Silêncio e Madrugada
Silêncio e Madrugada eram dois amigos. Estavam sempre juntos, andavam pra lá e pra cá bem unidos. Às vezes, algumas tantas vezes, Silêncio deixava a Madrugada: eram horas agitadas, inquietas e alegres. A madrugada não agradava tanto de que ele sumisse naquelas horas. Nesses momentos, ela perguntava ao Silêncio o motivo do abandono. Discretamente, o Silêncio mudava de assunto e silenciava a conversa. A Madrugada insistia, sempre e sempre; e o silêncio nada dizia. Certa vez, passando por Ventos Fortes, a Madrugada chegou ao Silêncio e o colocou de vez contra a parede: ela queria que ele dissesse o motivo e, se não falasse, romperia sua amizade com o amigo. E assim se fez. A Madrugada rompeu sua relação com o silêncio e somente algumas vezes eles se encontrariam por aí... Já eu, que tenho profunda admiração por esses dois amigos, conheci o real motivo do Silêncio se afastar da amiga em certas horas: uma vez ele foi ao Templo do Sol e pediu ao Grande Dia para que não deixasse mais tão solitária a Madrugada. O Silêncio argumentou que durante a presença do Sol, muitas pessoas corriam, cantavam, e se divertiam todas acordadas. Mas, quando a Madrugada vinha, todos iam se deitar e ela ficava desacompanhada. O Grande Dia atendeu ao pedido do Silêncio e criou o trato da Grande Amizade: ele faria com que algumas pessoas ficassem acordadas junto da Madrugada. Algumas trabalhariam, outras cuidariam de filhos que chorariam, e outros até contemplariam a Madrugada com festas e luzes. Contudo, existia a condição de que o Silêncio deixasse a Madrugada em alguns momentos; e assim ela poderia ter novas companhias. Por fim, o Silêncio também nada poderia dizer à amiga sobre o trato com o Grande Dia. Mesmo de longe, o Silêncio até hoje observa a Madrugada. Ele a vê feliz e fica contente por isso, mesmo esse sendo o preço de uma Grande Amizade.