O Fim da Molécula

Sou uma das incontáveis moléculas do composto F.O. (acrônimo de “fuel oil” - jargão em inglês comercial para o óleo combustível utilizado em motores de propulsão de navios mercantes). Nascida nas refinarias da PETROBRAS, ou similares, fui destinada a produzir trabalho através da combustão, reação química entre o oxigênio presente no ar, substância gasosa que os terráqueos respiram, eu e todas as minhas irmãs.

Quis o destino que eu fosse parar, e servir, num enorme veículo aquático que eles, os terráqueos, chamam de navio.

Quando lá cheguei, fui jogada num enorme compartimento denominado de “tanque de armazenamento”, e de lá, após esperarmos muito tempo, fomos transferidas para um local menor, denominado “tanque de sedimentação”.

Desse último, no tempo que eles acharam conveniente, fomos levadas para um outro local identificado como “tanque de serviço”, passando antes por outros três engenhos interessantes: um “filtro”, onde éramos separadas de outras substâncias cuja granulometria não era do interesse dos humanos; um “aquecedor”, onde ganhávamos sensível aumento de temperatura; e um “purificador”, onde, através do efeito dinâmico da centrifugação, éramos separadas da água e outras substâncias residuais da combustão.

Não foram todas que resistiram. Muitas de minhas irmãs ficaram presas na sujeira, outras perderam sua composição regular original.

Eu consegui chegar ao “tanque de serviço”, e, quando foi preciso, passei por outro “filtro” e outro “aquecedor”.

Agora, após ter passado por um outro artefato humano denominado de “bomba primária de recalque” e ganho relativo aumento de pressão, fui tri-filtrada e estou a caminho do que eles chamam de “bomba injetora”.

Nesse engenho humano, serei submetida à uma pressão formidável e através do “injetor” (é assim que eles dizem) serei comprimida para um espaço intitulado “câmara” onde, eu e todas as minhas irmãs que comigo estiverem seremos transformadas em...calor...e será o fim.

Mesmo sabendo próximo o fim, antes a morte com a consciência tranquila e o espírito vitorioso do dever cumprido no primeiro trajeto, que a humilhação e a insatisfação medonha da recirculação.