A Pedra do Eu
- Eu sou uma garota e não posso sair desacompanhada da aldeia, Mwathi - explicou Halima. - Então, quando você for para Kavu Vizuri, preciso que mande uma coisa muito especial por Wanjohi.
- Mas por que pelo Wanjohi? - Indagou o garoto. - Eu mesmo posso trazer, se não for algo muito pesado...
- Mwathi! - Exclamou Halima, olhos semicerrados. - Concentre-se! Você vai trocar de lugar com Wanjohi... você vai ser Wanjohi em Kavu Vizuri. E quando você... ou seja, Mwathi, voltar, quero que me traga uma pedra que achar interessante. Tem que ser algo lá de Kavu Vizuri, não daqui.
Mwathi a encarou de testa franzida, mãos erguidas e espalmadas.
- Eu vou para Kavu Vizuri, troco de lugar com Wanjohi. Ele veste as minhas roupas, eu as dele.
- Certo.
- E na volta, ele pega uma pedra e traz para você. Que tipo de pedra? Qual tamanho?
Halima olhou para o céu anil sobre as cabeças deles.
- Uma ágata azul... Kavu Vizuri é conhecido por suas minas de ágatas. Uma bem pequena servirá.
E perante o ar de perplexidade de Mwathi, acrescentou:
- Apenas dê o recado ao Wanjohi, ele saberá o que fazer.
* * *
Dois dias depois, Halima foi até o barranco do rio a cavaleiro do remanso onde as mulheres da aldeia lavavam roupa. Avistou um menino sentado ali, sozinho. A atitude parecia tanto ser a de Mwathi que ela ficou em dúvida se o seu plano havia dado certo.
- Mwathi? - Sussurrou, ao sentar-se ao lado dele.
- Sou o Wanjohi, Halima - sussurrou ele de volta, abrindo um sorriso.
- Você estava tão quieto que achei que fosse seu irmão - avaliou Halima. - Estou impressionada.
- Mwathi disse que ficou muito tempo sem falar depois que eu fui para Kavu Vizuri - comentou Wanjohi. - Então, eu tinha que fazer como ele...
- Muito bem - aprovou Halima. - Mas pode voltar a falar... você já viu o seu irmão, deve estar satisfeito.
- Sim, estou... Mwathi também. E eu trouxe uma coisa para você.
Abriu a cabaça que levava a tiracolo presa por uma tira de couro e virou o conteúdo na palma da mão esquerda. Uma pedrinha polida caiu nela.
- Era o que você queria, não é?
E colocou o seixo na mão de Halima, que o encarou fascinada.
- Isso mesmo, Wanjohi! Uma ágata azul! Muito obrigada!
Agora ela tinha a peça que representaria a si mesma no seu conjunto de ossos.
- [31-07-2020]