O LOBO & A NINFA : O ENCONTRO (FINALMENTE EM PAZ)

Naquele momento da vigília,

Durante a madrugada,

Aquele momento quando o corpo e a alma se encontram entre o sono e o sonho,

Ele ouviu.

Ouviu (sentiu?) uma voz diafána o chamar,

Um chamado breve,

Leve,

Sútil,

Trazido pelo vento gentil.

Então atento a tudo ele passou a perscrutar o ar ao redor.

O vento veio,

O tempo passou,

O vento se foi,

Ele esperou.

O ventou voltou,

O tempo passou,

A voz veio!

Timida,

Discreta,

Doce e bela,

Exatamente como o velho e negro lobo se lembrava dela.

Sua ninfa...

Sua doce e bela ninfa...

Respirando forte,

Ergeu a cabeça,

Fechou os olhos e farejou.

Inspirou fundo,

Procurando sentir o seu perfume sorveu o ar a tentando levar para dentro de si.

Era ela!

A distância.

Sua beleza como sempre,

Etérea (como os sonhos),

Suave como a seda.

Uma voz diafána a lhe chamar,

Um espirito livre solto no ar,

Em segredo vinha lhe confessar o que a ninguém mais ousava contar.

Doce e bela ninfa (triste) :

Há muito tempo parti...

De você pelo que fizestes tive que me afastar,

Mas saibas que desse amor não pôde meu corção (nunca) se apartar.

Mesmo sendo cruel como era,

Me conquistastes ao render-me seu coração de fera.

De olhos fechados o velho e negro lobo lhe responde (com olhar longe):

Foi há tempos,

Há Muito tempo...

Nunca me esqueci (de ti),

Tão doce...

Tão bela...

Me lembro (sempre),

Há tanto tempo...

Era manhã (muito cedo),

O sol brilhava,

Mas você não se importava.

Sentada nas pedra,

As margens de uma lagoa,

Você chorava sobre as aguas esverdeadas.

Suas faces estavam pálidas,

O seu olhar distante,

Triste...

Uma tristeza pura,

Autêntica e verdadeira (como você) ...

Não resisti.

Me aproximei (percebestes),

Me apaxonei (sentistes?),

Te assustei (recuastes);

Perguntei:

Que tens?

Me dissestes (com franqueza):

Nada.

Insisti:

Que queres?

Me respondestes (com sinceridade):

Não ser só.

Rendi-me.

Doce e bela ninfa (pensativa):

Te amei (Foi feliz)?

Velho e negro lobo (comovido):

Fui amado (e fui feliz)!

Mas por nunca tê-lo sido,

Como por você o fui,

Não souber amar(e nem ser feliz),

E por isso me perdi(suspiro).

És espirito?

Sonho?

Ou doce lembrança?

Doce e bela ninfa (com ternura):

Sou amor,

Sou sonho,

Sou lembrança!

Mesmo distante,

Nunca te quis longe.

Amei o lobo,

Desejei a fera,

Mas temi o monstro.

Velho e negro lobo (resignado):

Esta morto.

O matei,

Nunca mais o verá!

Bela e doce ninfa (hesitante e sincera):

Eu o sei,

Mas...

Tenho medo!

Temo o monstro,

Por nós...

Eu o temo pelo mal que ele fez a nós.

Velho e negro lobo (arrependido):

Com olhos fechados,

A garganta apertada,

E Faces molhadas por lagrimas amargas e pesadas (confessa sofrido),

Por vezes fui monstro,

Por vezes fui mau,

Muito mau.

A nós,

A você...

Eu fiz um grande mau!

Com a cabeça entre as patas e de bruços no chão(chora suplicando):

Me perdoas?

Doce e bela ninfa ( com um sorriso piedoso):

Há muito já te perdoei.

Velho e negro lobo (esperançoso):

Voltastes?

Bela e doce ninfa (olhos baixos e com ternura):

Sabes que não.

A tristeza,

A dor,

A separação...

Voltar?

Não há mais como voltar.

Parti...

Já há muito tempo...

Eu parti.

Por que ficastes?

Lobo negro (triste/longe):

Porque você partiu.

Bela e doce ninfa (sem entender):

Então...

Por que não procurastes por mim?

Lobo negro(como um sorriso amargo):

Porque a mim já não querias.

Bela e doce ninfa(fechando os olhos):

O tempo passou (você me esperou),

Parti (pra não voltar),

E não voltei (você me esperou),

O tempo passou...

Envelhecestes,

Seu pêlo...

Seu pêlo era tão negro!

Envelhecestes...

Mas não o meu amor.

Vim te buscar!

Me dá a pata,

Vim te buscar!

Vêm comigo,

Vêm?

Velho e negro lobo (exausto/cansado):

O tempo passou...

Esperei tanto,

Tanto tempo...

Doce e bela ninfa(caridosamente extendendo a mão )

O tempo de esperar,

Acabou.

Ao amanhecer os caçadores o encontrarm.

O corpo enorme de pêlo negro e lustroso do velho lobo estava coberto por um cobertor de fina neve branca e imaculada.

Sua grande e forte pata direita (presa na armadilha) estava intacta!?!

Ele não a roera na tentativa de se livrar da armadilha como outro lobo o teria feito.

Ao invés disso ele estava deitado com a cabeça sobre as grandes e poderosas patas,enrolado em torno de si mesmo como se houvesse se deitado pra dormir.

O chefe dos caçadores, homem velho e experiente (já calejado pelos duros golpes da vida), não pôde deixar de notar que o velho e grande lobo negro deitado como estava naquela posição o lembrava um homem que ao apoiar os cotovelos, descansa o queixo sobre as mãos para conversar com uma mulher a sua frente do outro lado do balcão de uma taberna.

Notando isso e não se importando em falar alto(mesmo sabendo que os mais jovens iriam dizer que ou ele estava bêbado ou estava louco) o velho caçador disse:

Ele se deitou pra esperar e conversar e pela sua expressão ele finalmente teve a conversa que tanto queria e que só agora pode ter. Tenho inveja dele pois no fim parece (apesar de tudo) que ele deve ter conseguido se encontrar com quem veio aqui para falar.

O velho caçador livrou a pata do lobo da armadilha, mas não permitiu que ninguém o toca-se o deixando deitado ali, onde ele o encontrara.

Ali no alto das montanhas, nos cumes nevados, sob as copa das arvóres, debaixo do velho carvalho, jaz o grande e negro lobo deitado no local de seu derradeiro encontro em seu último momento de paz.

alexandre l tartaglia
Enviado por alexandre l tartaglia em 19/08/2020
Reeditado em 24/08/2020
Código do texto: T7039840
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