como humanos, nunca seremos perfeitos, mas isso ocorre intencionalmente. Deus deixou espaço para melhorarmos a nossa jornada, dando-nos a capacidade de tomar decisões e lutar por aquilo em que acreditamos.

Deus deu-nos dois tipos de crescimento: crescimento interno e crescimento externo. Ele deixou o crescimento externo nas mãos do tempo, por isso não precisamos preocupar-nos com isso. Em vez disso, é-nos confiada a importante tarefa de cultivar o nosso crescimento interior.

Deus sabia que o crescimento interior não poderia ser deixado nas mãos de qualquer um e por isso confiou-nos essa responsabilidade. No entanto, nem todos nós optamos por cumprir esta tarefa. Alguns ficam vazios por dentro, capazes de cometer atrocidades sem remorso.

Independentemente das nossas crenças, somos todos seres humanos e filhos de Deus. Espera-se que façamos o bem e valorizemos os costumes e a moral positivos. No entanto, não somos perfeitos e, no nosso mundo imperfeito, são necessárias regras para manter a ordem e a segurança.

Idealmente, indivíduos conscienciosos existiriam num mundo sem regras. No entanto, este não é o caso. Na nossa sociedade, a ausência de regras levaria à anarquia total. Apesar da multiplicidade de regras e leis, o nosso mundo ainda luta contra a desigualdade, a injustiça e a infelicidade.

Apesar das nossas imperfeições e lutas, não me arrependo de ter nascido. Sinto uma grande responsabilidade para com o ser humano que estou me tornando e usarei as experiências e lições que aprendi para construir um mundo melhor. Peço a Deus que me ajude a construir o meu próprio abrigo e que ajude outros a construir o deles, para que todos possamos prosperar e florescer.

Maria Dulce Leitão Reis

04/02/17

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Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 20/08/2020
Reeditado em 04/02/2024
Código do texto: T7041698
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