Caem as Trevas

Quando as tropas de Zadugan, tirano de Aphalyria, chegaram à ponte de pedra que era o principal ponto de travessia do rio que banhava Erekaster, o Ronane, o Manto de Trevas já havia caído sobre a capital de Erenid. Projetando-se dos muros da cidade, uma parede do que parecia ser fumaça escura dentro de uma garrafa subia reta para os céus acima, até onde a vista podia alcançar. Os bairros além dos muros e o porto haviam sido abandonados pelos moradores, os quais provavelmente haviam se abrigado dos invasores sob o Manto.

- Por um momento, achei que não teriam coragem de tomar essa decisão - comentou Brenna de Myenlane, que cavalgava ao lado do tirano numa égua cinzenta.

Haviam montado acampamento antes da ponte, na estrada que conduzia ao portão principal de Erekaster, enquanto patrulhas aphalyrianas vasculhavam as casas abandonadas do outro lado do rio, ver se alguém havia ficado para trás para emboscá-los. Ninguém foi encontrado, todavia.

- E como você usou sua magia para impedir que obtenham ajuda externo, creio que isso sela o destino de Erekaster - comentou Zadugan, apeando e ajudando a Guardiã a descer da montaria.

- A cidade ficará fechada até que você decida levantar o Manto e atacar - assegurou Brenna.

- Tenho certeza de que sim... mas não estou com pressa - arguiu Zadugan. - Esta noite, darei uma grande festa pela conquista de Erenid. Espero que me acompanhe.

- Naturalmente - acedeu a Guardiã.

* * *

Na manhã seguinte, quando Brenna acordou, com a cabeça rodando, descobriu que havia sido acorrentada num calabouço da guarda portuária de Erekaster, agora ocupada por uma guarnição aphalyriana. Obviamente, havia sido traída... mas por quê? A resposta não tardou muito. A porta da cela foi aberta por um guarda e o tirano passou por ela, com um sorriso sardônico no rosto.

- Lamento que as atuais acomodações não sejam do seu agrado - disse ele à guisa de introdução.

- Eu lhe servi fielmente... - protestou Brenna. - Por que não cumpriu sua parte no trato?

- Eu não negocio com desertores - retrucou friamente Zadugan. - Utilizo os seus serviços, e me livro deles. No seu caso, ainda pretendo mantê-la prisioneira por algum tempo, até me certificar de que não esconde qualquer informação útil.

- Você ficou louco! Sem mim não poderá desfazer o Manto de Trevas! Erekaster continuará protegida!

- Cheguei à conclusão de que não preciso de Erekaster - replicou Zadugan. - É apenas uma cidade, e eu já controlo todo o reino. Por maiores que sejam seus tesouros, não vale a pena perder meu tempo com ela... e ademais, desconfio que erguer o Manto é justamente o que vocês, Guardiãs, estão esperando. Portanto, não; grato pela ajuda até aqui.

E antes de sair, fez uma vênia irônica.

[Continua]

- [22-04-2020]