Irmandade de Sangue

Lúvel era um jovem esperançoso que havia perdido sua mãe e seu irmão na guerra. Sua mãe no meio de um ataque inimigo, seu irmão lutando como soldado nas linhas de frente.

Ele aprendeu o ofício de ferreiro com o pai, de modo que ambos foram mantidos dentro dos muros da cidade para fabricar armas para os soldados. O fazia a contragosto, ele havia alimentado forte desgosto pelas ações militares depois da morte da sua mãe, quando ainda era criança, e do seu irmão, já mais velho.

Nesse momento Lúvel possuía 23 anos e fazia parte dos Irmãos, um movimento de camponeses que buscava ajudar os que eram afetados pela guerra e visitava os campos de batalha para conferir se haviam pessoas vivas, cuidava delas e as ajudava caso precisassem, tanto emocionalmente quanto financeiramente.

Além disso os Irmãos faziam frente a abusos que presenciassem de soldados contra camponeses. A filosofia dos Irmãos quanto ao tratamento contra soldados era plural, mas Lúvel era contra todo tipo de ação violenta consistindo seus atos simplesmente em separar e afastar a vítima do agressor sempre que conseguia.

Isso rendeu a ele o respeito dos Irmãos, mesmo os que não concordavam com ele o respeitava e, como uma figura carismática, tornou-se proeminente entre os Irmãos e conhecido na comunidade por sua benevolência.

Apesar disso não era toda a comunidade que morria de amores por ele, um grupo significativo nutria profundo ódio, principalmente entre os militares; “É um desvirtuado que corrompe as massas e causa revoltas... Como se não bastasse, ainda ousa desafiar as ordens do monarca.” Diziam estes que o censuravam.

Durante um pronunciamento do Monarca houve uma confusão em que Lúvel foi morto com uma lança nas costas enquanto tentava levar um grupo de crianças pra longe. O efetivo assassino nunca foi descoberto ou declarou-se como tal, mas uma lança não se carrega no bolso e apenas um grupo as carregava naquele local.

Naquela noite houve uma cisão entre os Irmãos. Aqueles que defendiam que as ações de Lúvel deveriam ser honradas e reproduzidas e aqueles que acreditavam que sua morte era um ato simbólico de quebra das possibilidades diplomáticas com o poder.

Um grupo montou uma pira e a cobriu com um pano e a carregou até a praça do palácio durante a tarde do dia seguinte. Quando o pano foi retirado os olhos mais atentos puderam ver que sobre a pira estava o corpo de Lúvel. Os irmãos que carregaram a pira acenderam as tochas e jogaram-nas na madeira, consumindo-a e enquanto o fogo se alastrava pela pira um dos Irmãos subiu nela e gritou: “O sangue dos Irmãos foi derramado e sangue será cobrado por cada gota.” Conforme gritava essas palavras os soldados que montavam guarda na praça foram todos mortos por Irmãos.

A praça, que possuía um Sol no seu centro, ficou machada de sangue, ficando o dia conhecido como o dia do Sol vermelho e tão rápido quanto aconteceram os assassinatos, aconteceu a dispersão dos mais novos membros da Irmandade de Sangue. Assim diferenciaram-se dos Irmãos que acreditavam fielmente nos ideais de Lúvel e acreditavam que ações pacíficas eram a forma certa de fazer o que fosse.