O ÚLTIMO SOL
Diogo Emmanoel Costa
Sob o sol a pino no céu sem nuvens, Ivan prostra-se a frente da entrada do mosteiro. Apoiado no escudo, o vento forte balançando o cabelo sobre os ombros. Na mão esquerda uma velha machadinha. Ao longe a silhueta surge no horizonte e em tão pouco tempo mostra um cavaleiro encouraçado, a montaria forte e veloz acostumada ao peso de seu dono, corre imponente.
– Abre caminho, Ivan – a voz abafada pelo elmo - Não quero nada contigo.
– Também não quererá com monges.
– Não há um único monge aí dentro… Vamos, homem, afasta-se.
– Mate-me e passará.
– Por que o protege, Ivan? É um monstro que deve ser detido desde já.
– Temos ideias diferentes para Monstros.
– Saia logo da frente, velho – disse o cavaleiro coberto de metal enquanto desmonta e desembainha a espada – Ou este sol acima da sua cabeça será o último que verá.
– Tente.
A machadinha voa raspando o elmo. Um riso abafado soa sob o metal e o cavaleiro avança segurança a espada com duas mãos. A lâmina larga choca-se contra o escudo de Ivan, o chiado de lâmina saindo de uma bainha alerta o cavaleiro, que recua e ganha espaço. Os dois lutadores frente a frente, estudando o adversário, analisando os próximos passos. Ivan mantém o escudo próximo ao tronco, o corpo quase ereto, já não é mais o jovem de antes que tantas batalhas venceu, vê a sua frente um jovem marchando para um futuro sob o domínio dos homens, um domínio facilmente manipulável e corruptível. Músculos revestidos por aço, juventude em fúria, o cavaleiro, meio inclinado para frente, segura a espada baixa, mantém as pernas abertas, mas não por muito tempo, o ataque se inicia. O primeiro golpe é bloqueado com facilidade, Ivan recua para receber o segundo golpe, que o faz perceber que se manter na defensiva não vai adiantar, seu braço fraqueja, é hora de atacar. Recua perante o terceiro golpe, a terra onde pisa o trai, escorrega, tarde demais para evitar o quarto golpe.
Dentro do mosteiro, nada mais que algo perdido no tempo, não há sinal algum de vida. Estava certo sobre a ausência dos monges. Carrega a espada banhada no sangue do velho guerreiro apoiador de monstros e eras passadas, assim como a vida que tivera. A morte de Ivan lhe simbolizava o primeiro passo para uma nova era. Sob a mão dos homens o mundo servirá.
Em um velho estábulo, debruçado sobre um enorme monte de feno. Um monstro descansa, ferido, sequer vira a cabeça para seu algoz. As patas musculosas estão fracas, as asas escamosas não passam de membranas moribundas. O cavaleiro dá fim a agonia do monstro escamoso, e sai satisfeito em sua vitória, deixando outro cadáver que sonha com o passado. Afundados no feno e esquentados pelo corpanzil, abrem-se em rachaduras tímidas os ovos de um futuro ainda distante.